Coleiras ‘ensinam’ cabras e ovelhas a comer apenas erva nas vinhas e pomares

Equipa de investigadores da Universidade de Aveiro desenvolveu uma coleira eletrónica para ovinos e caprinos que leva os animais a comerem apenas a erva numa vinha ou num pomar. Uma solução que favorece os solos evitando herbicidas.

Coleiras ‘ensinam’ cabras e ovelhas a comer apenas erva nas vinhas e pomares
Coleiras ‘ensinam’ cabras e ovelhas a comer apenas erva nas vinhas e pomares. Foto: DR

Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) encontrou a solução para dispensar o uso de herbicidas nas vinhas e pomares. A solução consiste no recurso a rebanhos de ovelhas e cabras que consomem as ervas e não interferem nos frutos e nas folhas das vinhas e das outras árvores de fruto.

Os investigadores desenvolveram uma coleira eletrónica que é colocada em cada um dos animais e que leva os animais a só consumam as ervas daninhas. O método permite que os rebanhos se alimentem e limpem as vinhas e os pomares evitando o recurso a herbicidas.

O novo método oferece grandes vantagens não só aos produtores como ao meio ambiente, dado que elimina o uso de herbicidas para queimar ervas infestantes, os terrenos deixam de ter a necessidade de serem arados várias vezes por ano e a fertilização dos solos passa a ser feita de forma natural.

A não utilização de herbicidas vai permitir evitar que os resíduos dos herbicidas possam contaminar os frutos e o vinho, bem como a diminuição do recurso a trabalhos de remoção das ervas por máquinas agrícolas permite poupar combustíveis, como o gasóleo.

Coleiras ‘ensinam’ cabras e ovelhas a comer apenas erva nas vinhas e pomares
Coleiras ‘ensinam’ cabras e ovelhas a comer apenas erva nas vinhas e pomares. Os investigadores José Pereira, Miguel Nóbrega, Pedro Gonçalves e Paulo Pedreiras. Foto: DR

A coleira eletrónica foi desenvolvida no âmbito do projeto SheepIT por docentes da Escola Superior de Tecnologia de Águeda, do Departamento de Electrónica Telecomunicações e Informática e do polo do Instituto de Telecomunicações (IT), da Universidade de Aveiro.

A coleira eletrónica acoplada ao pescoço dos animais tem como função a monitorização e condicionamento da respetiva postura corporal.

“A coleira emite um conjunto de avisos sonoros de forma a avisar o animal que excedeu a altura máxima calibrada. Os sons antecedem a emissão de estímulos electroestáticos que incomodam o animal sem lhes causar qualquer tipo de dor”, explicou Pedro Gonçalves, citado pela UA.

O coordenador do projeto SheepIT indicou que “ao fim de muito pouco tempo os animais começam a evitar a postura infratora quando ouvem o som” deixando as videiras e as árvores de fruto em paz e dedicando-se exclusivamente à pastagem do solo. A aprendizagem pelo animal é rápida e mantém-se mesmo ao longo de vários meses.

A coleira está integrada numa rede de sensores que permite a monitorização da atividade e a localização animal, assim como o envio dos dados agregados para uma aplicação residente na nuvem (cloud). Os dados permitem ajudar e prever, por exemplo, as necessidades de alimentação suplementar do animal, detetar doenças preventivamente, detetar cios e antecipar partos”.

Com a utilização de animais no controlo do crescimento vegetacional – tradicionalmente conhecida como monda animal, método bem conhecido na agricultura. A monda foi sendo abandonada devido ao surgimento de várias máquinas agrícolas e herbicidas, assim como pela perda de competitividade do setor pecuário.

Mas agora Pedro Gonçalves indicou que “com o aumento da preocupação ambiental e das necessidades das empresas vitícolas do Douro, onde a mecanização dos processos é muito difícil devido ao relevo, o interesse voltou a surgir” pela monda animal.

As coleiras já foram testadas na vinha da Escola Superior Agrária de Viseu e na vinha de Adriano Ramos Pinto, S.A., agora encontram-se em processo de industrialização a realizar pelo parceiro industrial do projeto, a GLOBALTRONIC, Eletrónica e Telecomunicações, S.A.

Os testes já realizados vieram “confirmar a eficiência do método de monda animal, mantendo a segurança das produções assim como o necessário bem-estar dos animais”, indicou o investigador Pedro Gonçalves, que no projeto é acompanhado por “um vasto grupo de investigadores da UA entre os quais José Pereira, Miguel Nóbrega e Paulo Pedreiras.”