Aumenta o número de portugueses a morrer por doenças respiratórias

A mortalidade global por doenças respiratórias aumentou 12% entre 2005 e 2013 refere o relatório do Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR). Tendo a mortalidade por tumores malignos respiratórios aumentado 21% e devido a pneumonias o aumento foi de 28%.

Trabalhos de investigação
Trabalhos de investigação

Para este aumento de mortalidade não são alheias as debilidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS) face ao diagnóstico e internamentos na área respiratória, nomeadamente no que concerne às pneumonias e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), indica o ONDR no relatório agora divulgado.

“É na Região de Lisboa e Vale do Tejo que se verificam as maiores taxas percentuais de internamentos por Pneumonia, seguidas das regiões Norte e Centro”, indica Artur Teles de Araújo, presidente do ONDR e da Fundação Portuguesa do Pulmão, citado em comunicado do ONDR.

Para o especialista “existem acentuadas assimetrias regionais cujas causas têm de se caraterizar, de forma a podermos melhorar a qualidade e o acesso à saúde respiratória dos portugueses” e acrescenta que “existe uma clara lacuna de acesso a estes cuidados nas outras regiões, como é o caso do Algarve e das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira”.

O relatório aponta motivos e fatores que condicionam o acesso dos doentes respiratórios aos cuidados de saúde, como sejam, “a distância aos hospitais, o número de dias de internamento e a existência de patologias responsáveis pela gravidade das situações clínicas, e necessidade de monitorização dos doentes”.

O relatório mostra que o valor das despesas com a saúde e a pobreza influenciam as doenças respiratórias e as doenças em geral. Em 2014 a percentagem da população em risco de pobreza, antes de pensões e transferências sociais, atingiu os 48%, o que representou um aumento de 29% em relação a 1995.

Em 2014 foram internados por doenças do foro respiratório (Asma, DPOC, Pneumonia, Fibroses, Tumores, Bronquiectasias, Patologia Pleural, Tuberculose e Gripe) 69.384 doentes, o que correspondeu a 12,1% do total de internamentos da área médica.

O relatório indica que o número de internamentos por DPOC diminuiu mais de 30%, nos últimos 10 anos, o que pode traduzir uma evolução positiva na saúde respiratória. Esta melhoria “deverá estar associada à melhoria da resposta ao SNS a estes doentes, capazes de controlar a doença maioritariamente em ambulatório”.

“As despesas com a saúde em percentagem do PIB representam 9,5%, ligeiramente acima da média da OCDE. Cerca de 65% desta despesa com a saúde é feita pelo Estado Português, bastante inferior aos 72% que é registado nos outros países”, indica Artur Teles de Araújo. Por outro lado o PIB decresceu 0,2% em 2012, e na opinião do especialista “trará constrangimentos na prestação de cuidados de saúde”.

Mas, Teles de Araújo indica que muitos dos constrangimentos em saúde já se vêm sentindo, “nomeadamente no menor número de enfermeiros e número de camas hospitalares comparativamente com outros países da OCDE. Também existe uma falta de desenvolvimento positiva dos cuidados continuados e paliativos relacionados com esta falta de investimento na saúde”.

Com um quadro em que por dia morrem 47 portugueses devido a doenças de foro respiratório, com Cancro do Pulmão a ser responsável por um aumento em 20,4% no número de óbitos por tumores pulmonares em relação a 2005, sendo que dos 117.807 doentes com DPOC, apenas cerca de 9% têm diagnóstico confirmado por espirometria e com as fibroses pulmonares a registarem, em 9 anos, um aumento dos internamentos em 69%. O relatório do ONDR propõe várias medidas para a promoção da saúde e prevenção das doenças respiratórias.

Apostar na educação para a saúde através da criação de Redes Nacionais de Espirometria, de Cuidados Respiratórios e de Reabilitação Respiratória, para acabar com as lacunas existentes em todas as fases da doença, desde o diagnóstico, ao acompanhamento e tratamento, é uma das conclusões do relatório.

Para minimizar o impacto dos 40% dos internamentos hospitalares associados às doenças respiratórias, os especialistas propõem a criação de uma ‘Via Verde das Pneumonias’ nos hospitais.

Para os especialistas, autores do relatório, há falta de pneumologistas a prestar serviços nos Hospitais Públicos, em Portugal, pelo que propõem a manutenção ou criação, em todos os serviços hospitalares de Pneumologia, de Consultas de Doenças do Interstício Pulmonar.