As autoridades israelitas terão autorizado equipas da Organização das Nações Unidas (ONU) de entrar na Faixa de Gaza para levarem alguns suprimentos humanitários aos palestinianos. No entanto, itens essenciais, como produtos de higiene ou combustível, não foram autorizados.
No entanto, como relata o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, sigla em inglês) até as 18h30, horário local, nenhum dos suprimentos terá saído de Kerem Shalom. Dado que, até a noite de ontem, as autoridades israelitas só permitiram que equipas da ONU passassem por áreas inseguras – onde saques eram altamente prováveis, dada a privação prolongada da população de Gaza, após 11 semanas de bloqueio total.
O OCHA refere que em conjunto dos parceiros humanitários têm-se adaptando com as autoridades israelitas para identificar a melhor rota possível de Kerem Shalom para Gaza, para garantir que o fluxo de ajuda não seja interrompido ou suspenso. Os parceiros estão em contacto com líderes comunitários em Gaza para mitigar o risco de saques e garantir que os suprimentos que entrem em Gaza cheguem às pessoas que deles dependem.
Mas o OCHA enfatiza que os suprimentos limitados autorizados a entrar em Kerem Shalom não são suficientes para atender às vastas necessidades de Gaza. E enquanto isso, os bombardeamentos continuam por toda a Faixa de Gaza. Com o Ministério da Saúde em Gaza a informar que foram mortas nas últimas 24 horas dezenas de pessoas. Ontem, 21 de maio, o Ministério da Saúde em Gaza fez um apelo urgente para doações de sangue para os doentes e feridos.
Grande número de pessoas continua a ser deslocada, fugindo para salvar as suas vidas no meio de intensos bombardeamentos contra as comunidades e sem um local seguro para se abrigarem e sem ou qualquer bem alimentar e de saúde. O OCHA relata que 80% da Faixa de Gaza está agora sujeita a ordens de deslocamento ou localizada em zonas militarizadas por Israel. Essas zonas exigem que os agentes humanitários coordenem seus movimentos com as autoridades israelenses.
Os parceiros humanitários relatam que, nos últimos dias, quase metade das pessoas recém-desalojadas fugiram sem levar qualquer dos pertences. O deslocamento contínuo da população de Gaza está a colocar imensa pressão sobre as equipas humanitárias, especialmente quando não há alimentos ou outros suprimentos básicos para oferecer.
Na Cidade de Gaza, parceiros humanitários relatam uma extrema falta de abrigos: locais de desabrigados e prédios residenciais estão superlotados. As pessoas estão a instalar-se em estruturas abandonadas, inacabadas, destruídas ou danificadas. Algumas estão a dormir ao relento.
O OCHA ressalta que os civis devem ser protegidos, incluindo aqueles que fogem e são forçados a sair devido a ordens de deslocamento, bem como aqueles que permanecem apesar dessas ordens.
Enquanto isso, os ataques a instalações de saúde continuam. Hoje, 21 de maio, o Hospital Al Awda, o único hospital parcialmente funcional na província de Gaza do Norte, com a unidade ainda atendendo uma dúzia de pacientes, foi atingido, e ontem, o Hospital Kamal Adwan encerrou as operações. Pacientes e equipa médica foram forçados a mudar-se para a Cidade de Gaza, incluindo seis pacientes que estavam a ser tratados em seu centro de estabilização de desnutrição.
Mais ao sul, em Khan Younis, o Hospital Europeu de Gaza continua sem qualquer serviço, depois de ter sido atacado, na semana passada. O fecho do hospital deixou pacientes sem serviços vitais, incluindo neurocirurgia, atendimento cardíaco e tratamento de cancro – todos indisponíveis em outras partes de Gaza.
Até ontem, os parceiros humanitários relataram que foram preparadas cerca de 304.000 refeições diárias e entregues por cerca de 70 cozinhas. Cinco cozinhas retomaram as operações, incluindo duas em Khan Younis e três que foram transferidas para a Cidade de Gaza após recentes ordens de deslocamento no Norte de Gaza. No entanto, outras cinco na Cidade de Gaza e em Khan Younis foram forçadas a fechar após o esgotamento dos suprimentos.
Os parceiros humanitários que fornecem serviços de água, saneamento e higiene alertam que a situação da água em Gaza está a piorar a cada dia. A maior unidade de dessalinização no norte de Gaza está localizada numa área sujeita a deslocação. Isso interrompeu o acesso à água potável a cerca de 150.000 pessoas.
No sul de Gaza, em Al Mawasi, a situação também é grave, pois a área não está ligada à rede de água e depende fortemente do transporte de água por caminhão tanque. Isso requer veículos e combustível para dar resposta a população carente.
O OCHA continua a apelar pela abertura de múltiplas passagens para o transporte de ajuda humanitária, incluindo mercadorias comerciais. A ONU e os seus parceiros humanitários estão prontos para prestar assistência em larga escala. O direito internacional deve ser respeitado e as operações humanitárias devem ser facilitadas sem mais demora, releva a Agência da ONU.