Deficiência de ferro afeta cerca de 32% dos portugueses

Portugal continua à espera de estratégia nacional para prevenir e tratar a anemia. Anemia Working Group Portugal assinala Dia da Anemia, 26 de novembro, e alerta para a necessidade de sensibilização para as patologias ferropénia e de anemia.

Deficiência de ferro afeta cerca de 32% dos portugueses
Deficiência de ferro afeta cerca de 32% dos portugueses. Foto: © Rosa Pinto

Em Portugal há uma prevalência de pessoas que sofrem de ferropénia e de anemia. O maior grupo de risco são as mulheres em idade fértil, que pelas perdas hemáticas mensais, perdem ferro, sendo necessário a sua reposição.

O principal sintoma destas patologias é a fadiga, mas devido todas as responsabilidades laborais, familiares e domésticas, os sintomas são desvalorizados e muitas vezes não procurarem ajuda clínica. Outro dos sintomas é a perda de cabelo e unhas quebradiças.

Os doentes com insuficiência cardíaca, insuficiência renal, grávidas e doentes oncológicos são grupos de risco.

Para a Anemia Working Group Portugal (AWGP) a resolução da Assembleia da República que recomenda ao Governo para instituir o Dia Nacional da Anemia e criar uma estratégia nacional para a prevenção e tratamento da anemia é um grande avanço para a população portuguesa.

A ferropénia e anemia são diferentes, ainda que partilhem uma ligação forte. “A ferropénia traduz a diminuição do ferro disponível no nosso organismo, para integrar a hemoglobina. Estando, por esta razão, reduzida a hemoglobina nos glóbulos vermelhos, estamos perante a existência de anemia”, esclareceu João Mairos, presidente do Anemia Working Group Portugal.

A consequência de uma ferropénia por tratar “implica menor disponibilidade de captação de oxigénio pelos glóbulos vermelhos e menor disponibilidade de energia para as funções do organismo. Por isso, a ferropénia está associada globalmente a sensação de fadiga, de fraqueza, de dificuldade de concentração, por vezes pode ser confundida com estado depressivo. Na gravidez, está associada ao parto pré-termo, ao baixo peso ao nascer e a maior mortalidade peri-natal. Está também associada ao agravamento da condição clínica dos doentes com insuficiência cardíaca, insuficiência renal e doença oncológica”, esclareceu o especialista.

Para o presidente do AWGP “é preocupação atual o nível de literacia em Saúde dos portugueses. As pessoas têm acesso ilimitado à informação, sobretudo através da internet, mas nem sempre estão capacitadas para diferenciar a credibilidade das fontes de informação e não entendem o peso relativo dos assuntos. Para isso, é necessário atuar nas escolas com programas de literacia, o que leva tempo.”

O Patient Blood Management (PBM) que está intimamente ligado ao tratamento da anemia tem vindo se implementado em Portugal e de acordo com a Organização Mundial da Saúde, trata-se de “uma abordagem sistematizada, baseada em evidências e focalizada no doente, de forma a otimizar a gestão da transfusão, com o objetivo de garantir um tratamento eficaz e de qualidade, assegurando os melhores cuidados de saúde em termos de segurança e eficiência. Não sendo fácil de explicar o conceito, poder-se-á afirmar que consiste em considerar o sangue de cada um de nós como um tesouro único e tomar uma série de ações clínicas e organizacionais para o preservar como primeira prioridade, evitando o recurso à transfusão”.

A respeito à anemia, o especialista referiu que “os doentes que sofrem de anemia e/ou de ferropénia estão mais sujeitos ao risco transfusional, impera, pois, tratar a anemia, a ferropénia e as suas causas subjacentes, como uma prioridade para o doente, respeitando assim o conceito de PBM”.

João Mairos explicou: “Aos importantíssimos ganhos clínicos obtidos com o PBM, surgem associados ganhos económicos muito significativos. Um programa de PBM implementado na Austrália, entre 2008 e 2014, gerou uma poupança ao sistema de saúde na ordem dos 18,5 milhões de dólares só no que respeita a produtos do sangue e globalmente na ordem dos 80 a 100 milhões de dólares. Em Portugal, as estimativas apontam para uma poupança de 67,7 milhões de euros num ano.”

Atualmente já existem em Portugal programas que estão em curso mas “há ainda muito para fazer, sobretudo consciencializar, de forma eficaz, todos os atores envolvidos (onde se incluem os profissionais de saúde) para a necessidade de implementar o PBM”. Um trabalho que é “simultaneamente uma obrigação clínica, ética e económica”.

No momento em que assinala o Dia da Anemia, 26 de novembro, o AWGP em colaboração com a Federação Portuguesa de Futebol, realiza no dia 26 de novembro, rastreios junto da Seleção Nacional A de futebol Feminino.