Prevenção da infertilidade com o auxílio de vídeos

Equipa multidisciplinar de investigadores da Universidade do Porto estuda processos para melhorar a prevenção da infertilidade. Os investigadores desenvolveram dois vídeos com o objetivo de aumentar a literacia em fertilidade.

Prevenção da infertilidade com o auxílio de vídeos
Prevenção da infertilidade com o auxílio de vídeos. Foto: DR

A taxa de natalidade dos portugueses atingiu recentemente mínimos históricos co valores que colocam o país na cauda da Europa. Uma situação que levou investigadores e docentes da Universidade do Porto a desenvolver dois curtos vídeos para contribuir para o aumento da literacia em fertilidade.

Fazem parte da equipa envolvida no projeto Mariana Martins, Juliana Pedro, Maria Emília Costa da Faculdade de Psicologia, Alberto Barros e Pedro Xavier da Faculdades de Medicina e Vasco Almeida da Faculdade de Ciências. Os vídeos podem agora ser visionados no website da Biblioteca de Literacia em Saúde no SNS.

Para Pedro Xavier, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução, este é apenas um passo para aumentar o conhecimento na população sobre infertilidade e o envolvimento dos profissionais de saúde reprodutiva na prevenção é crucial.

Os investigadores estão a levar a cabo testes dos vídeos em ensaios randomizados controlados há mais de um ano, nos testes estão envolvidos mais de uma centena de casais, mas a equipa pretende envolver mais casais voluntários. Neste caso os interessados, em fazer parte do ensaio de forma voluntária, podem inscrever-se acedendo para o efeito à página de facebook de ‘Casais e famílias em construção’.

Na sequência de uma revisão sistemática já publicada pela equipa no Upsala Journal of Medical Sciences, e que aponta para a importância de informação personalizada no domínio da fertilidade/infertilidade, a equipa de investigação desenvolveu um vídeo informativo que permite transmitir conhecimento sobre as principais causas de infertilidade e quais os comportamentos preventivos que podem adotar. O vídeo é sobretudo destinado a jovens casais e mulheres que consideram poder vir a terem filhos, no futuro

O aumento da idade materna aparece como a principal causa de problemas ao nível da conceção espontânea, não esquecendo que há também evidência recente da influência da idade paterna, lembram os investigadores, por isso “é importante que os jovens casais reflitam sobre como priorizar a transição para a parentalidade quando estão a pesar todos os outros fatores na balança como a carreira, formação e estabilidade económica”, indicou Juliana Pedro, citada em comunicado.

“Não temos a pretensão que as pessoas comecem a ter mais filhos e mais cedo, mas que apenas estejam conscientemente informados acerca da idade ideal na qual devem começar a planear uma família – por exemplo, sabemos hoje que se a família pretendida contemplar um filho, a idade máxima da mãe recomendada para engravidar deve ser 32 anos, e no caso de serem desejados dois filhos não deve ultrapassar os 27”, acrescentou a especialista.

Um segundo vídeo desenvolvido pela equipa é dirigido aos casais que estão a tentar conceber um filho, e neste caso dando informação que vai no sentido de detetar o melhor momento conducente a uma gravidez espontânea enquanto se enfrenta o stress relacional inerente a vários meses de tentativas falhadas.

“O planeamento familiar em Portugal infelizmente ainda não contempla informação sobre como planear uma família, consiste na maioria dos casos em informar e prescrever no sentido de evitar uma gravidez”, afirmou Mariana Martins, coordenadora da secção de Psicologia da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia.

Mariana Martins referiu: “Num estudo anterior reunimos evidência de que a população jovem mantém expetativas elevadas acerca da facilidade de procriar, quer seja espontaneamente, quer com recurso às técnicas de reprodução assistida”.

Os dados do estudo revelam que os jovens adultos acreditam que a probabilidade de uma mulher de 25 anos engravidar se estiver na fase de ovulação é de 85%, quando “na verdade” é de 35%. O mesmo acontece sobre a probabilidade de uma mulher de 35 anos engravidar recorrendo à procriação assistida, neste caso 60% considera que a gravidez ocorre, no entanto da prática apenas acontece em 25% dos casos.

Os investigadores consideram que a perceção errada sobre a capacidade de engravidar se deve à educação sexual, que ainda é centrada na prevenção da gravidez, “e ao mediatismo de certos casos que recorrem a estas técnicas fazendo com que pareça fácil (sendo o exemplo mais carismático em Portugal o de Cristiano Ronaldo).”