Sudão: OMS alerta que mulheres não têm acesso a cuidados de saúde

Hospitais e outras unidades de saúde destruídos ou ocupados por forças militares no Sudão. OMS e outras agências das Nações Unidas alertam para situação grave de acesso a cuidados de saúde de mulheres e meninas.

Sudão: OMS alerta que mulheres não têm acesso a cuidados de saúde
Sudão: OMS alerta que mulheres não têm acesso a cuidados de saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência de Saúde Sexual e Reprodutiva das Nações Unidas alertam que os ataques contínuos a instalações, equipamentos e trabalhadores de saúde no Sudão estão a impedir o acesso a cuidados de saúde das mulheres e das meninas. As mulheres grávidas são as mais afetadas.

A OMS indica que cerca de 67% dos hospitais nas áreas afetadas pelos combates estão fechados e várias maternidades não estão a funcionar, o que inclui o Hospital Omdurman, que é o maior hospital de referência no Sudão.

Estão a precisar de assistência médica urgente pelo menos 2,64 milhões de mulheres e meninas em idade reprodutiva, numa população de 11 milhões de pessoas no Sudão. Cerca de 262.880 de mulheres estão grávidas e mais de 90.000 deverão dar à luz nos próximos três meses. Todas as mulheres precisam de acesso a serviços críticos de saúde reprodutiva.

A OMS refere que desde abril, quando os combates começaram, verificou 46 ataques a profissionais e estabelecimentos de saúde que mataram oito pessoas e feriram outras 18, e que instalações e ativos de saúde também foram saqueados e os profissionais de saúde foram submetidos a violência. Várias instalações de saúde estão a ser usadas pelas forças armadas.

É descrito pela OMS que há relatos de uma ocupação militar dos armazéns do Fundo Nacional de Suprimentos Médicos em Cartum, onde são armazenados os medicamentos para serem distribuídos para todo o país, inclusive medicamentos para malária, e onde está localizada a farmácia nacional para doenças crónicas. O stock de suprimentos médicos de emergência e produtos de desenvolvimento da OMS é mantido em depósito nas instalações.

Os stocks de medicamentos e equipamentos das Nações Unidas para cuidados obstétricos, tratamento pós-estupro, bem como uma ampla gama de contracetivos, que são armazenados em armazéns em Cartum, Darfur do Sul, Darfur Ocidental e em outros lugares também estão inacessíveis. Instalações de saúde em vários estados, incluindo no Darfur do Sul, e no Darfur Ocidental, alertam que estão a enfrentar uma escassez crítica de suprimentos médicos.

Também é referido que os hospitais estão a ficar sem combustível para os geradores de energia eletricidade. Seis recém-nascidos morreram num hospital na cidade de Eld’aeen, no leste de Darfur, no espaço de uma semana devido a problemas como falta de oxigénio devido a interrupção de eletricidade e médicos locais estimaram que mais de 30 recém-nascidos morreram no hospital desde o início dos combates.

Em maio, a agência das Nações Unidas e o parceiro local, a CAFA Development Organization, forneceram combustível para sete maternidades em Cartum para garantir a disponibilidade de serviços de saúde para mulheres e recém-nascidos. Em apenas uma semana, foram realizados mais de 1.000 partos e cesarianas, com segurança. Atualmente a situação é desesperadamente preocupante sendo necessário garantir combustível e suprimentos para hospitais importantes para manter serviços essenciais.

A Agência de Saúde Sexual e Reprodutiva das Nações Unidas oferece assistência médica sexual e reprodutiva nas unidades de saúde e hospitais em todo o Sudão. As parteiras treinadas pela Agência continuam a apoiar as mulheres a dar à luz com segurança em casa e em unidades de saúde em funcionamento. Existem aproximadamente 27.000 parteiras a trabalhar no Sudão; por volta. A maioria das parteiras apoia 3 a 4 partos por dia.

A Agência das Nações Unidas está a criar espaços seguros para as mulheres fornecerem serviços de prevenção e resposta à violência baseada em género, incluindo tratamento pós-violação, aconselhamento e gestão de casos; além de fornecer serviços remotos. A Agência também está a treinar provedores de serviços e redes de proteção baseadas na comunidade na prevenção e resposta à violência baseada em género.

A OMS está a trabalhar em estreita colaboração com o Ministério da Saúde e outros parceiros para garantir a prestação de cuidados sexuais, reprodutivos, maternos e pediátricos essenciais, bem como cuidados obstétricos e neonatais de emergência em Cartum e Gezira e em estados que abrigam deslocados internos. A OMS está a fornecer medicamentos e suprimentos que salvam vidas e a cobrir os custos de funcionamento das unidades de saúde que fornecem esses serviços. A OMS também está a treinar profissionais de saúde em apoio de primeira linha, fornecimento de tratamento pós-violação e cuidados de saúde mental para sobreviventes de violência sexual e baseada em género e está a apoiar ONGs nacionais que fornecem serviços de violência baseada em género.

“Os profissionais de saúde estão a colocar as vidas em risco para fornecer serviços de emergência, maternidade, tratamento pediátrico e de doenças crónicas”, referiu o Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, citado em de imprensa da OMS.

O responsável da OMS pede “às partes em conflito que honrem os compromissos assumidos em Jeddah, em maio, incluindo a restauração de serviços essenciais e a retirada de forças de hospitais e instalações públicas essenciais.”

“O conflito deve parar, as instalações de saúde, os profissionais de saúde e os pacientes devem ser protegidos, a ajuda humanitária e médica deve ser permitida”, disse a Diretora Executiva da Agência de Saúde Sexual e Reprodutiva das Nações Unidas, Natalia Kanem. “As pessoas que precisam de cuidados de saúde urgentes não devem ter medo de sair de casa por medo da sua segurança, e o direito das mulheres aos cuidados de saúde reprodutiva deve ser respeitado, com ou sem conflito”, conclui Natalia Kanem.