Participantes na resposta ao 11 de setembro de 2001 sofrem graves problemas de saúde

Pessoas envolvidas na resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque, continuam a sofrer problemas graves de saúde: Doenças respiratórias, cancro e doenças mentais. Muitas doenças e a sua gravidade continuam a aumentar.

Participantes na resposta ao 11 de setembro de 2001 sofrem graves problemas de saúde
Participantes na resposta ao 11 de setembro de 2001 sofrem graves problemas de saúde

Vinte anos depois da queda das torres em Nova Iorque, EUA, devido a ataques terroristas, em 11 de setembro de 2001, muitas das pessoas envolvidas na resposta ao desastre ainda estão a sofrer graves problemas de saúde, revela estudo de investigação da Edith Cowan University.

Mais de 91.000 pessoas envolvidas no apoio às vítimas dos ataques foram expostos a uma série de perigos durante as operações de recuperação e limpeza, em que 80.785 foram inscritos no Programa de Saúde do World Trade Center (WTCHP, na sigla em inglês) criado após os ataques.

Erin Smith, especialista em resposta a desastres e emergências, na Edith Cowan University, indica que a análise dos participantes do WTCHP mostra que 3.439 já morreram – muito mais do que os 412 que morreram no dia dos ataques – em que 34% morreram de doenças das vias aerodigestivas, 30% morreram de cancro e 15% devido a doenças mentais.

Mortes atribuídas a esses três fatores e lesões musculoesqueléticas e traumáticas agudas aumentaram seis vezes desde o início de 2016.

Mais de 36.000, ou 45% dos participantes do WTCHP têm doenças respiratórias, 16% por cento têm cancro e outros 16% têm doenças mentais.

Uma batalha que contínua

Para Erin Smith os efeitos contínuos dos ataques foram claros, já que 16.009 participantes no apoio ao evento só se inscreveram no WTCHP nos últimos cinco anos, e “o número de participantes inscritos no programa continua a aumentar de forma constante”.

A investigação mostra que o cancro entre os que responderam ao 11 de setembro aumentou 185% nos últimos cinco anos – com a leucemia a emergir como particularmente prevalente. “A leucemia ultrapassou o cancro de cólon e bexiga no ranking”, referiu Erin Smith.

A investigadora acrescentou: “Isso equivale a um aumento de 175% nos casos de leucemia confirmados dentro deste grupo ao longo de um período de cinco anos”. Isto “não é surpreendente: há uma ligação comprovada entre a exposição ao benzeno e a leucemia mieloide aguda, e o benzeno é encontrado no combustível dos aviões, uma das exposições tóxicas no local do WTC.”

O cancro da próstata também é comum entre os participantes no apoio a desastre, com um aumento de 181% desde 2016. Embora isso se encaixe com o perfil de idade de muitos participantes do WTCHP, a investigadora referiu que alguns participantes desenvolvem uma forma agressiva e de crescimento rápido de cancro da próstata.

“A inalação da poeira tóxica no local do WTC potencialmente causou uma série de eventos celulares em cascata, aumentando o número de células T inflamatórias em alguns das pessoas envolvidas no apoio de 11 de setembro”, e “esse aumento da inflamação pode levar ao câncer de próstata”, referiu Erin Smith.

Os efeitos mentais

Estima-se que 15 a 20% das pessoas envolvidas no 11 de setembro de 2001 estejam a viver com sintomas de transtorno de stress pós-traumático – cerca de quatro vezes a taxa da população em geral.

Apesar de já terem passado 20 anos, muitos estudos mostram que o stress pós-traumático é um problema crescente para as pessoas envolvidas no evento, o que contrasta com o declínio encontrado na população em geral.

“Mesmo quase 20 anos depois, a prevalência de distúrbios de saúde mental e necessidade de tratamento de saúde mental permanece elevada entre este grupo de participantes do 11 de setembro: quase metade de todos os participantes relatam uma necessidade contínua de cuidados de saúde mental”, referiu a investigadora.

Os investigadores também descobriram que muitas imagens cerebrais em pacientes que responderam ao 11 de setembro de 2001 indicam o início de uma demência em estágio inicial. Um condição que é consistente com trabalhos anteriores observando que o comprometimento cognitivo entre estas pessoas ocorre em cerca de duas vezes a taxa de pessoas de 10 a 20 anos mais velhas.

COVID e outras ameaças emergentes

As condições subjacentes destas pessoas também os deixaram especialmente vulneráveis à COVID-19, devido a doenças como o cancro e as doenças respiratórias. Em que mais de 100 morreram devido a complicações do vírus, o que também exacerbou em muitas pessoas os sintomas de stress pós-traumático.

Também se espera que o número de pacientes com cancro associado à exposição ao amianto no local do World Trade Center aumente nos próximos anos, já que o mesotelioma geralmente leva de 20 a 50 anos para desenvolver-se.

“Agora estamos a começar a entender os efeitos de longo prazo da resposta aos ataques terroristas de 11 de setembro”, esclareceu a investigadora, e acrescentou: “A exposição ao 11 de setembro ainda causa impacto na saúde física e mental nos participantes de apoio às vítimas e na resposta ao evento e é provável que estes ainda estejam a desenvolver doenças relacionadas às suas exposições.”

Estatísticas de saúde nas pessoas envolvidas na resposta ao 11 de setembro de 2001

Causas de morte de 3439 pessoas

Doença das vias aerodigestivas, 34%

Cancro, 30%

Doenças mentais, 15%

Cancros mais comuns

Cancro da pele não melanoma

Cancro da próstata

Melanoma

As doenças das vias aerodigestivas mais comuns entre os que responderam ao 11 de setembro de 2001

Asma

Rinossinusite crónica

Doença do refluxo gastroesofágico