Os empresários da diáspora e a valorização do património nacional

Preservação e conservação do património nacional é uma função do Estado mas que em muitos casos está a ser assumido por particulares, como nos lembra Daniel Bastos, dando o exemplo do plano de um grupo empresarial de emigrantes na Madeira.

Daniel Bastos, Historiador e Escritor
Daniel Bastos, Historiador e Escritor. Foto: DR

No início do mês de setembro, foi conhecido que um grupo de emigrantes madeirenses, que até à data não pretendem ser identificados, adquiriu o Forte de São José, também conhecido como Forte do Ilhéu, Forte da Pontinha ou Bateria da Pontinha, uma histórica fortificação madeirense localizada na freguesia da Sé, na cidade e concelho do Funchal.

Construído em meados do século XVIII, o Forte de São José é o local da primeira fortificação madeirense, na época do seu descobrimento. Espaço primevo de abrigo aos descobridores da ilha, o antigo baluarte foi com o decurso do tempo pouco valorizado enquanto património histórico, arquitetónico e cultural regional e nacional, tendo no final do séc. XX o mesma sido adquirido por um particular, e recentemente por um grupo empresarial de emigrantes que tem em vista a recuperação e valorização desta original estrutura patrimonial, cultural e histórica.

A ação benemérita e empreendedora deste grupo de emigrantes, cuja intenção visa a breve trecho abrir o Forte de São José ao público, com um núcleo museológico e com um bar de apoio, é reveladora das potencialidades da diáspora portuguesa, e em particular dos emigrantes-empresários na recuperação e valorização de património imobiliário público nacional.

Conquanto o conhecimento, estudo, proteção, valorização e divulgação do património cultural, constituam um dever do Estado, que assim assegura a transmissão de uma herança nacional, cuja continuidade e enriquecimento visa unir as gerações num percurso civilizacional singular, a escassez de recursos aliada à inadiável necessidade de salvaguardar património público que se encontra devoluto, impeliu o Governo a criar nesta área de atuação o programa Revive.

Lançado em 2016 pelos ministérios das Finanças, Cultura e Economia, o programa Revive permite concessionar a investidores privados património público que se encontra devoluto tornando-o apto para afetação a uma atividade económica com finalidade turística, e assim gerar riqueza e postos de trabalho. Trata-se de um projeto importante para a salvaguarda da identidade histórica, cultural e social do país, e um elemento potenciador do turismo e riqueza das regiões, que pode seguramente alcançar uma maior atratividade e dinâmica se for bem divulgado junto dos empresários portugueses espalhados pelo mundo.

Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor