Cerco, destruição e catástrofe humana de Gaza

Cerco imposto a Gaza, com fecho de passagens, falta de água e de eletricidade, têm sido os ingredientes essenciais para a grande catástrofe humanitária que se desenrola em Gaza. Forças israelitas vêm impedindo toda a ajuda alimentar e de cuidados de saúde.

Cerco, destruição e catástrofe humana de Gaza
Cerco, destruição e catástrofe humana de Gaza. Foto: © OMS

Na Faixa de Gaza continuam a ser relatados intensos os bombardeamentos israelitas e as operações terrestres, bem como os intensos combates entre as forças israelitas e os grupos armados palestinianos do Hamas, bem como continuam a ser relatadas em resultado das atividades militares mais vítimas civis, deslocações da população e destruição de casas e outras infraestruturas civis.

Entre a tarde de 27 de março e as 11h30 de 29 de março, dados do Ministério da Saúde de Gaza, indicam que mais 133 palestinianos foram mortos e que mais 203 palestinianos foram feridos. Assim, entre 7 de outubro de 2023 e 11h30 de 29 de março de 2024, pelo menos 32.623 palestinianos foram mortos em Gaza e 75.092 palestinianos foram feridos.

Verificaram relatados de incidentes que resultaram no assassinato de jornalistas e trabalhadores dos meios de comunicação social em Gaza. No dia 26 de março, por volta das 22h30, uma jornalista palestiniana teria sido morta juntamente com o seu marido e filhos quando uma casa em Rafah foi atingida. No dia 28 de março, por volta das 16h55, um jornalista palestiniano terá sido baleado e morto no Hospital Al Shifa, na cidade de Gaza.

Entre os incidentes mortais relatados entre 26 e 28 de março estão os seguintes:

No dia 26 de março, por volta das 10h30, 30 palestinianos terão sido mortos quando foi atingido um edifício residencial perto do Hospital Al Shifa, na cidade de Gaza.

No dia 26 de março, por volta das 11h30, 12 palestinianos, incluindo quatro crianças e quatro mulheres, teriam sido mortos e outros feridos quando foram atingidas tendas para pessoas deslocadas internamente na área de Al Mawasi, no oeste de Khan Younis.

No dia 26 de março, por volta das 20h00, pelo menos 20 palestinianos terão sido mortos ou soterrados sob os escombros quando um edifício residencial perto do Hospital Al Shifa, na cidade de Gaza, foi atingido.

No dia 27 de março, por volta das 15h15, nove palestinos, incluindo três crianças e três mulheres, terão sido mortos quando foi atingida uma casa na área de Khirbet Al Adass, no norte de Rafah.

No dia 27 de março, por volta das 17h50, quatro palestinianos, incluindo duas raparigas e uma mulher, terão sido mortos e mais de 10 feridos, quando uma estufa agrícola no norte de Rafah foi atingida.

Em 27 de março, os corpos de 15 palestinianos, incluindo seis crianças, terão sido recuperados em várias áreas de Rafah. As circunstâncias e os locais exatos de sua morte não foram relatados.

No dia 27 de março, por volta das 21h15, quatro palestinianos, que alegadamente são membros do comité popular encarregado de garantir a entrega de ajuda humanitária, foram alegadamente atingidos e mortos na rua Salah Ad Deen, na área de Az Zaytoun, na cidade de Gaza.

Entre 27 e 28 de março, pelo menos 15 palestinianos terão sido mortos, incluindo mulheres e crianças, e outros feridos, quando edifícios residenciais perto do Hospital Al Shifa foram atingidos.

Entre as tardes de 27 e 29 de março, um soldado israelita terá sido morto em Gaza, de acordo os militares israelitas.

O sistema de saúde em Gaza mal sobrevive, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), com apenas 10 dos 36 hospitais atualmente com alguns serviços parcialmente funcionais, mas estão sobrecarregados de pacientes e enfrentam escassez crítica de combustível, medicamentos, material médico e pessoal de saúde.

A OMS documentou até 12 de março mais de 400 ataques ao sistema de saúde na Faixa de Gaza, afetando cerca de 100 ambulâncias e quase 100 instalações de saúde. Em 28 de março, a Sociedade do Crescente Vermelho Palestiniano informou que o paradeiro de oito membros da equipa da Sociedade do Crescente Vermelho Palestiniano permanece desconhecido e sete foram libertados pelas autoridades israelitas 47 dias depois de terem sido detidos no Hospital Al Amal em Khan Younis. A OMS exigiu “o fim imediato dos ataques aos hospitais em Gaza” e apelou à “proteção do pessoal de saúde, dos pacientes e dos civis”.

O cerco imposto a Gaza, com fecho de passagens, falta de água e de eletricidade, foram ingredientes essenciais para a grande catástrofe humanitária que se desenrola em Gaza, de acordo com o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários. Ao mesmo tempo com as intensas operações terrestres e aéreas israelitas, vem comprometendo gravemente a capacidade dos intervenientes humanitários de garantir a existência de uma cadeia de abastecimento fiável e previsível e de um acesso humanitário seguro para chegar às pessoas necessitadas, deixando a operação humanitária “de joelhos”.

Em vez de um acesso mais rápido a partir do porto de Ashdod, em Israel, através da passagem de Erez para chegar ao norte de Gaza, onde se prevê que a fome extrema ocorra a qualquer momento entre meados de março e maio de 2024 e que 70 por cento da população deverá enfrentar uma fome de catástrofe entre março e julho de 2024, a entrega de ajuda descarregada em Port Said, no Egipto, para Gaza é demorada e repleta de obstáculos. Dado que envolve descarregamento, recarregamento, armazenamento e rastreio de fornecimentos de ajuda em vários locais no Egipto e em pontos de passagem israelitas que conduzem a Gaza, resultando em atrasos e ineficiências significativos.

“Uma vez dentro de Gaza, os comboios de ajuda têm de viajar por estradas lotadas e intransitáveis, sob risco de munições não detonadas, muitas vezes perto de combates e no meio de multidões famintas e desesperadas. Os soldados das forças de defesa israelita muitas vezes atrasam ou impedem que os comboios atravessem os postos de controlo, com pedidos rejeitados de passagem segura, buscas, detenções e, por vezes, violência contra comboios de ajuda e contra multidões que aguardam”, acrescentou o Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários.

Em 22 de Março, o Subsecretário-Geral da ONU para os Assuntos Humanitários e o Coordenador da Ajuda de Emergência, Martin Griffiths, reiterou o seu apelo a um cessar-fogo e apelou a Israel para que levantasse todos os impedimentos à ajuda.

Entre 23 e 29 de março, 42 por cento (8 em 19) das missões de ajuda humanitária ao norte de Gaza foram facilitadas pelas autoridades israelitas, 42 por cento (8) foram negadas e 16 por cento (3) foram adiadas ou retiradas. Durante o mesmo período, 93 por cento (38 de 41) das missões de ajuda às zonas a sul do Wadi Gaza que requerem coordenação foram facilitadas pelas autoridades israelitas e 7 por cento (3) foram retiradas. No total, desde 1 de Março, 48 por cento (29 de 60) das missões de ajuda ao norte de Gaza foram facilitadas pelas autoridades israelitas, incluindo uma que foi inicialmente facilitada mas posteriormente impedida, 30 por cento (18) foi negada e 22 por cento (13) foram adiados ou retirados.

Além disso, dos 187 pedidos de missão de ajuda para áreas ao sul de Wadi Gaza que requerem coordenação, 80 por cento (150) foram facilitados pelas autoridades israelitas, 10 por cento (19) foram negados e 10 por cento (18) foram adiados ou retirado. Missões facilitadas envolvidas: distribuição de alimentos; movimentação de equipas médicas de emergência; avaliações de combustível, nutrição e saúde; entrega de suprimentos para hospitais; e apoio a atividades de água, saneamento e higiene.

Uma nova avaliação realizada pelo Grupo de Educação sobre os danos escolares na Faixa de Gaza conclui que pelo menos 67 por cento das escolas em Gaza necessitarão de uma reconstrução total ou de grandes obras de reabilitação para voltarem a funcionar. A avaliação baseia-se numa análise de imagens de satélite devido às limitações de acesso, especialmente no norte de Gaza, aos intensos bombardeamentos israelitas e aos recorrentes cortes de telecomunicações. A análise também fornece provas que complementam relatórios, fotos e vídeos anteriormente recebidos pelo Cluster “que mostram que as escolas estão a ser utilizadas para operações militares pelas Forças de Segurança Israelitas, incluindo a utilização como detenção, centros de interrogatório e bases militares”.

No total, de acordo com a avaliação, cerca de 38 por cento dos edifícios escolares (212) foram “diretamente atingidos” desde 7 de outubro, 30 por cento “danificados”, 18 por cento “provavelmente ou possivelmente danificados” e 12 por cento com nenhum dano relatado.

As escolas diretamente atingidas excluem 35 incidentes em que foram atingidos parques infantis, mas não estruturas, que são classificados na categoria “danificados”. Cerca de 84 por cento (94 de 212) das escolas diretamente atingidas situam-se na província de Gaza, seguida por Khan Younis, Norte de Gaza e Deir al Balah. Além disso, entre as 122 escolas diretamente afetadas, 58 por cento (112) são escolas públicas, 29 por cento (62) são escolas da Agência de Assistência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Próximo Oriente e 13 por cento (28) são escolas privadas.

A avaliação conclui ainda que 59 por cento dos edifícios escolares que foram utilizados como abrigos para deslocados internos foram diretamente atingidos ou danificados, 53 escolas estão agora classificadas como totalmente destruídas e 38 escolas perderam pelo menos metade das suas estruturas.