A porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários em Gaza, Olga Cherevko, em declaração à comunicação social, referiu que centenas de milhares de civis palestinianos espancados, exaustos e aterrorizados foram obrigados a fugir da cidade de Gaza para uma área já tão superlotada que até pequenos animais necessitam de procurar espaço para estar e se movimentar.
Olga Cherevko relatou que os hospitais abrigam pacientes em corredores e varandas, e que água limpa, alimentos nutritivos e a própria vida deixaram de ser direitos básicos, mas bens tão raros que a maioria só sonha por vir a tê-los em algum dia, se sobreviverem aos bombardeamentos e a outros ataques israelitas.
Na zona o oeste, o mar está emoldurado por navios de guerra israelitas, e com ondas ameaçadoras que engolem tendas quando as marés sobem. No leste, no norte e no sul, Olga Cherevko relata que forças terrestres e tanques israelitas apertam o espaço que vai desaparecendo, enquanto no espaço aéreo os drones e os caças circulam, com um som ensurdecedor que fica para sempre gravado na memória, o que é um aviso de que nenhum lugar é seguro.
No relato, Olga Cherevko descreveu que um amigo lhe mandou uma mensagem, com o texto: “Tentei encontrar espaço no sul, mas não há nenhum.”
O primo do amigo da mensagem, de 8 anos, morreu na semana passada de forma instantânea num ataque israelita, quanto esperava a cozedura do pão, em conjunto com várias outras crianças. Também a filha que acabou de fazer dois anos só conheceu a guerra durante a sua pequena vida. Quando uma bomba cai perto, esconde-se debaixo de uma mesa na cozinha comunitária do pai, onde ele continua alimentar milhares de pessoas diariamente, levando sustento e esperança para aqueles que perderam tudo. Olga Cherevko afirmou: “Gaza não precisa de piedade. Gaza precisa do fim dessa violência terrível.”
Olga Cherevko relatou: “O cheiro inconfundível da morte está por toda a parte – uma lembrança sombria de que as ruínas que ladeiam as ruas escondem os restos mortais de mães, pais e filhos. Humanos que um dia riram, choraram e sonharam. As suas vidas foram interrompidas pelas máquinas de matar da guerra, muitos dos quais nunca mais serão encontrados.”
No caminho de volta para Gaza, descreveu Olga Cherevko, “por estradas quase intransitáveis, enquanto as pessoas se aglomeravam ao redor dos nossos veículos, visivelmente perturbadas, implorando pelo fim daquele horror. Uma menina, a caminhar ao lado do pai, acenou quando passamos. Será que ela sobreviverá a este inferno? Será que os líderes mundiais que podem impedir esta guerra a consideram digna de paz? A sua vida está nas mãos daqueles que escolherem agir.”
“A dignidade e a esperança foram destruídas, com cada assassinato de um ente querido, cada ataque a uma linha de vida civil, cada negação de acesso. Sistemas que sustentam a vida foram sistematicamente desmantelados e destruídos”, descreveu Olga Cherevko.
A funcionária da Nações Unidas relatou: “ Os pais lutam para proteger seus filhos da violência, da fome, do medo. Famílias em fuga lotam as ruas, segurando os seus filhos nos braços, sem saber para onde irão, pois todas as opções parecem ter-se esgotado. A corrida contra o tempo, contra a morte, contra a propagação da fome, parece que nós, como humanitários, estamos correndo em areia movediça. Ainda mais porque os comboios humanitários são frequentemente impedidos, atrasados ou obstruídos pelas autoridades israelitas.”
Mas Olga Cherevko também descreveu que “no meio de tantas dificuldades, a humanidade brilha. Médicos, enfermeiros e paramédicos palestinianos trabalham 24 horas por dia, muitas vezes sem remuneração, remédios ou eletricidade. Trabalhadores humanitários de agências da Organização das nações Unidas (ONU), do Crescente Vermelho e de Organizações Não-Governamentais (ONGs) locais e internacionais entregam alimentos, remédios e água potável sob pressão. Pessoas comuns compartilham o pouco que têm com estranhos. Em cada ato de cuidado – uma recusa em deixar que a crueldade defina o futuro. Prova de que, mesmo nos momentos mais sombrios, o espírito humano perdura.”
A funcionária das Nações Unidas, em Gaza, descreveu ainda: “Muitas vezes perguntam-me se ainda tenho alguma esperança. A esperança pode ser tudo o que nos resta, então precisamos alimentá-la. Porque o silêncio da fadiga não deve abafar as vozes daqueles que enfrentam este pesadelo. Suas histórias de perda, resiliência e, sim, de esperança eterna, precisam ser contadas. E quando uma menina palestiniana faz um coração com as mãos quando nos encontramos, ou uma mãe me deixa segurar o seu precioso bebé, ou um avô me diz que o nosso trabalho aqui importa, eu sei que a esperança é eterna.”
“Mas a esperança por si só não manterá as pessoas vivas. São necessárias decisões urgentes que abram caminho para uma paz duradoura antes que seja tarde demais. Vozes que silenciem as bombas. Ações que parem o derramamento de sangue. Um cessar-fogo imediato e sustentado. Uma libertação imediata e incondicional de todos os reféns, que suportaram um sofrimento horrível, bem como de todos os detidos arbitrariamente. Proteção de todos os civis, onde quer que estejam em Gaza. Acesso humanitário irrestrito, inclusive ao norte, com ajuda fluindo por todas as travessias e por todos os corredores. Responsabilização: as leis da guerra não são opcionais, e suas violações devem ser investigadas e abordadas, em nome da justiça e para evitar a criação de um precedente perigoso”, lembrou Olga Cherevko.
A funcionária das Nações Unidas afirmou: “O povo de Gaza não está pedindo caridade. Está a pedir o direito de viver em segurança, com dignidade e em paz. E a nossa humanidade – a sua, a minha, a de todos nós – exige que ajamos agora.”
Olga Cherevko concluiu o seu relato referindo: “A história nos julgará não pelos nossos discursos, mas pelas nossas ações. Quando Gaza foi “atingida pelo fogo”, crianças morreram de fome e hospitais entraram em colapso – você agiu? Hoje, e todos os dias, é uma nova oportunidade para a comunidade internacional unir palavras e ações. Não perca, pois pode ser a última.”














