Gaza: médicos da MSF obrigados a fazer cirurgias sem anestesia

Na Faixa de Gaza a equipa de cirurgiões dos Médicos Sem Fronteiras está a tratar pacientes com lesões graves, amputações, membros esmagados e queimaduras graves, mas sem anestesia e medicamentos, com reutilização de gases básicas e sem outro material médico.

Gaza: médicos da MSF obrigados a fazer cirurgias sem anestesia
Gaza: médicos da MSF obrigados a fazer cirurgias sem anestesia . Foto: © OMS

Continuam a ser registados intensos bombardeamentos israelitas aéreos, terrestres e marítimos em grande parte da Faixa de Gaza, resultando em mais vítimas civis, deslocações da população e destruição de infraestruturas civis. Também continuam a ser relatadas operações terrestres e combates intensos entre as forças israelitas e grupos armados palestinianos, particularmente em Jabalya (norte de Gaza), cidade de Gaza, Deir al Balah e Khan Younis, como vem relatando o .

Entre a tarde de 22 de fevereiro e as 10h30 de 23 de fevereiro, dados do Ministério da Saúde de Gaza, indicam que pelo menos 104 palestinianos terão sido foram mortos e pelo menos 160 palestinianos terão sido feridos. Entre 7 de outubro de 2023 e 10h30 de 23 de fevereiro de 2024, pelo menos 29.514 palestinianos foram mortos em Gaza e 69.616 palestiniamos ficaram feridos, de acordo com os dados revelados pelo Ministério da Saúde em Gaza.

Em 22 de fevereiro, as forças israelitas conduziram ataques aéreos alegadamente contra edifícios residenciais, principalmente em Deir al Balah e Rafah, sem aviso prévio, resultando na morte e ferimentos de várias pessoas da mesma família, incluindo crianças.

Entre os incidentes mortais relatados em 21 e 22 de fevereiro estão os seguintes:

No dia 21 de fevereiro, por volta das 20h20, 22 palestinianos terão sido mortos e dezenas de outros ficaram feridos, quando um edifício residencial no campo ocidental de An Nuseirat, em Deir al Balah, foi atingido.

No dia 22 de fevereiro, por volta das 00h15, três palestinianos, incluindo uma criança, teriam sido mortos e outros ficaram feridos, quando um edifício residencial que abrigava pessoas deslocadas internamente no bairro de Al Geneina, no norte de Rafah, foi atingido.

No dia 22 de fevereiro, por volta das 13h30, quatro palestinianos terão sido mortos, incluindo três crianças, quando um edifício residencial em Deir al Balah foi atingido.

No dia 22 de fevereiro, por volta das 7h20, quatro palestinianos terão sido mortos, quando um edifício residencial em Az Zawayda, Deir al Balah, foi atingido.

Em 22 de fevereiro, no bairro de Zaytoun, na cidade de Gaza, cerca de dezoito pessoas da mesma família terão sido mortas, e várias permanem desaparecidas, num ataque a um edifício residencial.

Entre as tardes de 22 e 23 de fevereiro, não foi relatada a morte de qualquer soldado israelita, em Gaza. Até 23 de fevereiro, 235 soldados terão sido mortos e 1.396 soldados ficaram feridos em Gaza desde o início da operação terrestre, segundo os militares israelitas. Além disso, mais de 1.200 israelitas e cidadãos estrangeiros foram mortos em Israel, segundo as autoridades israelitas, a grande maioria em 7 de outubro. A 23 de fevereiro, as autoridades israelitas estimam que cerca de 134 israelitas e cidadãos estrangeiros permanecem cativos em Gaza e incluem vítimas mortais cujos corpos estão retidos.

Em 22 de fevereiro, Christopher Lockyear, secretário-geral de Médicos Sem Fronteiras (MSF), informou o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que no dia 21 de fevereiro, um abrigo que recolhia profissionais de MSF e suas famílias em Gaza foi bombardeado, matando dois familiares de profissionais de MSF e ferindo outras seis pessoas. A equipa de MSF está tratando pacientes com lesões graves, amputações, membros esmagados e queimaduras graves, apesar da falta de camas hospitalares, medicamentos e outro material médico. Os cirurgiões estão a reutilizar gazes básicas nos pacientes e tiveram que realizar amputações sem anestesia em crianças. Os pacientes precisam de cuidados sofisticados e de reabilitação longa e intensiva, mas desde 7 de outubro, a MSF foi forçada a evacuar nove unidades de saúde diferentes.

O secretário-geral de MSF apelou novamente a um cessar-fogo imediato e sustentado em Gaza e à proteção inequívoca das instalações médicas, dos funcionários e dos pacientes.

Também em 22 de fevereiro, os membros do Conselho de Segurança da ONU expressaram a sua profunda preocupação relativamente às condições extremamente difíceis e perigosas sob as quais o pessoal da ONU e a comunidade humanitária e de saúde em geral operam em Gaza e sublinharam a importância de respeitar os mecanismos de resolução de conflitos para a segurança e proteção de Pessoal e instalações da ONU.

Em 22 de fevereiro, a Sociedade do Crescente Vermelho Palestiniano (PRCS, na sigla do inglês) informou que o seu sistema VHF tinha sido desativado, devido a bombardeamentos de artilharia perto do Hospital Al Amal em Khan Younis, agravando os desafios na comunicação com as equipas de campo, em particular ambulâncias.

No dia 20 de fevereiro, foram entregues 7.500 litros de combustível ao hospital, para fazer funcionar o gerador de energia de reserva, mas o hospital necessita urgentemente de combustível adicional, bem como de alimentos e material médico. Cerca de 140 pacientes doentes e feridos, suas famílias e profissionais de saúde ainda permanecem no Hospital Nasser, também em Khan Younis, que enfrenta dificuldades para funcionar, sem eletricidade, água corrente, alimentos suficientes ou água potável.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 22 de fevereiro, existiam 12 hospitais parcialmente funcionais na Faixa de Gaza, incluindo seis no norte de Gaza e seis no sul, além de três hospitais de campanha parcialmente funcionais.

Em 22 de fevereiro, o recém-nomeado Diretor Regional para o Mediterrâneo Oriental da OMS sublinhou que os cortes no financiamento da agências das Nações Unidas, UNRWA, resultariam em “outras consequências catastróficas” para a população de Gaza e afirmou que “nenhuma agência, incluindo a OMS, pode colmatar as lacunas críticas deixadas se a UNRWA não conseguir funcionar plenamente.’

Os níveis catastróficos de insegurança alimentar aguda estão supostamente a intensificar-se em Gaza, com a Save the Children a relatar que as famílias são forçadas a “procurar restos ou comida deixada por ratos e a comer folhas no desespero de sobreviver”, num contexto de rápido declínio dos fornecimentos de ajuda. Sem um maior acesso a alimentos adequados, água, saneamento, higiene e serviços abrangentes de saúde e nutrição para crianças e famílias, prevê-se que o risco de fome aumente, acrescentou a organização.

Recentemente, o Grupo de Nutrição Mundial relatou um aumento acentuado da desnutrição entre crianças e mulheres grávidas e lactantes em Gaza, com sérias preocupações no norte de Gaza. Para evitar a ameaça de fome em massa, a Save the Children apela a um acesso seguro e irrestrito à ajuda humanitária para um aumento maciço no fornecimento de ajuda humanitária e no pessoal necessário para a sua prestação, especialmente no norte de Gaza.