Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar vencem Prémio Sakharov 2016

Parlamento Europeu reconhece duas jovens yazidis, Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar, com o Prémio Sakharov 2016.

Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar vencem Prémio Sakharov 2016
Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar vencem Prémio Sakharov 2016. Desenhos: ©Ali Ferzat 2016

Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar, são sobreviventes da escravatura sexual do autoproclamado Estado Islâmico e defensoras da comunidade yazidi no Iraque. As duas jovens conseguiram fugir e vieram como refugiadas para a Europa.

As ativistas yazidis foram escolhidas pelo Presidente Parlamento Europeu, Martin Schulz, e pelos líderes dos grupos políticos, para o Prémio Sakharov deste ano, que é atribuído pelo Parlamento Europeu (PE) para a Liberdade de Pensamento.

Ao anunciar a decisão, o presidente do PE, Martin Schulz, disse, citado em comunicado do PE, que Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar “partilharam um passado triste e trágico”, mas “sentiram que tinham de sobreviver e lutar por aqueles que tiveram de deixar para trás”.

Martin Schulz elogiou a “coragem destas duas mulheres” para lutar contra a impunidade daqueles que cometeram “crimes horríveis” contra a comunidade yazidi no Iraque. “São a voz de tantas vítimas do Estado Islâmico e mostram que é possível defender a liberdade e lutar contra a injustiça”, disse o presidente do PE.

A atribuição do Prémio Sakharov a Nadia Murad e a Lamiya Aji Bashar mostra que “a sua luta não foi em vão e que estamos preparados para ajudá-las na luta contra o sofrimento e a brutalidade infligidos pelo autoproclamado Estado Islâmico, aos quais ainda estão expostas tantas pessoas”, afirmou o presidente do PE.

As duas jovens yazidis “foram capazes de fugir para a Europa e de encontrar aqui um porto seguro”, acrescentou Martin Schulz, e tornaram-se porta-vozes das mulheres vítimas do grupo terrorista, defensoras públicas da comunidade yazidi no Iraque, uma minoria religiosa que tem sido objeto de uma campanha de genocídio por militantes do designado Estado Islâmico (EI).

Como indica o PE, em 3 de agosto de 2014, o EI assassinou todos os homens da aldeia de Kocho, cidade natal de Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar, em Sinjar, no Iraque. Na sequência do massacre, as mulheres e as crianças foram escravizadas: todas as jovens, incluindo Nadia, Lamiya e as suas irmãs, foram raptadas, compradas e vendidas várias vezes, e exploradas para fins de escravatura sexual.

Durante o massacre de Kocho, Nadia Murad perdeu seis dos seus irmãos e a mãe, que foi morta juntamente com oitenta mulheres mais idosas consideradas como não tendo qualquer valor sexual.

Lamiya Aji Bashar também foi explorada como escrava sexual, juntamente com as suas seis irmãs. Foi vendida cinco vezes entre os militantes e forçada a fabricar bombas e coletes suicidas em Mossul depois dos militantes do EI executarem o seu pai e os seus irmãos.

O PE indica também que, em novembro de 2014, Nadia Murad conseguiu fugir com a ajuda de uma família vizinha, que a retirou clandestinamente da zona controlada pelo EI, permitindo-lhe seguir para um campo de refugiados no norte do Iraque e depois para a Alemanha. Um ano mais tarde, em dezembro de 2015, dirigiu-se ao Conselho de Segurança das Nações Unidas na sua primeira sessão sobre tráfico de seres humanos com um discurso de grande impacto sobre a sua experiência.

Em setembro de 2016, tornou-se a primeira Embaixadora da Boa Vontade do UNODC para a Dignidade dos Sobreviventes do Tráfico de Seres Humanos, participando em iniciativas de sensibilização globais e locais sobre a difícil situação das inúmeras vítimas do tráfico de seres humanos. Em outubro de 2016, o Conselho da Europa homenageou-a com o Prémio dos Direitos Humanos Václav Havel.

Lamiya Aji Bashar tentou fugir várias vezes até escapar finalmente em abril, com a ajuda da sua família, que contratou passadores locais. Ao fugir da fronteira curda para território controlado pelo Governo do Iraque, com militantes do EI no seu encalço, uma mina terrestre explodiu, matando duas pessoas próximas e deixando-a ferida e quase cega.

Lamiya Aji Bashar conseguiu escapar e acabou por ser enviada para tratamento médico na Alemanha, onde se juntou aos seus irmãos sobreviventes. Desde a sua recuperação, Lamiya Aji Bashar tem trabalhado ativamente na sensibilização para a difícil situação da comunidade yazidi e continua a ajudar mulheres e crianças que foram vítimas da escravatura e das atrocidades do EI.