Fumadores jovens devem fazer espirometrias para deteção precoce de DPOC

Fundação Portuguesa do Pulmão quer todos os fumadores jovens a fazer espirometrias para um diagnóstico precoce da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC). Um alerta que assinala o Dia Mundial sem Tabaco.

Fumadores jovens devem fazer espirometrias para deteção precoce de DPOC
Fumadores jovens devem fazer espirometrias para deteção precoce de DPOC. Foto: Rosa Pinto

A espirometria é um exame importante, como a medição da tensão arterial para quem sofre de hipertensão ou da glicemia para os diabéticos. Mas as espirometrias só são acessíveis a alguns, mesmo sabendo-se que conseguem dar “uma ideia assertiva da qualidade da saúde dos pulmões”, e que são essenciais para o diagnóstico da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC).

A Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP) aproveita o Dia Mundial sem Tabaco, que se assinala a 31 de maio, para reforçar que é necessário que se façam mais de exames de espirometria, tornando-os “mais democráticos, e espalhado pelo País” e acessível aos fumadores, sobretudo aos mais jovens e até os mais recentes.

Nesta luta a FPP quer dar a sua ajuda e por isso “é preciso insistir no diagnóstico precoce e no ensino da população”, indicou José Alves, presidente da FPP. O especialista não concorda que as espirometrias aos fumadores sejam realizadas apenas a partir dos 40 anos, como definem as guidelines nacionais.

A importância da espirometria em fumadores jovens

O especialista indicou: “Se esperarmos pelos 40, pode haver uma perda de função respiratória que já não é recuperável,” até porque, acrescentou: “Só se nota uma perda da função respiratória quando está nos 60%, e por isso, é preciso intervir nos fumadores e a FPP pretende, juntamente com as farmácias, fazer uma campanha nacional para a realização de espirometrias aos fumadores, sobretudo os mais jovens”.

Paula Pinto, pneumologista, explicou que a espirometria é “um exame não doloroso” e que “mede a quantidade de ar que uma pessoa é capaz de inspirar ou expirar cada vez que respira, ou seja, a quantidade de ar que um indivíduo é capaz de colocar para dentro e para fora dos pulmões e a velocidade com que o faz”, concordando que “devem ser efetuados todos os esforços para aumentar a acessibilidade à espirometria nos diversos níveis de saúde”.

A realização do exame envolve um técnico especializado e um médico, a quem cabe a leitura do resultado. Mas José Alves considera que a democratização das espirometrias é exequível, através de programação e organização.

“Marca-se um dia e faz-se, nesse mesmo dia em que o técnico se desloca às farmácias, uma série de exames, que depois o médico vai poder avaliar.” Gastos que, com a deteção precoce, se transformam numa “poupança enorme. Não estamos a querer tirar o protagonismo ao Serviço Nacional de Saúde, a quem cabe a realização destes exames. Mas a disponibilizarmo-nos para o fazer a quem não tem acesso fácil e rápido. É esse o nosso objetivo”, esclareceu José Alves.

Os sintomas da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)

A DPOC é uma doença que afeta o sistema respiratório, “causando obstrução das vias aéreas, sendo a sua principal causa o tabagismo”, explicou Paula Pinto. “Esta doença tem um forte impacto na vida das pessoas e no Sistema Nacional de Saúde”.

Os sintomas apresentam-se como “cansaço, que vai aumentando progressivamente e provoca uma adaptação sucessiva dos doentes às limitações crescentes. No dia-a-dia, não conseguir acompanhar ‘o passo’ de outras pessoas da mesma idade. Outro exemplo “é a sensação de cansaço em tarefas simples, como ir às compras ou subir escadas, precisando de parar mais frequentemente do que outras pessoas para recuperar”.

Trata-se de uma doença que, de acordo com dados recentes, atinge cerca de 14% da população portuguesa com mais de 45 anos “e está ainda subdiagnosticada. Atualmente é estimado que a nível mundial 250 milhões de pessoas sofram de DPOC, prevendo-se que, em 2030, a DPOC seja a terceira causa de morte”.

A doença instala-se progressivamente e “afeta maioritariamente fumadores ou ex-fumadores”, pelo que “a procura de ajuda junto do médico é tardia e numa fase em que os sintomas já são muito limitantes. Muitas vezes, a ida ao médico só acontece porque o doente teve um episódio de agravamento que obrigou a uma ida ao hospital em episódio de urgência, que sendo suficientemente grave pode inclusivamente levar a um internamento (estes casos são classificados como agudizações). O sentimento de culpa associado a esta doença também motiva algum afastamento dos doentes da procura do seu médico, pois consideram os sintomas uma consequência natural de fumarem”, referiu a especialista Paula Pinto.

Assinalando o Dia Mundial sem Tabaco, a especialista reforçou que a “principal prevenção da DPOC passa pela evicção tabágica. Se é ou foi fumador e tem queixas, como falta de ar, cansa-se mais do que as pessoas da sua idade, tem tosse ou expetoração deverá consultar o seu médico para efetuar uma espirometria, uma vez que o tratamento precoce desta doença se traduz numa maior qualidade de vida, bem como num aumento da sobrevida”.