Dispositivos eletrónicos causam deficiências visuais nas crianças

Quando se assinala o Dia Mundial da Visão, 14 de outubro, a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra alerta que o atual uso excessivo dos ecrãs dos dispositivos eletrónicos está a aumentar a miopia nas crianças. Em 2050, metade da população irá sofrer de miopia.

Dispositivos eletrónicos causam deficiências visuais nas crianças
Dispositivos eletrónicos causam deficiências visuais nas crianças. Foto: © Rosa Pinto

Há uma excessiva exposição das crianças a dispositivos eletrónicos alerta a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Ao assinalar o Dia Mundial da Visão, a 14 de outubro, a Faculdade lembra que 80% de todas as causas de deficiência visual são evitáveis ou podem ser tratáveis mediante prevenção adequada.

“Passar mais tempo em casa tem sido, para muitas crianças, sinónimo de estar mais tempo em frente ao ecrã. Cada vez mais cedo têm o primeiro contacto com dispositivos eletrónicos como telemóveis, computadores, tablets e televisões. Esta situação, que se agravou devido às recomendações de distanciamento físico, ajudou a encurtar distâncias entre amigos e familiares. Muito se tem estudado sobre os riscos para a saúde associados à pandemia. Os problemas oculares são um deles e não devem ser negligenciados, especialmente em crianças”, refere Maria João Quadrado, Médica Oftalmologista e Professora da Faculdade de Medicina de Coimbra, citada em comunicado.

A especialista de oftalmologia acrescentou: “A nossa visão possui um mecanismo a que chamamos acomodação e que nos permite reconhecer objetos a mais de seis metros e, em poucos segundos, conseguir focar com nitidez objetos mais próximos. Esse ajuste do foco é feito com a contração do músculo ciliar. O excesso de esforço para esse ajuste poderá constituiu um fator de risco para o aumento da incidência da miopia”.

“Em 2050, 50% das pessoas em todo o mundo serão míopes”

Joaquim Murta, Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e Diretor do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, referiu, também citado em comunicado, que “a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que nas próximas décadas poderá ocorrer um crescimento da incidência de miopia. Em 2050, 50% das pessoas em todo o mundo serão míopes, ou seja, uma em cada duas pessoas vão sofrer desta doença (5 biliões) e cerca de 1 bilião sofrerá de miopia elevada, com todas as complicações que daqui resultam. Trata-se de uma verdadeira “pandemia” que cresce a nível global.”

Sobre o impacto da pandemia nos tratamentos de saúde o especialista revelou que “houve uma enorme quebra nos cuidados de saúde. Temos realizado um enorme esforço a tentar compensar este deficit, com trabalho adicional e com teleconsultas”.

“A cada cinco segundos, há uma pessoa que cega no mundo”

Dados da OMS indicam que a cada cinco segundos, há uma pessoa que cega no mundo, e que 80 % de todas as causas de deficiência visual são evitáveis ou podem ser tratadas mediante prevenção adequada.

Para Joaquim Murta, o único oftalmologista português a integrar a Academia Ophthalmologica Internationalis (AOI), “muitas das doenças são silenciosas. Existem agora tratamentos, que não havia outrora, que possibilitam evitar e tratar situações que poderão tornar-se irreversíveis, com todas as consequências sociais e financeiras associadas. Em termos de meios técnicos e humanos, existem em Portugal centros de excelência no tratamento de doenças oculares, assim como um número de Oftalmologistas acima da média europeia. É obrigatório que os Portugueses previnam e tratem as doenças oculares.”

A Faculdade de Medicina indicou que o Relatório Mundial da Visão, recentemente divulgado, deixa também o alerta: a procura global por cuidados oftalmológicos deve aumentar nos próximos anos não só devido ao crescimento e envelhecimento como também devido a mudanças no estilo de vida. Os especialistas defendem que nas próximas décadas poderão aumentar drasticamente o número de pessoas com doenças oculares, deficiência visual e cegueira.