Mar de Sonhos – a emigração nos vapores transatlânticos

Brasil, EUA, Argentina e Venezuela foram alguns dos destinos dos emigrantes portugueses nos finais do século XIX e inícios do século XX. Uma emigração nos navios transatlânticos que Daniel Bastos aborda neste seu artigo.

Daniel Bastos, Historiador e Escritor
Daniel Bastos, Historiador e Escritor. Foto: DR

O Centro Português de Fotografia (CPF), instituição pública que assegura a conservação, valorização e proteção legal do património fotográfico nacional, no âmbito das suas dinâmicas dispõe de uma exposição itinerante que retrata a época em que a ligação entre o continente europeu e americano era feito por navio.

A exposição intitulada “Mar de Sonhos – a emigração nos vapores transatlânticos”, assenta em 22 fotografias, datadas do início do século XX, de autoria de Aurélio da Paz dos Reis (1862-1931), um importante e apaixonado fotógrafo amador, que se tornou também o grande pioneiro do cinema português.

As imagens a preto e branco de Aurélio da Paz dos Reis têm o condão de retratar o ciclo transoceânico da emigração portuguesa na transição para o século XX. Um período histórico nacional, em que a permanência de uma prática agrícola tradicional, uma incipiente industrialização e uma profunda assimetria entre o mundo rural e urbano, o interior e o litoral, levaram a que entre 1855 e 1914, mais de um milhão de portugueses, pressionados pela carestia de vida e baixos salários agrícolas, encetassem uma trajetória transoceânica em direção ao Brasil, aos EUA, à Argentina e à Venezuela.

Procedente do mundo rural e eminentemente masculino, este fluxo migratório, particularmente atraído pelo crescimento económico brasileiro, foi incisivo no Entre Douro e Minho, e sobretudo possível à revolução que se deu na navegação através da transição dos veleiros para os barcos a vapor.

O crescimento da emigração de portugueses para o Brasil esteve na origem, em 1852, da fundação da “Companhia de Navegação a Vapor Luso-Brasileira”, que teve ao seu serviço dois vapores, o “Donna Maria Segunda” e o “Dom Pedro Segundo”, ambos com capacidade para mais de 400 passageiros. Às vantagens da maior capacidade de transporte de passageiros, os barcos a vapor da “Companhia de Navegação a Vapor Luso-Brasileira”, e mais tarde da “Mala Real Inglesa”, que passou a garantir as ligações entre Portugal e o Brasil, aliavam ainda maior comodidade, segurança e rapidez, encurtando o tempo desta viagem transoceânica para menos de um mês.

Os barcos a vapor mantiveram-se até ao alvejar da segunda metade do séc. XX, época em que chegaram a Portugal os navios equipados com propulsão a diesel e se iniciou o ciclo da emigração intra-europeia, o grande meio de transporte dos emigrantes lusos.

Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor