Timor-Leste declarado pela Organização Mundial da Saúde como território livre de malária

Timor-Leste declarado pela Organização Mundial da Saúde como território livre de malária
Timor-Leste declarado pela Organização Mundial da Saúde como território livre de malária. Foto: Rosa Pinto/arquivo

A Organização Mundial da Saúde (OMS) certificou Timor-Leste como um território livre da malária. Esta é uma conquista notável e que é o resultado do país ter dado prioridade ao combate à doença de uma forma nacional coordenada logo após a independência em 2002.

“A OMS dá os parabéns ao povo e ao governo de Timor-Leste por este marco significativo”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor-Geral da OMS, citado em comunicado da Organização, que acrescentou: “O sucesso de Timor-Leste prova que a malária pode ser combatida com a união de uma forte vontade política, intervenções inteligentes, investimentos nacionais e internacionais sustentados e profissionais de saúde dedicados.”

A OMS certifica a eliminação da malária quando um país prova, além de qualquer dúvida razoável, que a cadeia de transmissão autóctone foi interrompida em todo o país durante pelo menos os três anos consecutivos anteriores. Neste caso Timor-Leste passa a ser o 47º país certificado pela OMS como livre de malária e o terceiro na região do Sudeste Asiático da OMS, juntando-se às Maldivas certificado em 2015 e ao Sri Lanka certificado em 2016.

“Conseguimos. A malária tem sido um dos nossos inimigos mais implacáveis – silencioso, persistente e mortal. Perdemos demasiadas vidas para uma doença que deveria ser prevenível. Mas os nossos profissionais de saúde nunca desistiram, as nossas comunidades mantiveram-se firmes e os nossos parceiros, como a OMS, caminharam ao nosso lado. De 223 000 casos a zero – esta eliminação honra cada vida perdida e cada vida agora salva. Devemos salvaguardar esta vitória com vigilância contínua e ação comunitária para impedir o ressurgimento da malária”, afirmou a Ministra da Saúde do Governo de Timor-Leste, Élia António de Araújo dos Reis Amaral, citada em comunicado pela OMS.

De uma elevada incidência de malária para um país livre de malária

Desde que conquistou a independência em 2002, Timor-Leste fez progressos notáveis na luta contra a malária, reduzindo os casos de um pico de mais de 223 000 casos clinicamente diagnosticados em 2006 para zero casos autóctones a partir de 2021.

Como descreve a OMS, o sucesso de Timor-Leste na eliminação da malária foi impulsionado pela rápida ação do Ministério da Saúde, em 2003, quando estabeleceu um Programa Nacional de Malária, dedicado ao planeamento, implementação e acompanhamento dos esforços de controlo da malária em todo o país.

No início o programa teve apenas afeto dois funcionários em tempo integral mas mesmo assim foram lançadas as bases para um progresso e como deveu-se, como descreve a OMA, a uma forte liderança técnica, capacidade de gestão e atenção aos detalhes.

“Em poucos anos, o país introduziu testes de diagnóstico rápido e terapia combinada à base de artemisinina como parte das Diretrizes Nacionais de Tratamento da Malária e começou a distribuir gratuitamente mosquiteiros tratados com inseticida de longa duração para comunidades em maior risco”, descreve a OMS no seu comunicado.

Outra ajuda foi dada em 2009, com o apoio do Fundo Global de Combate à SIDA, Tuberculose e Malária, que permitiu a Timor-Leste ampliar o controlo de vetores (mosquitos) por meio da distribuição de mosquiteiros tratados com inseticida de longa duração e pela pulverização residual em ambientes fechados. Ao mesmo tempo o diagnóstico da malária foi expandido com recurso a microscopia e testes rápidos de diagnóstico em todos os postos de saúde locais.

Estratégia política num sistema de saúde

Numa revolução em que os desafios começavam pela grave escassez de médicos e de outros profissionais de saúde, Timor-Leste investiu e desenvolveu o seu sistema de saúde de três níveis constituídos por hospitais nacionais, hospitais de referência, centros de saúde comunitários e postos de saúde.

O sistema instalado que permitiu garantir que a maioria dos moradores tivesse acesso a cuidados em até uma hora de percurso. Com os cidadãos a receberem serviços de saúde gratuitos no local de atendimento. Ao mesmo tempo foram criadas clínicas móveis mensais e programas de extensão comunitária que complementavam os serviços de saúde nas áreas rurais.

Como descreve a OMS, “o sucesso de Timor-Leste no combate à malária destaca a importância da liderança do país e da forte colaboração entre o Ministério da Saúde, a OMS, as comunidades locais, organizações não-governamentais, doadores e diversos setores governamentais.”

“Um sistema integrado de vigilância baseado em casos em tempo real garante a recolha e a resposta rápidas de dados, enquanto profissionais de saúde treinados garantem a deteção e o rastreio oportunos de casos de malária, inclusive nas fronteiras. Esses esforços integrados abriram caminho para que o país fosse oficialmente certificado como livre de malária”, indica a OMS.

Para Arvind Mathur, Representante da OMS em Timor-Leste, “ a certificação de Timor-Leste como país livre de malária é um triunfo nacional definitivo – impulsionado por uma liderança ousada, pelos esforços incansáveis dos profissionais de saúde e pela determinação do seu povo. Como uma nação jovem, Timor-Leste manteve o foco – testando, tratando e investigando rapidamente.”

Mas, como referiu Arvind Mathur, citado pela OMS, “acabar com a transmissão e manter zero mortes exige mais do que ciência; exige coragem. Esta vitória protege gerações, presentes e futuras, e mostra o que um país determinado pode alcançar”.