Bancos europeus perdem rentabilidade devido ao BCE

Bancos alemães, suíços e finlandeses estão entre os mais afetados pelo pagamento do BCE de taxas de juro negativas. Os bancos espanhóis e portugueses registaram os valores mais baixos ao nível do impacto nos lucros, um quarto da média da UE.

Bancos europeus perdem rentabilidade devido ao BCE
Bancos europeus perdem rentabilidade devido ao BCE. Foto: © União Europeia

Há cinco anos, o Banco Central Europeu (BCE) começou a cobrar taxas de juro negativas sobre os depósitos bancários. Para avaliar o impacto da medida na rentabilidade dos bancos da zona euro a Deposit Solutions, empresa fintech sediada em Hamburgo, levou a cabo uma análise com base nos dados do próprio BCE.

A análise mostra que, só em 2018, os bancos da zona euro transferiram cerca de 7,5 mil milhões de euros para o BCE, ou seja, 21 milhões de euros por dia em termos aritméticos. A maioria destes pagamentos foi realizada por bancos alemães, franceses e holandeses.

No período 2016 a 2018, os bancos alemães pagaram 5,7 mil milhões de euros ao BCE, os bancos franceses 4,1 mil milhões de euros e os bancos holandeses 2,5 mil milhões de euros. Isso significa que, desde 2016, só esses três países suportaram 69% da sobrecarga dos bancos da Zona Euro.

No total, os pagamentos efetuados pelos bancos da zona euro ao BCE ascendem já a 21,4 mil milhões de euros. Os bancos portugueses pagam 0,5% das taxas de juro negativas do BCE e, desde 2016, pagaram 88 milhões de euros ao BCE pelo excesso de liquidez, com um aumento das comissões superior a 240% nos últimos três anos. Em média, os pagamentos de juros negativos reduziram os lucros bancários na Zona Euro em cerca de 4,3 por cento.

A sobrecarga decorrente de taxas de juro negativas não depende, no entanto, do montante dos depósitos que um banco detém, mas da sua capacidade de os gerir. Tim Sievers, CEO e fundador da Deposit Solutions, referiu: “Os bancos que atuam como entidades fechadas têm poucas opções quando se trata de amortecer os efeitos das taxas de juros negativas sobre os seus rendimentos. Embora possam aumentar as comissões ou tentar desfazer-se dos depósitos dos clientes, ambos os passos limitam-se a transferir o ónus para o cliente. Em vez disso, os bancos devem posicionar-se como plataformas e oferecer aos seus clientes uma seleção de produtos de depósito de poupança de terceiros, mantendo ao mesmo tempo a relação existente com o cliente”.

O CEO referiu ainda que “se fizerem do open banking parte integral da sua estratégia de negócio, podem utilizar produtos de terceiros para fazer mais negócios com os seus clientes e ganhar novos clientes. Para muitos bancos, a perspetiva de poder vir a reduzir a carga de juros negativos acaba por constituir um bónus adicional. Em vez de colocarem dinheiro no BCE de forma onerosa, podem assim transferir o excesso de liquidez para outras instituições de maneira favorável ao seu cliente e ao seu próprio equilíbrio financeiro”.