Antibiótico em aquacultura marinha é removido por luz do Sol

Investigadores do Departamento de Química e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro (UA) verificaram que o antibiótico oxitetraciclina, usado na aquacultura, pode ser eficazmente destruído dos tanques com recurso à luz solar.

Investigadores da UA: Eduarda Santos, Joana Leal e Valdemar Esteves
Investigadores da UA: Eduarda Santos, Joana Leal e Valdemar Esteves, Foto: © UA

Os aquicultores utilizam antibióticos para combater uma grande variedade de infeções nos peixes, é o caso da oxitetraciclina (OTC), um antibiótico de largo-espectro de eficácia contra infeções por bactérias. Depois de usados os antibióticos devem ser removidos dos tanques, dado que a sua permanência tem consequências para os peixes.

Os aquicultores procedem à respetiva remoção com recurso à difusão de ozono nas águas, um método que é dispendioso e pouco eficaz além de gerar “compostos perigosos para a saúde quando se trata de água salgada”.

Joana Leal, doutoranda da UA, sob a orientação científica dos Professores Valdemar Esteves e Eduarda Santos, encontrou um método eficaz de destruir a oxitetraciclina com recurso à luz solar. Este método foi publicado na revista científica Environmental Pollution.

Em Portugal a utilização de antibióticos na aquacultura tem vindo a decrescer nos últimos anos, optando, os aquicultores, cada vez mais, por medidas de prevenção, como a vacinação. Mas, em todo o mundo há países onde os aquicultores recorrem com frequência aos antibióticos. Um uso pouco controlado que, de acordo com os investigadores da UA, “incrementa a potencialidade de aplicação da metodologia” que usa a luz solar como recurso para destruir o antibiótico.

Na aquacultura de água doce os aquicultores recorrem a ozono para remover o antibiótico, mas “em sistemas de aquacultura marinha a aplicação desta metodologia é limitada pela formação de subprodutos perigosos resultantes da interação do ozono com os iões da água salgada”, indicam os investigadores, citados em comunicado da UA. Neste caso os aquicultores diminuem as concentrações de ozono, o que leva a uma menor “eficiência deste processo na remoção da OTC”.

O método desenvolvido por Joana Leal, para a degradação da OTC, é “simples e de baixo custo, com demonstrada eficiência, principalmente em águas de aquacultura marinha”. Um método que utiliza a luz solar para foto-degradar o antibiótico em água.

A investigadora adicionou a oxitetraciclina, em laboratório, a águas de aquacultura previamente recolhidas, e as soluções foram expostas à radiação solar por diferentes períodos de tempo. Com o uso de um sistema, ou tanque que possa ser incluído no circuito de efluentes de tanques de aquacultura, que deve ter uma profundidade reduzida (até meio metro) para permitir a penetração da luz solar, os investigadores verificaram uma redução de 90 por cento da concentração de OTC na água, depois de 70 a 180 minutos de exposição à luz solar, indica a UA.

Os investigadores chamam à atenção que “a presença de partículas em suspensão afeta a taxa de foto-degradação da OTC. A extensão do circuito proposto deve ser ajustada em função da concentração de partículas em suspensão”. Assim, o tanque inicialmente projetado para a foto-degradação da OTC pode também ser usado como um tanque de decantação de partículas.

Esta foto-degradação de compostos orgânicos, nos quais se enquadram os antibióticos, tem vindo a destacar-se como metodologia de degradação de compostos, refere a UA. Contudo, apontam os investigadores, “os bons resultados obtidos com esta metodologia e este antibiótico não podem ser extrapolados para outros antibióticos”, já que os respetivos comportamentos face à mesma metodologia podem variar em função das propriedades físicas e químicas que os caracterizam e da constituição da própria água.

Os investigadores consideram que a aplicação da luz solar na degradação de outros antibióticos deve ser avaliada caso a caso. Por outro lado, consideram que “esta é uma metodologia que poderá ser aplicada a outro tipo de indústria, por exemplo, a estações de tratamento de águas residuais, que são um dos principais focos de acumulação de antibióticos e outros compostos”.