Fígado gordo e o desafio de um Natal saudável

Alexandra Martins, médica, serviço de Gastrenterologia da ULS Amadora Sintra, Hospital CUF Cascais
Alexandra Martins, médica, serviço de Gastrenterologia da ULS Amadora Sintra, Hospital CUF Cascais. Foto: DR

A época natalícia aproxima-se, e é para muitos, sinónimo de abundância: mesas repletas de pratos tradicionais, doces apelativos e copos que se erguem em celebração. Neste ambiente festivo, é fácil descurar os potenciais impactos na saúde, especialmente no fígado, um órgão tantas vezes esquecido.

A esteatose hepática, conhecida como “gordura no fígado”, é uma condição cada vez mais comum e não afeta apenas quem consome álcool de modo excessivo. Está associada a obesidade, hábitos sedentários e dietas ricas em açúcares e gorduras. A acumulação de gordura no fígado pode evoluir silenciosamente, sem causar sintomas no imediato, e quando não detetada e tratada a tempo, progredir para doenças graves como cirrose e cancro do fígado.

É precisamente em épocas como o Natal, que devemos estar mais atentos aos factores de risco para esteatose hepática. De facto, nos múltiplos convívios, os excessos alimentares e alcoólicos são, muitas vezes, socialmente aceites ou até incentivados. Encontrar um equilíbrio é desafiante, mas é possível desfrutar sem comprometer a saúde, lembrando que a moderação é uma forma de autocuidado. Servir porções mais pequenas, incluir fruta fresca em vez de sobremesas repetidas, escolher métodos de confeção mais leves (como assados e cozidos em vez de fritos), e lembrar a ingestão de água são gestos simples que podem fazer a diferença.

Por outro lado, o exercício físico, mesmo que apenas sob a forma de caminhadas após as refeições, ajuda a compensar o excesso calórico, ao melhorar a digestão e manter o metabolismo ativo. Dormir bem e gerir o stress típico da quadra são igualmente importantes para proteger e melhorar o nosso bem-estar físico e emocional.

Importa sublinhar que estes cuidados e a escolha consciente de um estilo de vida saudável devem ser encarados como um compromisso que possamos manter ao longo do ano. Consultas médicas regulares, análises de rotina e atenção ao peso corporal são essenciais para detetar precocemente alterações hepáticas e prevenir complicações futuras.

Celebrar não tem de significar descuidar. Ao optarmos por consumir menos e dar prioridade ao que importa – partilha, encontro e presença, o Natal torna-se mais significativo. E cuidarmos de nós e de quem está connosco, é talvez o melhor presente que podemos oferecer.

Autora: Alexandra Martins, médica, serviço de Gastrenterologia da ULS Amadora Sintra, Hospital CUF Cascais