As plantas emitem sons! Mas os humanos não os ouvem!

Sons emitidos pelas plantas são ultrassónicos, que o ouvido humano não alcança, mas podem ser detetados por morcegos, roedores, vários insetos e por outras plantas. As plantas emitem sons informativos sobre a sua condição de stress.

As plantas emitem sons! Mas os humanos não os ouvem
As plantas emitem sons! Mas os humanos não os ouvem. Foto: © Rosa Pinto

Pela primeira vez, no mundo, investigadores gravam sons emitidos pelas plantas. Os sons gravados por investigadores da Universidade de Telavive mostram que são distintos e semelhantes a sons de clique, como no caso do estouro da pipoca.

Os sons são emitidos num volume semelhante ao da fala humana, mas em altas frequências, que não estão ao alcance da audição do ouvido humano. Os investigadores referem: “Descobrimos que as plantas geralmente emitem sons quando estão sob stress, e que cada planta e cada tipo de stress está associado a um som específico identificável. Embora impercetíveis ao ouvido humano, os sons emitidos pelas plantas provavelmente podem ser ouvidos por vários animais, como morcegos, ratos e insetos.”

O estudo liderado por Lilach Hadany em conjunto com Yossi Yovel, e que envolveu também outros investigadores da Universidade de Telavive, foi publicado na revista científica Cell.

A investigadora Lilach Hadany referiu: “De estudos anteriores, sabemos que os vibrómetros ligados às plantas registam vibrações”, o que coloca a questão: “Essas vibrações também se tornam ondas sonoras transportadas pelo ar – ou seja, sons que podem ser registados à distância?” Foi sobre a questão que a investigação se desenvolveu, como referiu a investigadora: “O nosso estudo abordou esta questão, que os pesquisadores vêm debatendo há muitos anos.”

Na primeira etapa do estudo, os investigadores colocaram as plantas numa caixa acústica num porão silencioso e isolado, sem ruído de fundo. Microfones ultrassónicos, colocados a uma distância de cerca de 10 cm de cada planta, gravaram os sons em frequências de 20 a 250 kilohertz (a frequência máxima detetada por um humano adulto é de cerca de 16 kilohertz). O estudo concentrou-se principalmente nas plantas de tomate e tabaco, mas também foram registados sons do trigo, milho, cactus e chupapitos.

A investigadora descreveu: “Antes de colocar as plantas na caixa acústica, nós submetemo-las a vários tratamentos: algumas plantas não eram regadas há cinco dias, outras tinham o caule cortado e outras não eram tocadas. A nossa intenção era testar se o as plantas emitem sons e se esses sons são afetados de alguma forma pela condição da planta. As nossas gravações indicaram que as plantas na nossa experiencia emitiram sons em frequências de 40 a 80 kilohertz. As plantas não que não estavam em stress emitiram menos de um som por hora, em média, enquanto as plantas em stresss – desidratadas e feridas – emitiam dezenas de sons por hora.”

As gravações recolhidas foram analisadas por algoritmos especialmente desenvolvidos em Inteligência Artificial (IA). Os algoritmos foram capazes de distinguir entre diferentes plantas e diferentes tipos de sons e, finalmente, foram capazes de identificar a planta e determinar o tipo e o nível de stress nas gravações.

Além disso, os algoritmos identificaram e classificaram os sons das plantas mesmo quando as plantas foram colocadas numa estufa com muito ruído de fundo. Na estufa, os investigadores monitoraram plantas submetidas a um processo de desidratação ao longo do tempo e constataram que a quantidade de sons que emitiam aumentava até certo pico e depois diminuía.

“Neste estudo resolvemos uma controvérsia científica muito antiga: provamos que as plantas emitem sons! As nossas descobertas sugerem que o mundo ao nosso redor está cheio de sons de plantas e que esses sons contêm informações – por exemplo, sobre a escassez de água ou ferimentos. Assumimos que na natureza os sons emitidos pelas plantas são detetados por criaturas próximas, como morcegos, roedores, vários insetos e possivelmente também outras plantas – que podem ouvir as altas frequências e obter informações relevantes”, referiu a investigadora.

Lilach Hadany acrescentou: “Acreditamos que os humanos podem também utilizam essas informações, com as ferramentas certas – como sensores que informam os produtores quando as plantas precisam de ser regadas. Aparentemente, um campo idílico de flores pode ser um lugar bastante barulhento. Só que não podemos ouvir os sons!”

Os investigadores preveem continuar a explorar uma série de questões intrigantes, como: Qual é o mecanismo por trás dos sons das plantas? Como as mariposas detetam e reagem aos sons emitidos pelas plantas? E outras plantas também ouvem esses sons?