Um relatório sobre as alternativas à carne do Conselho Consultivo Científico das Academias Europeias (EASAC, na sigla em inglês), que integra a Academia de Ciências de Lisboa, e agora publicado mostra que a União Europeia (UE) terá de agir agora para garantir a segurança alimentar face às alterações climáticas.
A UE encontra-se a ponderar uma Estratégia de Proteínas para reforçar os sistemas alimentares sustentáveis. Este relatório da EASAC examina o rápido crescimento das alternativas à carne, desde as proteínas de origem vegetal e derivadas de insetos até à fermentação microbiana e à carne cultivada.
O objetivo do relatório é disponibilizar aos decisores políticos um roteiro com base científica que equilibre as questões das alterações climáticas, a saúde pública e a resiliência do sistema alimentar, dado que as estruturas políticas se mantêm atrasadas em relação aos atuais desenvolvimentos científicos e tecnológicos.
“A UE precisa de agir agora se quiser manter-se à frente da transição proteica, garantir a segurança alimentar e atingir as suas metas climáticas e de biodiversidade. Deve criar políticas que apoiem a inovação em alternativas à carne, garantindo, ao mesmo tempo, a segurança alimentar e a proteção do consumidor”, afirmou, citado em comunicado, Bert Rima, Presidente do Grupo de Trabalho de especialistas nomeados pelas academias científicas europeias.
Bert Rima acrescentou: “As gerações futuras da Europa provavelmente crescerão com menos carne no prato – e isso pode ser necessário e benéfico. O relatório oferece orientações para incentivar as pessoas a comer menos carne e permitir melhores escolhas”.
Ganhos Ambientais
O relatório mostra haver diversas alternativas à carne que têm potencialmente uma menor pegada ambiental do que a carne convencional, e aponta que os insetos e a fermentação microbiana fornecem fontes eficientes de proteína com impacto ambiental mínimo ao utilizar matérias-primas sustentáveis e que a carne cultivada pode potencialmente oferecer benefícios de sustentabilidade se o processo for alimentado por energias renováveis.
Saúde e Nutrição
Os especialistas consideram que as alternativas à carne convencional podem contribuir para dietas equilibradas. No entanto indicam que nem todas são iguais: alguns produtos processados à base de plantas podem conter excesso de sal e gordura saturada, e que são necessários mais dados sobre os impactos, a longo prazo, dos mais recentes produtos, nomeadamente, da carne cultivada e das proteínas de fermentação de precisão.
Aceitação do Consumidor
Não são alternativas se não houver confiança por parte do consumidor e por isso o relatório aponta para a naturalidade, o sabor, a acessibilidade e a rotulagem clara, dos produtos. É sabido que as populações mais jovens e urbanas estão mais abertas a alternativas, especialmente as que se preocupam com o bem-estar animal e as alterações climáticas.
“A confiança do consumidor pode ser facilmente quebrada, especialmente se os produtos forem sobrevalorizados ou rotulados de forma enganadora”, alerta Hanna Tuomisto, Professora de Sistemas Alimentares Sustentáveis e coautora do relatório. A especialista acrescentou: “Precisamos de total transparência, não só em relação aos ingredientes, mas também em relação ao impacto ambiental e ao processamento”.
Inovação Precisa de Apoio
A alternativa fermentação ou da carne cultivada apresenta um elevado potencial, mas enfrenta obstáculos de custos e de escala. Assim, nesta fase é necessário financiamento público estratégico e ainda clareza de políticas para impulsionar a inovação segura e sustentável no fornecimento proteico.
O relatório aponta seis Apelos Urgentes aos Formuladores de Políticas
1.Aumentar a transparência e introduzir normas de rotulagem claras e obrigatórias sobre nutrição, processamento e pegada ambiental
2.Estabelecer políticas claras e um quadro regulamentar para orientar as adições a produtos proteicos vegetais e microbianos
3.Melhorar os padrões de sustentabilidade ambiental, ou seja, a comparabilidade na avaliação do ciclo de vida, a utilização de energia renovável e os fluxos secundários industriais e agrícolas
4.Reforçar a sensibilização do consumidor com recomendações baseadas em evidências sobre a integração de alternativas à carne em dietas equilibradas e o combate à desinformação
5.Criar um quadro positivo para a inovação, investindo em I&D, especialmente para alternativas seguras e escaláveis, como a carne microbiana e cultivada, e ajudando os produtores pecuários a adaptarem-se às mudanças nos mercados de alternativas à carne e a proteínas alternativas
6.Considerar questões éticas e sociais, tais como as diferentes necessidades alimentares, a cultura, as tradições e as condições económicas. Ser dada atenção às considerações éticas na criação de insetos e às questões éticas levantadas pela carne cultivada que depende de células animais.
Um Ponto de Viragem para a Política Europeia
“A Europa tem as ferramentas e o poder de inovação para liderar a nível global”, afirmou Hanna Tuomisto. Mas o relatório aponta que são necessárias mais do que apenas soluções tecnológicas, sendo a configuração social e política da transição para proteínas sustentáveis que irá determinar o sucesso. Sem uma ação coordenada, há o risco de perder tanto os ganhos ambientais como a confiança pública.














