Faltam camas nos hospitais!: um pesadelo no inverno

As camas extra nos Serviços de Medicina Interna, na época de Inverno, são um pesadelo para os profissionais de saúde. João Araújo Correia, internista, descreve, neste seu artigo, uma situação que exige medidas urgentes.

João Araújo Correia, Internista e Presidente da SPMI
João Araújo Correia, Internista e Presidente da SPMI. Foto: DR

Para os Internistas portugueses, a carência de camas de internamento para os doentes que delas necessitam e que afluem ao Serviço de Urgência, aumenta bastante no Inverno. Começa em dezembro e prolonga-se até ao final de maio. Depois disso, ficamos nos 98 por cento de lotação do costume, sem qualquer capacidade de resposta a um acréscimo do afluxo.

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna realizou no dia 18 de fevereiro um inquérito aos Serviços de Medicina Interna, para conhecer em concreto o número de camas extra e de doentes com internamento concluído que tinham à sua responsabilidade nesse dia.

Responderam 78 Serviços de Medicina Interna de todo o país, para um total de 103, o que corresponde a 76 por cento de respostas.

Todos os Serviços de Medicina Interna tinham taxa de ocupação de 100 por cento, da sua lotação base de 4.866 camas.

Verificou-se também que estes serviços tinham à sua responsabilidade mais 2.142 camas extra (um aumento de 44 por cento), distribuídas da seguinte forma: 1.140 doentes internados noutros serviços do hospital, 841 doentes internados no Serviço de Urgência, e 161 doentes nos Serviços de Medicina Interna, acrescidos à sua lotação.

Esta é a primeira vez que podemos contabilizar este enorme acréscimo de trabalho a que os Internistas são submetidos num período nunca inferior a 3 meses (mais de 44 por cento), que tem de ser contabilizado como produção adicional.

Também é muito revelador o grande número de doentes internados nos Serviços de Urgência (841), que tem sido o grande fator de demissão de muitos chefes de equipa de urgência por todo o país, muitas vezes confrontados com passagens de turno com mais de 100 doentes.

Não é possível continuar a esconder este problema sério, todos os anos repetido. Tem de haver um plano de resposta em cada hospital! Mas, embora possa e devam ser dadas respostas locais, são imprescindíveis diretivas nacionais, que garantam a equidade entre os hospitais, com qualidade e segurança no tratamento dos doentes.

Autor: João Araújo Correia, Internista e Presidente da SPMI

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) é uma associação científica, fundada em 1951. Tem como finalidade promover o desenvolvimento da Medicina Interna ao serviço da saúde da população portuguesa. Promove ainda a investigação e o estudo de problemas científicos, bem como a organização de atividades educacionais, no âmbito da formação contínua, dirigidas aos médicos e à população em geral, no campo da Medicina Interna.