Numa atualização sobre a situação global da cólera a Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou que continua a deteriorar-se, impulsionada pelos conflitos e pela pobreza.
Em 2025 e até agora, foram notificados 390.723 casos de cólera e 4.332 mortes em 31 países, mas a OMS lembra que os números são subestimados, mas que refletem uma falha coletiva no combate à doença, dado que a cólera é prevenível e facilmente tratável. No entanto, continua a ceifar vidas.
Kathryn Alberti, do gabinete técnico da OMS para a cólera referiu: “Estamos especialmente preocupados com a cólera no Sudão, no Chade, na República Democrática do Congo, no Sudão do Sul e no Iémen”, e “em todos estes países, o conflito está a alimentar a cólera.”
Um ano após o início do surto no Sudão, a cólera atingiu todos os estados. Só este ano, foram registados 48 768 casos e 1094 mortes, o que indica uma elevada taxa de mortalidade de 2,2%, acima do limiar de 1% quando há tratamento adequado.
Em algumas áreas os casos têm estabilizado ou diminuído, como no caso de Cartum, mas estão a aumentar na região do Darfur e a afetar o vizinho Chade.
Em Tawila, no norte do Darfur, os refugiados quadruplicaram a população de 200 000 para 800 000, sobrecarregando os sistemas de água e saneamento. As pessoas têm, em média, apenas 3 litros de água por dia – para beber, cozinhar, lavar roupa e limpar, referiu Kathryn Alberti.
A especialista da OMS indicou que no vizinho Chade, onde o primeiro caso foi registado há pouco mais de 1 mês, já foram registados mais de 500 casos e 30 mortes, tanto nos campos como nas comunidades de acolhimento na província fronteiriça de Ouadai.
Dado que a estação das chuvas começou e a previsão é que a situação se agrave, assim a OMS intensificou a sua resposta na região do Darfur e no vizinho Chade, prevendo o agravamento do saneamento e das estradas inundadas, o que afetará o acesso tanto dos profissionais de ajuda humanitária como de mantimentos.
A OMS está trabalhar em conjunto com parceiros e a mobilizamos equipas de resposta rápida para vigilância e armazenamento de mantimentos essenciais para a cólera na região. Atualmente 17 centros de tratamento da cólera, com uma capacidade total de 670 camas, estão operacionais no Darfur.
Mas a OMS também está a reforçar a vigilância, a formar profissionais de saúde em cuidados clínicos e de controlo de infeções, e ainda a financiar testes de qualidade da água e a coordenar esforços de saúde pública transfronteiriços com o Chade.
No entanto, a violência e a burocracia estão a bloquear o acesso às populações e grandes áreas do Darfur e do Cordofão continuam a não serem acessíveis.
A especialista da OMS lembrou que desde dezembro de 2024, a produção de vacinas orais contra a cólera atingiu níveis recorde, com uma produção de 6 milhões de doses por mês, o que é nível mais elevado desde 2013. No entanto, a produção foi inferior à procura.
Desde janeiro, o Grupo de Coordenação Internacional para o Fornecimento de Vacinas recebeu 38 pedidos de 12 países, ou seja o triplo em relação ao mesmo período de 2024. Em 2025 já foram alocadas mais de 40 milhões de doses, em comparação com 35 milhões de doses alocadas em todo o ano de 2024.
Do total das doses aprovadas em 2025, mais de 85% destinam-se a países que enfrentam crises humanitárias, sendo um terço do total destinada ao Sudão. Mas o Sudão não é o único país preocupante.
Na República Democrática do Congo, foram reportados, em 2025, mais de 44.521 casos e 1.238 mortes, principalmente no leste afetado pelo conflito. No Sudão do Sul, quase 70.310 casos e mais de 1.158 mortes. No Iémen, mais de 60.794 casos e 164 mortes.
Para a OMS estes números têm duas coisas em comum: primeiro, são demasiado elevados, muitas pessoas foram afetadas, e segundo, são motivados pelo conflito. Dado que o conflito está a obrigar as pessoas a fugir, muitas vezes para acampamentos sobrelotados, onde as instalações de água, saneamento e higiene são escassas.
Em face da situação a OMS pede aos governos e a comunidade internacional para:
- Mobilizar financiamento urgente.
- Apoiar a rápida distribuição de vacinas e mantimentos, e o acesso seguro para os trabalhadores humanitários.
- Investir na prevenção a longo prazo através da água e do saneamento, e de sistemas de vigilância mais fortes.
- Ninguém deve morrer por não ter acesso a água potável.














