Observar o céu de abril de 2021

Terra, Lua e outros planetas do Sistema Solar numa conjugação que no mês de abril traz observações que Ricardo Cardoso Reis descreve, neste seu artigo, para serem observadas e compreendidas nas noites de céu aberto do mês de águas mil.

Ricardo Cardoso Reis, Planetário do Porto e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço
Ricardo Cardoso Reis, Planetário do Porto e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço. Foto: DR

Já diz o velho ditado, “abril, águas mil”. Este mês é estatisticamente dos mais chuvosos do ano, o que normalmente significa poucos dias de céu limpo. Mas como só se consegue prever quando é que vai chover, com precisão, apenas com 3 dias de antecedência, aqui ficam alguns eventos celestes para procurarem, caso não chova.

Durante este mês, os dois maiores planetas do Sistema Solar só poderão ser observados pelos madrugadores ou pelas “corujas”, pois no início de abril, Saturno nasce por volta das 5 da manhã e Júpiter por volta das 5h30, enquanto no dia 30 já se começa a ver Saturno por volta das 3h15 e Júpiter por volta das 4h00. Ambos os planetas estarão visíveis até que o Sol nasça, o que acontece por volta das 7h20 no dia 1 e pouco depois das 6h30 no dia 30.

No dia 4, a Lua atinge o quarto minguante e no dia 6 passa a apenas 5 graus de Saturno. Como nasce por volta das 5 da manhã, continuamos a vê-la mesmo depois do Sol nascer.

No dia 7, a Lua passa a 5 graus de Júpiter e no dia 12 atinge a fase de lua nova. No dia 17, já iluminada a 25%, a Lua passa a 3 graus do planeta Marte, ambos na constelação do Touro. Esta constelação, assim como as constelações de Orion e Cão Maior, ficam visíveis assim que anoitece, entre Sudoeste e Oeste.

No dia 20 a Lua atinge o quarto crescente. Dois dias depois ocorre o máximo da chuva de meteoros das Líridas. A constelação da Lira, onde está situado o radiante (o ponto de onde parecem emanar os meteoros), nasce a Nordeste, pouco depois do anoitecer. Apesar de não ser das chuvas mais intensas (prevêem-se apenas 10 meteoros por hora, em céus escuros) e do máximo estar previsto para as 14h00, ainda assim deve dar para observar alguns meteoros, em especial depois da Lua se pôr, por volta das 4h30.

Se decidirem esperar pelas Líridas, aproveitem também para observar a Lua, que passa a Sul às 22h00, na constelação do Leão.

Este era um gigantesco leão que vivia na Lua e atacou a carruagem de Selene, a deusa da Lua, que prontamente o expulsou para a Terra. Este caiu perto de Nemeia, na Grécia, onde começou a atacar as pessoas. Muitos perderam a vida a tentar abatê-lo, pois a sua pele era praticamente impenetrável.

Matar o Leão de Nemeia foi o primeiro dos doze trabalhos de Hércules, mas com a pele impenetrável, o herói só teve sucesso depois de estrangular o animal. De seguida, Hércules decidiu retirar-lhe a pele, para usar como proteção durante os restantes onze trabalhos. Para o fazer, usou a única coisa que conseguia penetrar no couro do animal – as garras do próprio Leão!

Para fechar o mês, no dia 27 vejam a “super” lua cheia, isto é, uma lua cheia que coincide com o perigeu (ponto de maior aproximação à Terra) do nosso satélite, aparecendo por isso um pouco maior do que a média no nosso céu.

Boas observações.

A Lua na constelação de Leão, a passar a Sul, às 22h00 do dia 22 de abril de 2021
A Lua na constelação de Leão, a passar a Sul, às 22h00 do dia 22 de abril de 2021. Foto: Ricardo Cardoso Reis /Stellarium

Autor: Ricardo Cardoso Reis, licenciado em Astronomia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Atualmente está a completar o mestrado em Ensino e Divulgação das Ciências, também pela FCUP. Trabalha há mais de 20 anos em comunicação de ciência, na promoção da cultura científica e em educação não-formal. Atualmente pertence ao Grupo de Comunicação de Ciência do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, a maior unidade nacional de investigação da área, e ao Planetário do Porto – Centro Ciência Viva, o maior planetário digital em Portugal. É sócio efetivo da Sociedade Portuguesa de Astronomia, da associação Centro de Astrofísica da Universidade do Porto e da Rede SciComPT, tendo pertencido aos orgão sociais desta última no triénio 2017-2020.