Desequilíbrio da microbiota intestinal leva a COVID-19 mais severa

Pessoas com desequilíbrio da microbiota intestinal correm risco de sofrer de COVID-19 severa. Estudo liderado pela investigadora Conceição Calhau conclui que uma fraca diversidade de bactérias no intestino diminui a imunidade e aumenta gravidade da COVID-19.

Desequilíbrio da microbiota intestinal leva a COVID-19 mais severa
Desequilíbrio da microbiota intestinal leva a COVID-19 mais severa - Investigadora Conceição Calhau Foto: DR

A COVID-19 é mais severa nas pessoas que apresentam desequilíbrio da microbiota (flora) intestinal. A conclusão é de um estudo português coordenado pela investigadora e professora Conceição Calhau da NOVA Medical School e investigadora do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde.

“O desequilíbrio da microbiota intestinal é um dos fatores de risco para a gravidade da doença. E isso explica-se pelo facto de este desequilíbrio envolver menor diversidade de bactérias, menor presença de bactérias benéficas e, por consequência, impacto negativo na imunidade, no processo inflamatório, entre outras consequências metabólicas”, explicou Conceição Calhau.

A investigadora esclareceu que o sistema imunitário é modulado pela microbiota intestinal, e que esta tem um papel determinante na saúde e particularmente no sistema imunológico e acrescentou: “Cerca de 70% das células produtoras de anticorpos residem no nosso intestino”.

O estudo “Gut microbiota, Spark and Flame of COVID-19 Disease“, financiado pela Biocodex e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), é o primeiro realizado na Europa sobre o impacto da microbiota intestinal na severidade da COVID-19. Um estudo que envolveu 115 portugueses com diagnóstico da doença em diversos hospitais de norte a sul do país, entre abril e julho de 2020.

A investigadora considera que esta investigação pode abrir caminho a novos estudos que impulsionem “novas intervenções médicas direcionadas à microbiota intestinal contra este tipo de vírus, por exemplo, com prebióticos e/ou probióticos associados a outras intervenções farmacológicas COVID-19 em desenvolvimento”.

“Mais importante ainda, fica reforçada a importância de cuidar da microbiota intestinal prevenindo os piores cenários quando acontecem ameaças como esta!” Um alerta e um conselho de Conceição Calhau.

O estudo abrangeu doentes de COVID-19 com mais de 18 anos tratados no Serviço de Medicina Interna do Hospital São Sebastião (Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga), no Serviço de Cuidados Intensivos Polivalente do Hospital Curry Cabral (Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central), no Serviço de Atendimento Permanente do Hospital CUF Infante Santo, em Lisboa, na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente do Hospital de São Francisco Xavier (Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental) e na Unidade de Cuidados Intensivos do Centro Hospitalar Universitário de São João.

A investigação contou com o envolvimento de uma equipa de investigadores associados ao Centro laboratorial Germano de Sousa. Um trabalho que permitiu explorar as bactérias (espécie, género ou filo) que podem estar representadas nos doentes infetados, em menor ou maior quantidade, tendo sido analisado o perfil da microbiota em diferentes estados de doença: doença leve (autoisolamento em casa); doença grave (isolamento no quarto do hospital) e pacientes críticos (Unidade de Cuidados Intensivos hospitalar).