Milhões de borboletas e traças vão ser digitalizadas

Digitalização de coleções de milhões de borboletas e traças vai permitir estudar as mudanças climáticas, os habitats naturais e as pragas agrícolas. O projeto é liderado pelo Museu Georgia de História Natural, nos EUA.

Milhões de borboletas e traças vão ser digitalizadas
Milhões de borboletas e traças vão ser digitalizadas. Foto: © UGA

Investigadores do Museu Georgia de História Natural da Universidade de Georgia vão digitalizar cerca de 2,1 milhões de espécimes da ordem de insetos Lepidoptera, que inclui borboletas e traças, e tornar as imagens e informação disponíveis, possibilitando aos cientistas estudarem o clima, os habitats naturais e as pragas agrícolas.

Os investigadores consideram que estes espécimes de insetos vão permitir contar a história das mudanças climáticas, dos movimentos dos animais e da mudança da fauna.

Joe McHugh, curador da coleção de artrópodes do Museu Georgia de História Natural da Universidade da Georgia e professor de entomologia, vai liderar o processo de digitalização financiado pela Fundação Nacional da Ciência dos Estados Unidos da América.

Quando o projeto designado por ‘LepNet’ for concluído, constituirá uma das maiores bases de dados sobre insetos até agora existentes, e irá abrir séculos de investigação científica para uma nova análise de dados. Este projeto também pode vir a definir uma estrutura que outros museus poderão seguir.

“As pessoas não querem passar cinco anos a visitar coleções de insetos em museus e a transcrever dados de pequenas etiquetas apenas para poderem compreender a biologia e distribuição de uma espécie”, disse Joe McHugh. “Os investigadores querem abordar questões concretas através da web e aceder à informação relevante num formato padrão para a poder analisar”.

Os cientistas têm vindo a recolher e organizar amostras de insetos desde tempos anteriores ao Iluminismo, e museus de todo o mundo têm coleções que datam de 300 anos. Museus na América do Norte possuem cerca de 250 milhões de espécimes de insetos originários de todo o mundo.

A maioria das amostras existentes possuem também informação detalhada sobre a captura: data e a hora do dia em que foram encontradas, dados climáticos, localização geográfica, plantas que eram usadas como alimento, a condição do inseto e se havia outros insetos ao redor. Cada ‘entrada’ (registo) representa um conjunto de dados, que agora pode ser usado para construir uma compreensão mais clara da biologia da espécie e de como as populações se movem e mudam, e porquê.

“Podemos perguntar: Onde é que esta espécie vive agora? Onde estava há 10 anos? Onde é que a espécie viveu num passado distante?”, referiu Joe McHugh. “Nós podemos usar a informação para abordarmos questões sobre as alterações climáticas ou o impacto humano sobre ambientes e ver como, ao longo do tempo, as espécies de insetos mudaram”.

“Os Investigadores também podem construir modelos que projetem quando e onde os determinados insetos, como lagartas devoradoras de culturas, podem aparecer, permitindo que os agricultores se preparem para a chegada de uma espécie”, indicou Joe McHugh.

Com base na informação do projeto ‘LepNet’ e “camadas de informações sobre o clima, sobre o solo e sobre plantas hospedeiras, é possível, em muitos casos, prever com bastante precisão, onde irá viver uma espécie, mesmo que nunca tenha sido recolhida no local”, acrescentou o curador. “Dados de várias fontes podem indicar que num local existem as condições adequadas para uma espécie em particular poder viver”.

Atualmente não é possível gerar estes tipos de modelos porque só uma pequena parte das coleções de insetos existentes em museus de todo o mundo foram digitalizadas, e o que foi feito não teve uma continuidade assegurada.

O Museu Georgia de História Natural da Universidade de Georgia possui uma coleção de vespas parasitoides digitalizada, mas durante muitos anos a digitalização não foi abrangente e a comunidade científica não tinha um formato padronizado de registo. Nos últimos anos, no entanto, foram feitos grandes progressos para desenvolver padrões universais para a digitalização de espécimes em museu, indicou o curador.

O LepNet é, até à data, o maior projeto de digitalização do género e os investigadores consideram que vai ser possível refinar o processo.

As borboletas e as traças não são o objeto principal de investigação de Joe McHugh. A equipa de investigadores estuda besouros, mas escolheu a Lepidoptera para iniciar o projeto de digitalização porque inclui muitas das principais pragas e algumas espécies benéficas. Além disso, cientistas e naturalistas têm vindo a recolher amostras ao longo de centenas de anos. Há mais de 15 milhões de exemplares só em museus na América do Norte.

Por outro lado “a Lepidoptera oferece uma grande taxa de identificação”, podendo facilmente serem identificadas mais de 50% de espécies de borboletas com base apenas num livro de imagens”.

Para além de vários dados pesquisáveis, o ‘LepNet’ irá incluir 95 mil imagens em alta qualidade que representam 60% das espécies de Lepidoptera da América do Norte. E uma aplicação de software designada por ‘LepSnap’ de reconhecimento de imagens pode vir a ser usada para identificar borboletas e traças.

O projeto de digitalização vai envolver investigadores por toda a América do Norte, e irá ter início em 29 grandes coleções de insetos. Além da coleção de artrópodes do Museu Georgia de História Natural, são vários os museus e as instituições participantes no projeto.