A (re)construção da figura do emigrante

Emigração portuguesa tem vindo a mudar ao longo do tempo. Daniel Bastos faz, neste seu artigo, uma abordagem ao trabalho desenvolvido pela jornalista Ana Cristina Pereira sobre o perfil do emigrante, e como este é visto pelos portugueses residentes em Portugal.

Daniel Bastos, Historiador e Escritor
Daniel Bastos, Historiador e Escritor. Foto: © DR

No início do mês de março, a jornalista Ana Cristina Pereira, que ao longo da carreira se tem debruçado sobre a temática das migrações, e que inclusive no ano passado escreveu o livro ‘Movimento Perpétuo: História das Migrações Portuguesas’, assinou no jornal Público um artigo de referência sobre ‘A (re)construção da figura do emigrante’.

Procurando responder às perguntas: “Como é que os portugueses residentes em Portugal encaram os portugueses residentes no estrangeiro?” “Os portugueses residentes no estrangeiro sentem-se apreciados ou depreciados pelos residentes em Portugal?” “Há um modo de olhar os velhos emigrantes e outro de olhar os novos?” E “algo mudou desde que os filhos das classes médias começaram a procurar emprego lá fora?” A jornalista aborda com mestria as dinâmicas históricas e mais recentes da emigração portuguesa, confirmando o peso estruturante que o fenómeno continua a ter no país.

Sustentada em abordagens de investigadores da área das migrações, como Elsa Lechner, Albertino Gonçalves, Victor Pereira ou António de Vasconcelos Nogueira, e nas vivências dos conselheiros das comunidades portuguesas, Flávio Alves Martin (Brasil), Nelson Campos (Alemanha), Pedro Rupio (Bélgica), Gabriel Marques (EUA) e Paulo Marques (França), assim como do diretor das publicações Luso Jornal (França e Bélgica), Carlos Pereira, a jornalista evidencia as diferenças entre a nova e a antiga emigração, traçando um perfil do emigrante português que mudou, que já não continua só a trabalhar em profissões não qualificadas no estrangeiro.

As diferentes experiências, qualificações, proveniências e percursos de vida dos conselheiros das comunidades portuguesas apontados no artigo, são reveladores do papel político, económico, cultural e associativo que estes, conjuntamente com muitos outros compatriotas espalhados pelo Mundo, desempenham no desenvolvimento das suas pátrias de acolhimento e de origem.

Não obstante as comunidades emigrantes assistirem a choques geracionais, e na sociedade portuguesa subsistirem ainda incompreensões sobre a imagem do emigrante, a realidade é que o país continua a ter na emigração uma força motriz da economia. E como afirma Ana Cristina Pereira, “O emigrante já não é só o trabalhador agrícola ou o operário fabril. Pode ser qualquer um”.

Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor