Tony Amaral: fundador e benemérito da comunidade portuguesa de Palm Coast

De Ovar partiu para os EUA onde venceu. Tony Amaral mostrou que a capacidade de trabalho é determinante para o sonho americano. Daniel Bastos dá-nos a conhecer, neste seu artigo, este benemérito e fundador da comunidade portuguesa de Palm Coast.

Daniel Bastos, Historiador e Escritor
Daniel Bastos, Historiador e Escritor. Foto: DR

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.

No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano (“the American dream”).

Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças à capacidade de trabalho e de mérito, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso de Tony Amaral, benemérito e fundador da comunidade portuguesa de Palm Coast.

Natural do concelho de Ovar, distrito de Aveiro, António Amaral emigrou para a América em 1964, com 13 anos de idade, na companhia da mãe e dos quatro irmãos, ao encontro da figura paterna que emigrara três anos antes em demanda de melhores condições de vida para uma família de lavradores marcada pelo espectro de grandes carências, na esteira da larga maioria da população que durante a ditadura portuguesa vivia na pobreza, quando não na miséria.

A chegada a Nova Jérsia, para onde o pai emigrara no alvorecer dos anos 60, e onde o jovem ovarense haveria de conhecer a esposa Maria, também emigrante, natural de Viseu, e com quem se casou aos 18 amos, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”, que começou por ajudar o pai na mercearia no nordeste dos EUA.

A capacidade empreendedora, impelida no limiar da década de 1980 pelos sobressaltos que viveu nessa época aquando de uma série de assaltos à sua loja, num período em que já era pai, levaram António Amaral, mais conhecido como Tony, em 1983 para Palm Coast, cidade localizada no estado da Flórida, no condado de Flagler, onde na altura já tinha um terreno.

Dotado de rasgo e visão, um ano depois Tony Amaral abriu em Palm Coast uma construtora, e começou a dedicar-se à compra e venda de terrenos. Em particular, a emigrantes lusos radicados em Nova Jérsia e Connecticut, numa época em que Flórida se assumia como uma terra de oportunidades, e Palm Coast, onde atualmente a comunidade luso-americana ronda os cinco mil habitantes, acolhia a chegada dos primeiros portugueses através da ação empreendedora nos sectores da construção e do imobiliário da Amaral Custom Homes.

O sentido de esforço, trabalho e dedicação, permitiram ao fundador da comunidade portuguesa de Palm Coast, construir nas últimas décadas um império empresarial com bases sólidas nas áreas da construção civil e imobiliário, que foi capaz de obter dividendos do crescimento populacional da Flórida, um dos maiores entre os estados americanos, e simultaneamente resistir à crise do subprime que acometeu os EUA na primeira década do séc. XXI.

Radicado há mais de cinquenta anos nos EUA, o sucesso que o empresário alcançou ao longo dos últimos anos no mundo dos negócios, tem sido acompanhado de uma singular dimensão benemérita em prol da comunidade luso-americana. O espírito solidário de Tony Amaral, fundamental para a construção do Portuguese American Cultural Center of Palm Coast, foi paradigmaticamente consubstanciado em 2006, quando o empresário ovarense constituiu a Fundação Amaral, que além de atribuir bolsas de estudo a jovens de origem portuguesa, possuiu igualmente uma vertente humanitária, expressa durante este período de pandemia no fornecimento a agregados carenciados de alimentos e produtos de higiene.

Os relevantes serviços de cidadania e o reiterado orgulho nas raízes portuguesas, sentimento pátrio que incitou Tony Amaral em 2017, no decurso dos incêndios de Pedrógão Grande, a dinamizar um movimento que arrecadou milhares de dólares para ajudar as vítimas, concorreram para que recentemente, no dia 25 de julho, Dia do Município de Ovar, a autarquia do distrito de Aveiro entregasse ao seu filho ilustre a Medalha Municipal Prata.

Uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana, o exemplo de vida de Tony Amaral, inspira-nos a máxima do escritor Franz Kafka: “A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana”.

Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor