Um em cada cinco adolescentes tem comportamento autolesivo

Estudo da UC revela que 20 % dos adolescentes têm comportamentos autolesivos. As jovens são mas propensas do que os rapazes a autolesarem-se, e a idade dos 15 aos 16 anos é a mais vulnerável. Relações familiares estão envolvidas nos comportamentos.

José Pinto Gouveia e Ana Xavier, investigadores da UC, (da esquerda para a direita)
José Pinto Gouveia e Ana Xavier, investigadores da UC, (da esquerda para a direita). Foto: © UC

A investigadora Ana Xavier, da Universidade de Coimbra (UC), com orientação científica de José Pinto Gouveia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC e de Marina Cunha do Instituto Superior Miguel Torga de Coimbra, desenvolveu um estudo que conclui que 20% dos adolescentes autolesaram-se pelo menos uma vez.

O estudo que envolveu 2863 adolescentes de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 12 e os 19 anos de idade, a frequentar o ensino entre o 7º e o 12º ano, em várias escolas do distrito de Coimbra, permitiu estudar “a influência das experiências emocionais com os pais e o grupo de pares no desenvolvimento de processos adaptativos ou mal adaptativos de regulação emocional para a vulnerabilidade e manutenção dos comportamentos autolesivos na adolescência”.

Os resultados do estudo, realizado ao longo de quatro, permitiu concluir “que as raparigas reportam mais comportamentos autolesivos que os rapazes e a faixa etária mais vulnerável a esta psicopatologia situa-se entre os 15 e os 16 anos de idade”.

Ana Xavier, citada em comunicado da UC, refere que “que os adolescentes que recordam sentimentos de ameaça, subordinação e desvalorização nas relações com a sua família tendem a apresentar sintomas depressivos, a ser mais autocríticos, a ter medo de sentimentos positivos e a manifestar comportamentos autolesivos. O mesmo se verificou quando os adolescentes recordam poucos (ou ausentes) sentimentos de afeto, calor e segurança nas relações com a família”.

A UC esclarece que “os comportamentos autolesivos envolvem atos diretos e deliberados de destruição do tecido corporal do próprio, como, por exemplo, cortar-se, queimar-se, sem intenção de suicídio, mas com o objetivo de magoar-se para regular emoções difíceis e intensas”.

“Estes comportamentos são complexos e sérios, e estão associados a várias dificuldades psicológicas e muitas vezes necessitam de intervenção clínica para a sua resolução”, indica ainda a UC no comunicado.

Para a investigadora da UC o estudo aponta para a “necessidade de implementação de programas de prevenção e de intervenção nas escolas para melhorar a saúde mental dos adolescentes e jovens. A adolescência é um período de desenvolvimento que apresenta elevados riscos para a psicopatologia”.

Os programas de prevenção “devem promover a aprendizagem de competências de regulação emocional adaptativas e eficazes”, com sejam, “as competências de compaixão, aceitação, tranquilização, mindfulness”, indica Ana Xavier.

A responsável pelo estudo indica ainda que os programas de prevenção podem ajudar “os adolescentes a aprenderem uma resposta saudável e alternativa às atitudes de autoataque e autocrítica, assim como a regular eficazmente os estados de emocionais negativos, e consequentemente a não se envolverem em comportamentos autolesivos”.