John Medeiros: a arte luso-americana da joalharia

Dos Açores para os EUA, os emigrantes portugueses vêm mostrando a sua capacidade empreendedora, como nos descreve Daniel Bastos, neste seu artigo, sobre o empresário de joalharia, John Medeiros.

Daniel Bastos, Historiador e Escritor
Daniel Bastos, Historiador e Escritor. Foto: DR

A comunidade lusa nos Estados Unidos da América (EUA), cuja presença no território se adensou entre o primeiro quartel do séc. XIX e o último quartel do séc. XX, período em que se estima que tenham emigrado cerca de meio milhão de portugueses essencialmente oriundos dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, destaca-se hoje pela sua perfeita integração, inegável empreendedorismo e relevante papel económico e sociopolítico na principal potência mundial.

No seio da numerosa comunidade lusa nos EUA, segundo dados dos últimos censos americanos residem no território mais de um milhão de portugueses e luso-americanos, destacam-se vários percursos de vida de compatriotas que alcançaram o sonho americano (“the American dream”).

Entre as várias trajetórias de portugueses que começaram do nada na América e ascenderam na escala social graças a capacidades excecionais de trabalho, mérito e resiliência, destaca-se o percurso de sucesso de John Medeiros, uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana no campo da joalharia.

Natural de Lomba do Carro, concelho da Povoação, ilha de São Miguel, João Medeiros emigrou em 1969, com seis anos de idade na companhia dos pais e quatro irmãos, para Providence, capital e cidade mais populosa do estado norte-americano de Rhode Island, onde existe uma grande comunidade de portugueses vindos em grande parte do arquipélago dos Açores, na demanda de melhores condições de vida.

O trabalho, o esforço e a resiliência, valores coligidos no seio familiar, impeliram desde cedo o jovem povoacense a trabalhar em vários ofícios no território norte americano, sendo que no decurso da década de 1970 entrou pela primeira vez no mundo das joias, como supervisor e responsável por cerca de meia centena de funcionários numa fábrica da especialidade.

A paixão pela arte da joalharia, a capacidade de trabalho singular, e a experiência acumulada e reconhecida na área, capacitaram o emigrante açoriano a criar a sua própria empresa de joias amalgamada na inesgotável inspiração de John Medeiros.

John Medeiros
John Medeiros. Foto: DR

Através da valorização da joalharia portuguesa, a que não são alheias as constantes e referências e motivos artísticos alusivos aos Açores, de mãos dadas com um design contemporâneo, John Medeiros ao percecionar cada joia como uma peça de arte, única e irrepetível, além de ter elaborado trabalhos para marcas reconhecidas como a Gucci, afamada casa de moda de luxo italiana, desde o ocaso do séc. XX que apenas labora para sua própria coleção de joias, a “John Medeiros Jewelry Collection”, produzida desde a conceção até à conclusão em Providence, Rhode Island.

Com cerca de meia centena de colaboradores, e mercados diversificados dentro e fora dos Estados Unidos, o emigrante açoriano continua até aos dias de hoje a reinterpretar a arte milenar da joalharia, desenvolvendo num trabalho de pesquisa e criação, peças que aliam tradição e modernidade. O seu trabalho articulado e minucioso, respeitando a técnica tradicional e um processo criativo de design de excelência que não olvida as raízes, catapulta-o atualmente uma das figuras mais proeminentes da comunidade luso-americana no campo da joalharia.

A trajetória de John Medeiros marcada pelo mérito e pela inovação, concorreram para que há poucos anos fosse distinguido como sendo um dos dez “Portugueses de Valor de 2021,” no âmbito da iniciativa, que tem o Alto Patrocínio do Presidente da República, anualmente dinamizada pela revista da diáspora Lusopress, um relevante meio de comunicação social da comunidade portuguesa em França.

Uma das figuras mais consideradas e respeitadas da comunidade portuguesa em Rhode Island, onde residem mais de 90 mil luso-americanos, na sua maioria oriundos dos Açores, o percurso de vida inspirador e persistente John Medeiros, profundamente comprometido com a família e o torrão arquipelágico, relembra-nos a máxima da escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir: “É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente”.

Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor.