“Dias da Musica” no CCB e a viagem de Phileas Fogg

'Dias da Música', inspirados na volta ao mundo de Phileas Fogg, narrada por Júlio Verne, levaram ao CCB milhares de pessoas para assistirem aos 80 concertos. A próxima edição em 2017 terá por tema - Letras da Música.

Centro Cultural de Belém, Dias da Música
Centro Cultural de Belém, Dias da Música. Foto: Rosa Pinto

Objetivo determinado e desafio aceite. Phileas Fogg, cavalheiro inglês, parte para a grande aventura de dar a volta ao mundo em 80 dias, e conseguiu com sucesso, como relata Júlio Verne. Da mesma forma o Centro Cultural de Belém (CCB), inserido na 10ª edição dos Dias da Música, com o tema “Volta ao mundo em 80 concertos”, estabeleceu o objetivo e o público aceitou, e foi dar a volta ao mundo através da música, aqui em três dias, mas em 80 concertos.

Tal como Phileas Fogg também fomos acompanhados nesta aventura. A função da companhia não era a do francês Jean Passepartout, criado inseparável do cavalheiro inglês, mas a garantia de conseguir o objetivo de percorrer os espaços pela música sem nos perdermos pelos encantos dos sons, e chegarmos atrasados aos pontos de embarque.

O concerto de abertura foi o prelúdio. A Orquestra Sinfónica Metropolitana, dirigida por Pedro do Amaral, e com Josep Colom ao piano, levou-nos aos sons de Noches en los jardines de España, obra impressionista de Manuel de Falla.

Andámos por terras da Escócia com a Orquestra XXI, estivemos uma tarde num jardim persa onde a música e poesia iraniana se fundiram, pelo piano de Aida Sigharian Asi, o violoncelo de Nasin Saad e o kamancheh de Negar Kharkan. Fomos à Guiné-Bissau pela Kora de José Galissá, ouvimos o som profundo do Brasil pelo trompete de Gileno Santana e a guitarra de Tuniko Goulart e de outra América pela voz e guitarra de James “Blood” Ulmer.

Não fomos seguidos pelo detective Fix como foi Phileas Fogg mas partilhámos esta viagem com milhares de outros aventureiros (números do CCB indicam mais de 22 mil). Ficámos encantados com as canções de Goa, interpretadas pela soprano Verónica Milagres e meio-soprano Carolina Figueiredo e ao piano Carlos Garcia, e sem a necessidade de fazermos de morto, como Jean Passepartout para salvar Aouda, brindaram-nos com canções tradicionais portuguesas.

No coreto (foyer no piso 2 do CCB) ouvimos os violinos e violoncelos da Escola de Música do Colégio Moderno e seguimos para a Rússia Imperial, no grande auditório completamente cheio onde a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos com a direção de Jan Wierba e no violino Tatiana Samouil, trouxeram a Belém 8 canções populares russas de Anatol Lyadov, concerto para violino de Alexandre Glazunov e danças polovtsianas de Alexandre Borodin.

Como na viagem de Phileas Fogg, parte do percurso tem a companhia do detective Fix, da Aouda e do Jean Passepartout, aqui, esta possibilidade, para que todos pudéssemos terminar a viagem, foi dada pela RTP ao transmitir em direto o Concerto de Encerramento, “A viagem de Phileas Fogg”, pela Orquestra Sinfónica Metropolitana e Coro do Teatro Nacional de São Carlos, com direção musical de Domenico Longo e as vozes da soprano Cristiana Oliveira e meio-soprano Cátia Moreso.

Nos dias 22, 23 e 24 de abril embarcámos e seguimos na narrativa de Júlio Verne através da música. No próximo ano, nos dias 28,29 e 30 de abril de 2017, o CCB promete-nos uma viagem pelas “Letras da Música”. Esperamos não perder o lugar, para não termos, como Jean Passepartout, de trabalhar num circo e o acaso nos trazer o reencontro com Phileas Fogg para seguir viagem, ou os percalços com os índios Sioux para nos dificultem a tarefa.