Previsões económicas para 2020 são de recessão profunda com retoma incerta

Previsões económicas da primavera para 2020 são de recessão geral. Portugal com crescimento negativo do PIB de 6,8%, uma inflação negativa de 0.2%, desemprego a atingir os 9,7% e a dívida pública em percentagem do PIB a subir para os 131,6%.

Previsões económicas para 2020 são de recessão profunda com retoma incerta
Previsões económicas para 2020 são de recessão profunda com retoma incerta. Foto: © Rosa Pinto

A pandemia de coronavírus representa um profundo choque para a economia mundial e europeia, com consequências socioeconómicas muito graves. Não obstante a rápida adoção de uma resposta estratégica global, tanto a nível nacional como europeu, a economia da União Europeia (UE) vai registar este ano uma recessão que assumirá proporções históricas.

Contração da economia

De acordo com as previsões económicas da primavera de 2020, da Comissão Europeia, a economia da área do euro registará uma contração sem precedentes, equivalente a 7,75 % em 2020, que deverá ser seguida de um crescimento de 6,25 % em 2021. Por seu turno, a economia da UE deverá contrair-se em 7,50 % em 2020 e crescer 6 % em 2021. As projeções de crescimento para a UE e a área do euro foram revistas em baixa em cerca de nove pontos percentuais face às previsões económicas do outono de 2019. Para Portugal a previsão é de uma contração do PIB de 6,8% para 2020.

Trata-se de um choque que afetou a economia da UE de forma simétrica, na medida em que a pandemia afetou todos os Estados-Membros, mas quer a queda da produção em 2020 (que oscilou entre -4,25 % na Polónia e -9,75 % na Grécia) quer a dinâmica da retoma em 2021 deverão divergir acentuadamente. A recuperação económica de cada Estado-Membro dependerá não só da evolução da pandemia no país como também da estrutura da sua economia, bem como da sua capacidade de resposta por intermédio de políticas de estabilização. Dada a interdependência das economias da UE, a dinâmica da recuperação em cada Estado-Membro afetará também a solidez da retoma dos demais Estados-Membros.

Valdis Dombrovskis, vice-presidente executivo, referiu: “Na fase atual, só é possível identificar, a título indicativo, a dimensão e a gravidade do choque que a crise do coronavírus irá representar para as nossas economias”.

Para o vice-presidente da Comissão Europeia “a gravidade do impacto dependerá da evolução da pandemia, da nossa capacidade para retomar a atividade económica de forma segura e da recuperação subsequente. Trata-se de um choque simétrico, uma vez que todos os países da UE foram afetados e deverão entrar em recessão este ano”.

Paolo Gentiloni, comissário europeu responsável pela Economia, afirmou: “A Europa está a atravessar um choque económico sem precedentes desde a Grande Depressão. Tanto a gravidade da recessão como a dinâmica da recuperação serão desiguais, uma vez que dependerão da celeridade com que as medidas de confinamento possam vir a ser suprimidas, da importância de setores como o turismo na economia de cada país e dos recursos financeiros à sua disposição. Esta divergência suscita riscos para o mercado único e para a área do euro, mas é possível atenuá-los mediante uma ação decisiva e conjunta a nível europeu. Temos de estar à altura deste desafio.”

Retoma incerta

No entender da Comissão Europeia a pandemia de coronavírus afetou gravemente o consumo, a produção industrial, o investimento, as trocas comerciais, os fluxos de capitais e as cadeias de abastecimento. Prevê-se que a supressão progressiva das medidas de confinamento deverá criar condições favoráveis à retoma. Não se prevê, todavia, que a economia da UE consiga compensar totalmente as perdas registadas este ano até ao final de 2021. O investimento continuará a ser fraco e não se verificará uma plena recuperação do mercado de trabalho.

A eficácia continuada das medidas estratégicas adotadas a nível nacional e europeu para dar resposta à crise assumirá uma importância crucial, tendo em conta a necessidade de limitar os prejuízos económicos e de facilitar uma recuperação célere e robusta, para que as economias retomem um rumo de crescimento inclusivo e sustentável.

A previsão é que o desemprego deverá aumentar, embora as medidas estratégicas possam contribuir para limitar esse aumento

Embora os regimes de tempo de trabalho reduzido, as subvenções aos salários e o apoio às empresas possam contribuir para limitar a perda de postos de trabalho, a pandemia de coronavírus terá graves repercussões nos mercados de trabalho.

Taxas de desemprego

A taxa de desemprego na área do euro deverá aumentar, passando de 7,5 % em 2019 para 9,50 % em 2020, antes de voltar a diminuir para 8,50 % em 2021. Na UE também se prevê um aumento da taxa de desemprego, que passará de 6,7 % em 2019 para 9 % em 2020, devendo em seguida diminuir para cerca de 8 % em 2021. Para Portugal a previsão do desemprego é de 9,7% em 2020.

O aumento do desemprego será mais significativo nalguns Estados-Membros do que noutros. Aqueles que registam uma elevada percentagem de trabalhadores com contratos de curta duração e em que uma grande parte da mão-de-obra depende do setor do turismo são particularmente vulneráveis. Os jovens que entram no mercado de trabalho na conjuntura atual também enfrentarão mais dificuldades para obter o seu primeiro emprego.

Descida acentuada da inflação

Prevê-se uma diminuição significativa dos preços no consumidor este ano, devido à quebra da procura e à queda acentuada dos preços do petróleo que, em conjunto, deverão mais do que compensar quaisquer aumentos isolados dos preços decorrentes de perturbações na cadeia de abastecimento relacionadas com a pandemia.

Atualmente, projeta-se que a inflação na área do euro, medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), atinja 0,2 % em 2020 e 1,1 % em 2021. No que respeita à UE, a inflação deverá atingir 0,6 % em 2020 e 1,3 % em 2021. Em Portugal deverá situar-se em menos 0,2% em 2020.

Aumento da dívida e dos défices públicos

Os Estados-Membros reagiram de forma decisiva, tendo adotado medidas orçamentais para limitar os prejuízos económicos causados pela pandemia. Os denominados «estabilizadores automáticos», como o pagamento de prestações da segurança social, em conjugação com as medidas orçamentais discricionárias, deverão resultar no aumento das despesas. Em consequência, prevê-se um aumento do défice público agregado da área do euro e da UE, que deverá passar de apenas 0,6 % do PIB em 2019 para cerca de 8,50% em 2020, antes de diminuir para aproximadamente 3,50 % em 2021.

Após uma trajetória decrescente desde 2014, o rácio dívida pública/PIB deverá igualmente aumentar. Na área do euro, prevê-se que este rácio aumente de 86 % em 2019 para 102,75 % em 2020, devendo em seguida diminuir para 98,75 % em 2021. Na UE, prevê-se que aumente de 79,4 % em 2019 para cerca de 95 % em 2020, devendo em seguida diminuir para 92 % em 2021. Para Portugal a previsão é de um aumento para 131% do PIB, em 2020.