Comendador António Frias: um self-made man luso-americano

Dos Açores para os EUA onde se tornou um empresário de sucesso. António Frias é um dos exemplos da dimensão empreendedora da diáspora portuguesa, que Daniel Bastos descreve neste seu artigo.

Daniel Bastos, Historiador e Escritor
Daniel Bastos, Historiador e Escritor. Foto: DR

Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político.

Nos vários exemplos de empresários portugueses da diáspora, cada vez mais reconhecidos como uma mais-valia estratégica na promoção internacional do país, destaca-se o percurso inspirador e de sucesso do comendador António Frias, um dos mais proeminentes empresários portugueses na América.

Natural da Calheta, lugar pertencente à freguesia de Santo Espírito, concelho da Vila do Porto, na ilha açoriana de Santa Maria, António Frias emigrou em 1955, aos 16 anos de idade, com a família para Hudson, estado do Massachusetts, na região da Nova Inglaterra, onde reside uma das mais numerosas e antigas comunidades portuguesas nos Estados Unidos da América (EUA).

Como acentuam as estatísticas da época, a trajetória migratória de António Frias e da família para a América, durante a década de 1950, na esteira de milhares de açorianos, constituiu a derradeira esperança na demanda de melhores condições de vida, e assim escapar a um quotidiano arquipelágico marcado pelo espectro da pobreza e da miséria.

A chegada à cidade de Hudson, numa fase de incremento da emigração açoriana para os Estados Unidos, marca o início de um percurso de vida de um verdadeiro “self-made man”. O trabalho, o esforço e a resiliência, valores coligidos no seio familiar, transformaram o jovem mariense que começou a trabalhar numa fábrica de calçado e numa padaria, num dos mais proeminentes empresários portugueses no ramo da construção civil na América.

O percurso de sucesso foi alavancado dez anos depois da chegada ao território norte-americano, período em que se juntou ao irmão José Frias e ao amigo Jack Santo, e inaugurou com apenas três funcionários a S&F Concrete Contractors, que começou por construir passeios, sobrados de casas e valetas de cimento. Mais tarde, António Frias comprou a parte do amigo, tornando-se sócio maioritário da empresa, que é atualmente a maior empresa de construção civil da Nova Inglaterra e uma das maiores dos EUA, com um volume de negócios superior a 200 milhões de dólares anuais.

Com mais de meio século de experiência acumulada, e uma equipa de mais de 700 funcionários, o império empresarial da S&F Concrete Contractors tem um conjunto de obras emblemáticas disseminadas pelo vasto território norte-americano. Entre elas, contam-se, por exemplo, a construção do Gillette Stadium, o estádio da equipa de futebol americano New England Patriots (NFL); o pavilhão dos Boston Celtics, uma das equipas mais populares da National Basketball Association (NBA); a Millennium Tower em Boston; o MIT Simmons Residence Hall, em Cambridge; e o Encore Boston Harbor, um resort de luxo que inclui um casino com mesas de poker e máquinas de jogos.

Comendador António Frias.
Comendador António Frias. Foto: © S&F Concrete Contractors

Empresário multifacetado, com uma trajetória marcada pelo mérito e pela inovação, premissas que estão na base da Ordem de Mérito Industrial de Portugal que recebeu em 1989 do antigo Presidente da República, Mário Soares. E em 2011, o Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa, iniciativa promovida pela COTEC Portugal, das mãos do Presidente da República, Cavaco Silva.

No rol das condecorações de António Frias, avultam várias distinções atribuídas pela comunidade luso-americana, e autoridades estaduais e federais norte-americanas. Como seja um doutoramento honorífico da Massachusetts Maritime Academy; o Portuguese American Leadership Council of the United States (PALCUS); ou o Leadership Appreciation Award, atribuído pelo antigo governador de Massachusetts, Charlie Baker.

Concomitantemente, são públicas as amizades que o emigrante português de sucesso, ao longo dos anos, tem cultivado junto de figuras influentes do cenário político norte-americano, mormente, dos antigos presidentes dos Estados Unidos, Jimmy Carter, George Bush pai e filho, e Donald Trump. O sucesso que alcançou ao longo de mais de meio século a cimentar os EUA, tem sido constantemente acompanhado de generosos apoios a iniciativas e projetos da comunidade luso-americana, assim como de um profundo sentido altruísta em prol dos trabalhadores da S&F Concrete Contractors, vários deles naturais da ilha açoriana de Santa Maria.

Nunca abdicando da coragem, frontalidade e audácia de pensar, dizer e fazer, o comendador António Frias mantém uma ligação umbilical ao seu torrão arquipelágico, onde particamente todos os anos passa férias na sua casa de veraneio na Maia, na costa sudeste da Ilha de Santa Maria. Uma ligação pátria que se tem manifestado, por exemplo, ao longo dos anos, como dedicado sócio benfiquista, e amigo próximo do saudoso Eusébio, estrela maior do futebol do Velho Continente, de quem financiou uma estátua no Gillette Stadium, em Boston.

Numa fase da vida em que tem procurado passar mais tempo com a família e dedicar-se a apoiar os filhos e netos na gestão dos negócios familiares, o espírito empreendedor do emigrante açoriano mantém-se ainda interligado ao universo empresarial que construiu ao longo de mais de meio século na principal potência mundial. Uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana, o exemplo de vida do empresário e filantropo António Frias tem sido incessantemente orientado pela máxima do célebre filósofo romano Séneca: “Escolha como um guia quem você vai admirar mais ao lo agir do que ao ouvilo falar”.

Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor