Vírus Zika ameaça este verão o sul da Europa

Cientistas alertam que neste verão podem ocorrer surtos de vírus Zika no sul da Europa. As previsões estão baseadas num estudo científico, agora publicado, com o objetivo de auxiliar as entidades de saúde.

Joacim Rocklöv, Universidade de Umeå, na Suécia
Joacim Rocklöv, Universidade de Umeå, na Suécia. Foto: Mattias Pettersson, Universidade de Umeå

A população de mosquitos aedes que se encontra já estabelecida na Europa pode estender, neste verão, o vírus Zika a algumas regiões da Europa através da chegada de viajantes infetados.

Uma análise das temperaturas, da capacidade dos vetores (mosquitos), do número básico de reprodução e dos fluxos de viajantes por transporte aéreo, indica que as regiões do sul da Europa podem estar em risco de vir a ter surtos de Zika, entre junho e agosto.

Áreas de risco em agosto. Número de reprodução explica a taxa estimada de crescimento da epidemia de Zika. Em níveis inferiores a 1 a epidemia não cresce. Em valores mais elevados a epidemia cresce exponencialmente.
Áreas de risco em agosto. Número de reprodução explica a taxa estimada de crescimento da epidemia de Zika. Em níveis inferiores a 1 a epidemia não cresce. Em valores mais elevados a epidemia cresce exponencialmente. Infografia: EBioMedicine

O estudo que aponta para a possibilidade de surtos de Zika na Europa foi desenvolvido por investigadores da Universidade de Umeå, na Suécia, e encontra-se publicado na revista científica EBioMedicine.

Joacim Rocklöv, investigador da Unidade de Epidemiologia e Saúde Global da Universidade de Umeå, envolvido no estudo, disse: “Sabemos que os climas quentes criam as condições adequadas para que as doenças transmitidas por mosquitos se espalhem”.

“A capacidade dos vetores (mosquitos) depende de um número de parâmetros mas em geral, as temperaturas mais quentes aumentam a taxa com que os mosquitos fêmeas mordem, aumenta a reprodução de mosquitos infectados, e em consequência aumenta o risco de transmissão de vírus”, indicou o investigador.

Para o investigador o perigo de surtos de vírus Zika na Europa é real, referindo que a presença instalada de populações de mosquitos aedes, um clima quente e ao coincidir com um pico de fluxo de passageiros aéreos, é estabelecido um triângulo de fatores que faz do Sul da Europa um terreno fértil para o Zika”.

Na sequência de um estudo epidemiológico semelhante, realizado sobre o vírus do dengue, o grupo de investigadores liderado por Joacim Rocklöv, na Universidade de Umeå, usou um modelo de computador que permitiu prever os riscos de infeção do vírus Zika na Europa, com base na temperatura.

Na análise, os investigadores sobrepuseram dados sobre os fluxos mensais de passageiros de avião que chegam às cidades europeias provenientes de áreas afetadas com Zika, estimativas mensais das capacidades de reprodução de infeção pelo vírus de populações de mosquitos aedes na Europa, e dados sobre população humana dentro das áreas onde a transmissão do vírus Zika por mosquitos poderá ser possível.

Os principais resultados do estudo, que foi realizado em estreita colaboração com o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, e apresentados na EBioMedicine, são:

  • O risco de transmissão do vírus Zika por mosquitos é estimado para atingir o pico entre junho e agosto em regiões do sul da Europa;
  • O pico de fluxo de passageiros por via aérea a partir de regiões da América afetadas pelo vírus Zika coincide com o pico na capacidade dos mosquitos aedes transmitirem o vírus;
  • Os resultados podem ajudar as autoridades europeias de saúde pública a identificar os locais e as datas em que o risco de Zika é elevado.

Nesta avaliação dos riscos, os investigadores assumem que os mosquitos aedes europeus têm o mesmo potencial para espalhar o vírus Zika que os homólogos da América do Sul, do Centro e do Norte.

Investigações anteriores já tinham mostrado que o aumento da temperatura alarga a janela sazonal da Europa para a potencial propagação da doença viral transmitida por mosquitos e expande as áreas geográficas em risco de epidemias podendo incluir grandes regiões da Europa, refere nota da Universidade de Umeå.

A ameaça, a que se referem os investigadores, inclui vírus tropicais e subtropicais, como é o caso do vírus Zika e do vírus Dengue.

Os mosquitos aedes, os aedes aegypti e os aedes albopictus são em grande parte responsáveis ​​pela transmissão do vírus Zika. Todos estes mosquitos aedes tendem a tornar-se numa rede ‘elétrica’ cobrindo a Europa.

Historicamente, os mosquitos aedes estavam presentes em muitos países da Europa durante a primeira metade do século XX. O mosquito aedes aegypti foi recentemente documentado na Rússia e na Geórgia.

Os mosquitos aedes albopictus estão presentes em grande parte do sul da Europa, mas também vão até ao norte, encontrando-se presentes também na Holanda.

Áreas de risco de junho a agosto. Número de reprodução explica a taxa estimada de crescimento da epidemia de Zika. Em níveis inferiores a 1 a epidemia não cresce. Em valores mais elevados a epidemia cresce exponencialmente
Áreas de risco de junho a agosto. Número de reprodução explica a taxa estimada de crescimento da epidemia de Zika. Em níveis inferiores a 1 a epidemia não cresce. Em valores mais elevados a epidemia cresce exponencialmente. Infografia: EbioMedicine