A exposição ‘Al Final del Paraíso’ do artista mexicano Demián Flores é uma visão, do próprio, sobre a cultura mexicana do passado e do presente. O visitante logo na entrada da exposição apercebe-se estar perante uma forma de representação de conceitos e de recurso a suportes que dão dimensão para reflexão, nem sempre imediata.
Demián Flores usa “símbolos das culturas ameríndias pré-colombianas, que estão presentes no Códice Borbónico e combina-os com elementos da cultura visual contemporânea”, recorrendo a uma grande variedade de suportes e técnicas.
O artista faz uma incursão por alguns dos elementos históricos caraterizadores do processo da descoberta pelos europeus do continente americano e insere-lhe uma visão crítica à luz do conhecimento e pensamentos atuais sobre as transformações sociais e culturais.
Muita da descodificação da obra, que se encontra no Padrão dos Descobrimentos, até 2 de abril de 2017, é feita por Ana Gonçalves, Professora de História de Arte, de Teoria da Imagem e de Perceção Visual, que acompanha os visitantes aos domingos, em horários pré-definidos.
Ana Gonçalves descreve os conceitos históricos em que se insere a obra de Demián Flores, o percurso, as práticas e as técnicas usadas, mas sobretudo fala dos elementos visuais que o artista “propõe à reflexão”, e sobre “o olhar simultaneamente poético e político” que as obras induzem.
A exposição consiste num mural a preto e branco, intitulado ‘Al Final del Paraíso’ e gravuras das séries Antropofagia e El Buen Selvage, inspiradas na obra de Theodor de Bry (1528-1598). O artista espelha as duas visões lendárias ligadas ao período primeiro da presença dos colonizadores, a lenda Negra associada aos espanhóis e de que Bartolomeu de Las Casas se tornou principal denunciador e a lenda Branca.
Ana Gonçalves refere que o artista, na conceção da exposição no Padrão dos Descobrimentos “teve em conta o espaço, não só físico, mas também a história do lugar”, em que a preocupação com a componente politica não deixou o artista de estar atento à realidade atual. A colocação da exposição na cave do monumento reflete o que não se vê em contraponto com a imponência da torre claramente visível.
A historiadora fala dos elementos simbólicos, como a espiga de milho, símbolo providencial de alimentação e do abutre símbolo da morte, da putrefação e da decadência. O abutre como presságio.
No mural a serpente é um elemento presente que o artista usa como símbolo asteca associado ao rejuvenescimento, renovação, vida e à sabedoria, e outros simbolos como a planta de cannabis e a caveira, são explorados pelo artista num processo de diálogo entre o simbolismo de uma cultura e a mensagem contemporanea.
A exposição é um complexo jogo de diálogo lúdico com o visitante, e uma sátira que percorre o tempo, mas sobretudo uma critica que reflete também a presente globalização cheia de contradições, em que os povos são sujeitos a transformações de toda a natureza.
A exposição enquadra-se no calendário cultural de ‘Lisboa, Capital Ibero-americana de Cultura 2017 – Passado e Presente’, que vai estar patente no Padrão dos Descobrimentos, até 2 de abril. Uma exposição a não perder, e se possível em visita guiada por Ana Gonçalves.
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