Coronavírus de Wuhan: o que se sabe sobre o novo vírus

Epidemiologista e especialista em doenças infeciosas descreve o que atualmente se sabe sobre o novo coronavírus, com origem em Wuhan, na China. A especialista situa a origem do vírus, a propagação, o tratamento e sobretudo a prevenção.

Coronavírus de Wuhan: o que se sabe sobre o novo vírus
Coronavírus de Wuhan: o que se sabe sobre o novo vírus

O novo coronavírus, que provavelmente foi transmitido pela primeira vez a pessoas a partir de animais num mercado na cidade chinesa de Wuhan, está a fazer as manchetes internacionais à medida que investigadores de doenças trabalham para descobrir o que é este vírus, como é transmitido e qual o grau de mortalidade.

Emily Landon, professora associada da Universidade Médica de Chicago, epidemiologista e especialista em doenças infeciosas, tem trabalhado na preparação de resposta a surtos de todos os tipos de doenças, desde infeções por estafilococos até ao ébola, para além de cuidar dos doentes no centro médico académico em Chicago, aborda o novo coronavírus numa perspetiva do conhecimento existente, e descreve o que se sabe até agora sobre este novo vírus:

O que é um coronavírus? O que é um novo coronavírus?

Um coronavírus é o nome de uma família de vírus, incluindo alguns que podem causar as comuns constipações. O novo coronavírus significa que é um novo vírus que nunca foi observado antes e também é novo para os seres humanos. Provavelmente teve origem num animal (talvez numa cobra, de acordo com um recente estudo), mas desenvolveu algumas mutações que permitiram que tenha “pulado” para os seres humanos. Este vírus específico de Wuhan foi designado, pela Organização Mundial da Saúde, novo coronavírus de 2019 ou 2019-nCoV.

Onde e como começou o “ coronavírus de Wuhan começou?

Algumas semanas atrás, um conjunto de casos graves de pneumonia foram relatados na véspera de Ano Novo, em Wuhan, na província de Hubei, na China. Em 9 de janeiro, virologistas e outros investigadores de saúde pública identificaram a estirpe como um novo coronavírus, ligado a um “mercado húmido” específico na cidade de Wuhan, onde se vende peixe e outros animais vivos para consumo humano.

É conhecido que estes mercados transmitem vírus. Muitas pessoas interagindo com animais vivos, que são frequentemente abatidos no local, são o ambiente certo para os vírus passarem para os seres humanos. Às vezes, o vírus não se espalha entre as pessoas (como a “gripe aviária” do H5N1), mas outras vezes o vírus desenvolve a capacidade de se espalhar de pessoa para pessoa. Foi assim que o SARS, outro novo coronavírus, começou em 2003.

Como é que o coronavírus de Wuhan se espalha?

Até o momento, há informações limitadas sobre 2019-nCoV, incluindo sobre a facilidade de se espalhar e o seu grau de perigosidade. Mas é importante entender esses dois fatos para ajudar a determinar o grau de risco que representa este novo vírus. Até agora, já sabemos que o novo vírus pode ser transmitido de pessoa para pessoa e que provavelmente é transmitido por tosse e outro contato próximo.

Contato próximo é um termo vago que significa muitas coisas para diferentes pessoas. Mas, no caso de outros novos coronavírus, significa ficar a cerca de um metro e meio de alguém por um período prolongado, sem usar equipamento de proteção individual recomendado, como uma máscara facial descartável. Também poderá estar em contato direto com secreções infeciosas de alguém que tem um caso do vírus. Por exemplo, quando se toca com a mão numa superfície contaminada por tosse ou espirro de outra pessoa e depois com a mesma mão vai espalhar o vírus para o próprio rosto ou boca, mesmo sem perceber.

Isso pode parecer assustador, mas é importante saber que a gripe também é transmitida da mesma maneira. É um bom lembrete para garantir que lavemos as mãos com frequência, e cobrir o nariz e a boca quando espirramos e que nos devemos afastar das pessoas que estão a tossir. Uma atitude a ter: ficar em casa quando se está doente. Ninguém quer um novo coronavírus, gripe ou uma constipação.

Este coronavírus é mortal?

Os números estão a mudar rapidamente e ainda não temos uma imagem clara de quantas pessoas estão doentes ou quantas morreram. Até que tenhamos uma imagem mais clara dessas duas coisas, o “júri” ainda está fora. Dito isto, sabemos que pessoas morreram devido ao coronavírus. Com base nas informações existentes, é semelhante ao SARS de várias maneiras, exceto o facto de ser provavelmente menos mortal, mas mais transmissível.

O coronavírus de Wuhan já foi detetado fora China?

Sim. Até o momento, já foram relatados casos noutros países asiáticos e até nos EUA. É uma expetativa razoável que o número cresça em todo o mundo, devido em grande parte ao fato da China ser um país densamente povoado e há viagens massivas que estão a acontecer neste período das comemorações do Ano Novo Lunar.

Quais são os sintomas do vírus de Wuhan?

Ainda estamos a aprender sobre o novo coronavírus, mas sabemos que geralmente causa sintomas semelhantes aos da gripe, incluindo febre, tosse e dificuldade em respirar. Alguns pacientes, particularmente idosos e outros com outras condições crónicas de saúde, podem desenvolver uma doença mais grave como uma pneumonia mortal.

Qual o tratamento para o novo coronavírus? Há vacina?

Os antibióticos são desenvolvidos para matar bactérias, mas não vírus. Pelo que, normalmente os médicos podem tratar os sintomas, mas não o próprio vírus. Médicos e cientistas chineses estão a testar a eficácia dos medicamentos antivirais já existentes, mas a solução não parece ser realmente promissora. Ainda não há vacina, mas os cientistas também estão a trabalhar nesse campo. Infelizmente, uma vacina vai levar mais de um ano para se desenvolver. Enquanto isso, precisamos nos concentrar na prevenção da propagação da infeção e no apoio àqueles que ficam doentes.

Como é feito o rastreio das pessoas infetadas com o coronavírus?

Numa situação de sintomas respiratórios e febre é inquirido o paciente se viajou para a área afetada nas últimas duas semanas ou se esteve em contato próximo com alguém com um caso conhecido ou suspeito.

Os pacientes que responderem sim receberão imediatamente uma máscara facial e serão colocados em uma sala de isolamento, com pressão negativa para que os germes transportados pelo ar não saiam da sala. Em seguida, são desenvolvidos testes para o vírus específico. O tempo de resposta nesses testes de laboratório é de cerca de quatro dias, e durante esse tempo as pessoas vão permanecer isoladas até serem libertadas.

As equipas clínicas vão seguir os protocolos padrão de controlo de infeções. Médicos, enfermeiros e outras equipas clínicas vão usar equipamentos como batas, luvas, máscaras e protetores oculares, ou seja, os mesmos recursos que são usados para uma pessoa com gripe e que foram seguidos durante os surtos de SARS e MERS. Também se recomenda a todos para lavar as mãos regularmente e evitar tocar no rosto, que é uma boa prática em qualquer época do ano, mas especialmente durante a temporada de gripe.

O que fazer se considerar que está infetado?

Se não esteve na região afetada e não esteve perto de alguém que está doente, provavelmente está bem. Janeiro e fevereiro são meses difíceis para todos os tipos de doenças respiratórias, porque as constipações e as gripe são comuns. Dito isto, então devem ser seguidas as recomendações das organizações de saúde, entrando em contato com seu médico imediatamente e recorra a uma máscara facial para ajudar a limitar a propagação de qualquer vírus.

É importante usar uma máscara facial num aeroporto?

Usar uma máscara facial é uma maneira de ajudar a proteger-se durante qualquer tipo de surto respiratório, e num aeroporto as pessoas estão em trânsito, podendo algumas serem provenientes de regiões infetadas. No entanto, é muito importante que lave as mãos, evite tocar no rosto, e lavar as mãos sempre que tocar na parte externa da máscara, pois também pode estar contaminada.