Surge no Alentejo uma nova aldeia, em Abela, concelho de Santiago do Cacém. A Traditional Dream Factory (TDF) é a primeira iniciativa da OASA Network, uma associação dedicada à construção de uma rede global de comunidades regenerativas de coabitação.
Um projeto liderado pelo empreendedor tecnológico Samuel Delesque e em que já estão envolvidos mais de 60 membros, incluindo engenheiros, permacultores, arquitetos e criativos.
“Estamos a criar um local onde as pessoas podem viver, trabalhar e crescer em conjunto, ao mesmo tempo que cuidam do ambiente“, afirmou Delesque, citado em comunicado da associação. “O nosso objetivo é demonstrar que um estilo de vida sustentável pode ser simultaneamente prático e inspirador“.
Uma aldeia regenerativa para nómadas digitais
O projeto está tomar forma num antigo espaço de criação avícola, mas que abandonado está agora a ser reconvertido num vibrante centro de coliving e coworking, rodeado de campos de árvores.
De acordo com membros do projeto os vizinhos têm manifestado agrado e “através dos nossos valores comuns de regeneração, tanto ecológicos como pessoais, a par da nossa gestão responsável da terra, criamos um sentimento de pertença e uma sensação de lar para aqueles que passam algum tempo connosco“, referiu Luna Mangan, Anfitriã do Espaço TDF.
Atualmente, a TDF já tem ocupantes, possuindo áreas para caravanas, alojamentos glamping, uma cafetaria, uma sauna e um espaço para eventos de 140 metros quadrados. A capacidade atual é de 15 a 25 pessoas, com a possibilidade de receber até 100 participantes em atividades ou eventos. No total, já foram angariados mais de 1 milhão de euros, graças à colaboração de membros e amigos.
Os planos da Associação incluem a expansão da construção para 14 suítes privadas, 23 casas de madeira entre 35 e 70 metros quadrados, 4 estúdios para artistas residentes, um restaurante e uma piscina biológica.
Até 2026, a TDF espera receber uma comunidade permanente de até 100 residentes e organizar eventos com mais de 200 participantes. Para financiar esta nova fase, a equipa planeia angariar mais 800 mil euros na nova ronda de investimento.
No entanto, e até agora com a expansão ainda em curso, já foram plantadas mais de 4.000 árvores, construídas áreas de retenção de água e atualmente estão ser curso pomares, uma horta, uma quinta de cogumelos e lagos para apoiar a retenção de água – dado a região ser muito seca. Entretanto, já se encontra em funcionamento um espaço de coworking com boa qualidade de acesso à Internet, além de espaços de criação e um programa de eventos e workshops.
“Todas as infraestruturas essenciais já estão a funcionar“, afirmou Delesque. “É um local onde se pode trabalhar remotamente, partilhar conhecimento e fazer parte de algo maior, algo enraizado em valores importantes“.
Um modelo descentralizado com uma economia própria
A TDF está estruturada como uma Organização Autónoma Descentralizada (DAO) – um modelo de governação em que as decisões são tomadas coletivamente, em vez de dependerem de uma autoridade central. Este modelo reflete os valores fundamentais do projeto: inclusão, transparência, capacitação e gestão ambiental.
O projeto também opera seu próprio token de utilidade, $TDF, criado na blockchain Celo. O token é usado para financiar o desenvolvimento e a manutenção da aldeia, ao mesmo tempo que protege a terra como um bem comum regenerativo.
“Cada token $TDF garante acesso à aldeia um dia por ano, desde que seja mantido”, de acordo o regulamento da TDF. “Trata-se de um mecanismo simples, mas poderoso, para criar um compromisso a longo prazo e uma responsabilidade partilhada“, indica o comunicado. A TDF conta com mais de 256 titulares de tokens, que contribuem para financiar o projeto, em troca de privilégios nas estadias.
É explicado no comunicado que longe do hype especulativo da criptografia, o token está diretamente ligado ao uso da terra no mundo real, à infraestrutura física e aos KPIs ecológicos. Tanto os investidores como os membros da comunidade são incentivados a cocriar valor – não apenas a extraí-lo.