Investigadores portugueses criam sistema para monitorizar oceanos

Investigadores portugueses criam sistema autónomo que monitoriza de forma integrada os oceanos. O projeto MarinEye envolveu o CIIMAR, INESC TEC, IPMA e o MARE-IP Leiria para uma gestão mais sustentável dos recursos marinhos e redução dos impactos ambientais.

Oceano Atlântico, costa do Algarve
Oceano Atlântico, costa do Algarve. Foto: Rosa Pinto

A habitabilidade do nosso planeta está dependente dos processos oceânicos, mas até à data não tem sido viável observar e interpretar, em simultâneo, os diferentes componentes oceânicos, conjuntamente com diferentes níveis tróficos, desde microrganismos a mamíferos marinhos.

Investigadores, no âmbito do projeto MarinEye, financiado pelo programa EEA Grants, em 400 mil euros, desenvolveram um sistema autónomo que monitoriza de forma integrada os oceanos, permitindo assim uma gestão mais sustentável dos recursos marinhos e uma redução dos impactos de riscos ambientais.

O projeto MarinEye, liderado pelo Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), envolveu a colaboração com vários grupos de investigadores portugueses, nomeadamente do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente – Instituto Politécnico de Leiria (MARE-IP Leiria).

O trabalho dos investigadores permitiu desenvolver um protótipo do sistema com capacidade autónoma que conjuga vários módulos de forma integrada. No protótipo MarinEye identificamos os seguintes módulos:

Sistema de multisensores, que integra diferentes sensores físico-químicos para medir a temperatura, salinidade, oxigénio dissolvido, pH, entre outros, e uma plataforma de sensores óticos que vai ser validada para medir o dióxido de carbono dissolvido;

Sistema de imagem de alta resolução, que recolhe imagens de fito e zooplâncton, para avaliar a sua abundância e biodiversidade;

Sistema de acústica, com capacidade de fazer recolha de dados hidroacústicos, como informação relativa a avaliar a presença de mamíferos marinhos e fazer estimativas sobre a abundância de peixes;

Sistema de filtração autónomo, que filtrar e preservar o ADN / ARN de diferentes classes de tamanho das comunidades de micro-organismos que habitam e representam a maior biomassa dos oceanos.

O sistema inclui ainda uma plataforma de integração dos diferentes tipos de dados recolhidos pelos diversos módulos ou subsistemas. Software específico associado à plataforma vai permitir visualizar e sumariar os dados e desenvolver uma série de modelos com o objetivo de integrar e identificar inter-relações entre os diferentes parâmetros químicos, físicos e biológicos obtidos pelos diversos módulos do MarinEye.

Catarina Magalhães, investigadora do CIIMAR e coordenadora do projeto, e Eduardo Silva, coordenador do Centro de Robótica e Sistemas Autónomos do INESC TEC, consideram “que o conceito de monitorização integrada e sincronizada no tempo e espaço de parâmetros físicos, químicos e biológicos, implementado no MarinEye, é essencial para o conhecimento da complexidade dos ecossistemas marinhos.”

O resultado do trabalho dos investigadores permite concluir que “o conceito de monitorização integrada dos oceanos desenvolvido no projeto MarinEye (um protótipo multitrófico para monitorização oceânica) vai fornecer ferramentas que permitem identificar alterações na biodiversidade.”

Os investigadores indicam que num futuro próximo o sistema será “implementado em diferentes observatórios oceânicos” pelo que pretendem “operacionalizar a tecnologia em contexto real, e integrar no protótipo novas tecnologias, como biossensores, para recolher o máximo de informação dos diferentes níveis do compartimento biológico in situ.”

No projeto MarinEye, o CIIMAR foi o promotor do projeto, e em conjunto com o IPMA e o MARE-Politécnico de Leiria, formaram “uma equipa de biólogos e químicos de diversas especialidades responsáveis pela validação das variáveis obtidas com os diferentes módulos do MarinEye.”

O INESC TEC envolveu no MarinEye uma equipa de investigadores da área da robótica, uma equipa de especialistas no desenvolvimento de sensores em fibra ótica e uma equipa de investigadores especialistas em análise de dados, “responsáveis pelo desenvolvimento das componentes de robótica, sensores óticos e software de visualização e integração de dados, respetivamente.”

O protótipo MarinEye é apresentado, dia 29 de abril, às 16h00, no Centro de Robótica e Sistemas Autónomos do INESC TEC, localizado no Instituto Superior de Engenharia do Porto.