Portugueses acedem em excesso aos serviços de urgência

Sociedade Portuguesa de Medicina Interna alerta que o excesso de acesso aos serviços de urgência é motivado pela falta de capacidade resolutiva dos cuidados primários, e de alternativas ao internamento hospitalar.

Ambulâncias, transporte de doentes
Ambulâncias, transporte de doentes. Foto: Rosa Pinto

O Dia Mundial do Doente é assinalado a 11 de fevereiro, uma ocasião que leva a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) a alertar, em comunicado, para a problemática do excesso de recurso da população aos serviços de urgências.

Luís Campos, presidente da SPMI, citado em comunicado, refere: “Somos o país em que os cidadãos mais recorrem às urgências hospitalares. Cerca de sete em cada dez portugueses recorre a estes serviços, enquanto a média europeia é menos de metade deste valor”.

Para presidente da SPMI cerca de metade dos doentes que acedem às urgências “poderia ter resposta fora das urgências” hospitalares. “Existe uma necessidade de diminuir os doentes nos serviços de urgência, mas para o conseguir é necessário ter noção da complexidade do problema”, referiu o especialista.

A SPMI refere, no comunicado, que a culpa do excesso de recurso às urgências é normalmente atribuída à falta de médicos de família, no entanto isso é paradoxal porque Portugal é um dos países europeus com um maior rácio de médicos de família por mil habitantes.

O acesso, para a SPMI, não parece como um fator determinante porque as regiões onde existem mais Unidades de Saúde Familiares, onde os doentes têm melhor acesso ao seu médico de família, não existem menos admissões nas urgências.

Com base nas premissas apresentadas pela SPMI, “pode-se depreender que uma das causas é falta de capacidade resolutiva dos cuidados primários”. Luís Campos refere “que inquéritos concluem que os doentes procuram as urgências porque têm exames complementares, porque têm especialistas, pela proximidade, porque estão abertas 24 horas e porque confiam mais nos hospitais”.

Mas para a SPMI “os hospitais também têm alguma quota de responsabilidade, pois poderiam criar mais alternativas para os doentes agudos não-urgentes, dentro dos próprios hospitais, como estipularem vagas nas consultas para doentes não programados ou investirem mais nos hospitais de dia”.

A questão parece ter uma maior abrangência pois “é preciso olhar para um grupo particular de doentes que são os grandes utilizadores das urgências mas também de todos os recursos na saúde, que são os doentes idosos, frágeis com polipatologia, doentes que são complexos, descompensam facilmente, e têm sido tratados de uma forma fragmentada, reativa, episódica e através das urgências”.

O presidente da SPMI sublinha que “se quisermos reduzir o recurso às urgências temos que aumentar a capacidade resolutiva dos cuidados primários, criar alternativas para os doentes agudos nos próprios hospitais, consciencializar os cidadãos para uma melhor utilização dos recursos em saúde e implementar programas que promovam uma resposta proativa, preventiva e de cuidados integrados, através de equipas que envolvam internistas, médicos de família e outras profissões, de forma a retirar os doentes das urgências”.

Os especialistas da SPMI consideram que “estes programas teriam também a vantagem de diminuir os internamentos e isso é um objetivo prioritário porque o internamento hospitalar tem riscos acrescidos, como é o caso da infeção hospitalar, representa mais custos e seria uma forma de compensar o escasso número de camas em hospitais de agudos que Portugal apresenta em comparação com o resto da Europa”.

Para além dos programas de resposta proactiva “deveriam criar-se alternativas ao internamento, em Centros de Medicina Ambulatória, que integrassem os hospitais de dia, programas de hospitalização domiciliária, unidades de diagnóstico rápido e os referidos programas de cuidados integrados”.

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna indica estar “empenhada na implementação de formas inovadoras de cuidados que sejam melhores para os doentes e contribuam para sustentabilidade do sistema de saúde”.