Alzheimer reúne especialistas mundiais em Lisboa

Demência afeta mais de 50 milhões de pessoas no mundo, constituindo uma crise de saúde, social e económica. Especialistas mundiais debatem os avanços científicos em Cimeira Mundial de Alzheimer, no Centro Champalimaud, em Lisboa.

Centro Champalimaud em Lisboa
Centro Champalimaud em Lisboa. Foto: Rosa Pinto

A Cimeira Mundial de Alzheimer reúne, entre os dias 18 e 22 de setembro, no Centro Champalimaud, em Lisboa, mais de 80 especialistas em investigação e cuidados de saúde no domínio da doença de Alzheimer e de outras doenças neurodegenerativas.

A cimeira, que é natureza científica, é organizada pelas Fundação Champalimaud e pela Fundação Rainha Sofía, participando ainda diversas outras entidades. Leonor Beleza presidente da Fundação Champalimaud e Sua Majestade a Rainha Sofía de Espanha, presidente da Fundação que tem o seu nome e que comemora o 40º aniversário este ano, presidem à cimeira.

Os especialistas mundiais discutem e partilham no encontro os recentes progressos nas áreas da intervenção terapêutica e na de investigação sobre doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, Huntington e Parkinson. Cada tema, a ser discutido, envolve um programa de palestras e apresentações dentro de uma perspetiva translacional e integrada de investigação e tratamento.

Especialistas mundiais

A cimeira reúne cientistas mundiais de mais de 20 países, como Richard Axel, Prémio Nobel da Medicina em 2004, que fala sobre neurologia e genoma, e John O’Keefe, Prémio Nobel da Medicina em 2014 que aborda redes de cérebro essenciais para a construção de memórias. O neurologista António Damásio, Prémio Príncipe das Astúrias para Investigação 2005, e Rui Costa, Investigador Principal do Centro Champalimaud especialista em neurobiologia da ação e do movimento, são mais dois dos oradores em destaque.

Na área da intervenção terapêutica, a cimeira conta com Mercè Boada, fundadora e diretora médica da ACE Foundation em Barcelona e especialista em diagnóstico precoce da Doença de Alzheimer, e Pablo Martínez Lage, diretor de neurologia da Fundação CITA.

O especialista em inteligência artificial aplicada ao tratamento de condições neurodegenerativas, Takanori Shibata, e Vladimir Hachinski, professor da Universidade de Western Ontario e uma das principais autoridades mundiais em demências, são mais dois cientistas que participam na Cimeira.

Cooperação entre Portugal e Espanha

A cimeira assinala a colaboração estreita entre instituições e cientistas de Portugal e de Espanha, promovendo uma política europeia conjunta de investigação e tratamento de doenças neurodegenerativas, doenças que têm elevadas consequências para a saúde dos pacientes mas também económicas e sociais, sobretudo em países em que a taxa de envelhecimento da população é maior.

Especialistas de Espanha apresentam projetos

Bryan Strange, investigador do Projeto Vallecas da Fundação Reina Sofía e da Fundação CIEN, apresenta os últimos avanços na deteção precoce da doença de Alzheimer: o ‘Cérebro Vallecas’ e um algoritmo preditivo.

O ‘Cérebro Vallecas’ consiste num modelo virtual de cérebro. Este modelo possui imagens de ressonância magnética de mais de 1.000 cérebros saudáveis, de participantes voluntários no projeto, sem demência, e com idades entre os 70 e os 85 anos. O modelo serve como um elemento de comparação com as ressonâncias magnéticas individuais permitindo assim identificar anomalias precoces do início da doença de Alzheimer e de outras doenças neurodegenerativas.

Os cientistas do Projeto Vallecas identificaram variáveis de conversão entre um estado cognitivamente saudável e uma deterioração cognitiva leve. Para a identificação das variáveis usaram dados obtidos ao longo de cinco anos. Os cientistas desenvolveram desta forma um algoritmo preditivo para o desenvolvimento da doença de Alzheimer “que tem uma fiabilidade de 94%”.

O algoritmo preditivo é considerado pelos cientistas “um avanço de clara utilidade terapêutica: os tratamentos de demência são mais eficazes quando começam antes de se verificar uma deterioração cognitiva e os sintomas clínicos gerados pelo dano neurológico.”

Especialistas da CRE Alzheimer e do IMSERSO de Espanha apresentam, nesta cimeira mundial, uma instalação de um modelo real de habitação adaptada para pessoas com demência. Os últimos estudos sócio ambientais mostram que os ambientes pouco acessíveis pioram a sintomatologia das demências.