Gaza: testemunha assassinato em massa de crianças em câmara lenta

ONG “Save the Children” alerta que a Faixa de Gaza testemunha “um assassinato em massa de crianças em câmara lenta“. Agências humanitárias e organizações das Nações Unidas alertam para fome generalizada e onde a ajuda é impedida.

Gaza: testemunha assassinato em massa de crianças em câmara lenta
Gaza: testemunha assassinato em massa de crianças em câmara lenta. Foto: ©OMS

No dia 1 de março de 2024 continuaram a ser relatados intensos bombardeamentos israelitas aéreos, terrestres e marítimos na maior parte do território palestiniano da Faixa de Gaza. Bombardeamentos que resultaram em mais vítimas civis, deslocação forçada da população e destruição de infraestruturas civis. Também continuaram a ser relatadas operações terrestres e combates intensos entre as forças israelitas e os grupos armados palestinianos do Hamas.

Entre a tarde de 29 de fevereiro e as 12h30 de 1 de março, dados do Ministério da Saúde de Gaza, indicam que terão sido mortos 193 palestinianos e que 920 palestinianos terão sido feridos. Com estas novas vitimas os números entre 7 de outubro de 2023 e 12h30 de 1 de março de 2024, sobem para pelo menos 30.228 palestinianos mortos em Gaza e para 71.377 palestinianos feridos.

No dia 1 de março, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, declarou: “Estou consternado com o trágico custo humano do conflito em Gaza – mais de 30.000 pessoas alegadamente mortas e mais de 70.000 feridas. Reitero o meu apelo a um cessar-fogo humanitário imediato e à libertação incondicional de todos os reféns.”

Como foi noticiado o Ministério da Saúde em Gaza indicou que o número de vítimas do incidente na Rua Rashid, a sul da cidade de Gaza, em 29 de fevereiro, aumentou para 112 mortos e 760 feridos. Um incidente que já levou vários países a apelar a uma investigação independente sobre as circunstâncias que levaram à morte e feridos dos palestinianos quando estes aguardavam ajuda humanitária.

O Secretário-Geral da ONU afirmou que “os civis desesperados em Gaza precisam de ajuda urgente, incluindo os do norte sitiado, onde as Nações Unidas não conseguem entregar ajuda há mais de uma semana”.

Entre outros incidentes mortais, relatados em 28 de fevereiro, estão os seguintes:

No dia 28 de fevereiro, por volta das 16h45, 14 palestinianos terão sido mortos e dezenas de outros feridos, quando quatro edifícios do Campo de Refugiados de An Nuseirat, em Deir al Balah, foram atingidos.

No dia 28 de fevereiro, por volta das 19h00, nove palestinianos terão sido mortos e dezenas de outros feridos, quando uma casa em An Nuseirat, em Deir al Balah, foi atingida.

À meia-noite de 28 de fevereiro, 18 corpos terão sido recuperados dos escombros em An Nuseirat, em Deir al Balah.

À meia-noite de 28 de fevereiro, 14 corpos teriam sido recuperados dos escombros em Khan Younis.

No dia 28 de fevereiro, por volta das 18h00, quatro palestinianos terão sido mortos e outros ficaram feridos, quando uma casa em Al Bureij, em Deir al Balah, foi atingida.

Entre as tardes de 29 de fevereiro e 1 de março, não houve conhecimento de relatos de soldados israelitas mortos em Gaza. Assim, dados dos militares israelitas indicam que até 1º de março, mantém-se que 240 soldados terão sido mortos e 1.432 soldados terão ficado feridos em Gaza desde o início da operação terrestre.

O Ministério da Saúde em Gaza voltou a informar que mais 10 crianças morreram em consequência de subnutrição e desidratação, incluindo quatro no Hospital Kamal Adwan, no norte de Gaza, em 29 de fevereiro.

Em 27 de fevereiro, a Save the Children alertou que Gaza está a testemunhar “um assassinato em massa de crianças em câmara lenta porque não há comida e que nada chega até elas”. Algum tempo que ecoam os alertas da UNICEF e da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a ameaça de desnutrição entre crianças.

Em 29 de fevereiro, o Secretário-Geral do Conselho Norueguês para os Refugiados, Jan Egeland, relatou ter testemunhado “as crianças de Gaza, visivelmente subnutridas, reduzidas a procurar nas ruas por comida e assistência. É inimaginável que uma população inteira seja deixada à fome enquanto grandes quantidades de abastecimentos ficam à espera a poucos quilómetros de distância, do outro lado da fronteira.

“O Secretário-Geral do Conselho Norueguês para os Refugiados apelou a todos os estados que apoiam as partes no conflito para “insistir num cessar-fogo e pleno acesso humanitário e fornecimento de ajuda. O sofrimento humano em Gaza já é inacreditável e esta guerra contra os civis deve terminar imediatamente.”

Em 29 de fevereiro, a União dos Municípios da Faixa de Gaza apelou à entrada imediata de combustível na cidade de Gaza e nas províncias do norte de Gaza, para permitir aos municípios fornecer serviços básicos, incluindo água, tratamento de águas residuais e recolha e transferência de resíduos sólidos. Nenhuma das províncias recebeu combustível desde o final de outubro de 2023, o que foi agravado pelo corte de eletricidade, o que levou a uma lacuna significativa na prestação de serviços e à falta de água, bem como à acumulação de resíduos e ao transbordo de esgotos.

Os apelos vêm dos mais variados dados das organizações humanitárias para que seja também fornecida maquinaria média e pesada e geradores de reserva para substituir equipamentos destruídos.

De acordo com a organização CARE, uma análise de imagens de satélite revela que as cidades da Faixa de Gaza registaram uma enorme diminuição na eletricidade, com a luz noturna reduzida em 84 por cento, e a cidade de Gaza assistiu à maior redução, de 91 por cento. A análise concluiu que 70 por cento dos hospitais tinham pouca ou nenhuma luz noturna, sendo os cortes de energia particularmente graves na cidade de Gaza e no Norte de Gaza. “Energia significa vida ou morte nos hospitais. Ouvimos falar de recém-nascidos que morrem porque não há eletricidade para as incubadoras; crianças param de respirar e mães morrem na mesa de operação simplesmente porque a máquina salva-vidas foi desligada”, afirmou o Diretor da organização CARE.