Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico e político.
Nos vários exemplos de empreendedores da diáspora portuguesa, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento internacional do país, destaca-se o percurso notável e de sucesso de John Melo.
Natural da Ilha do Pico, a segunda maior ilha do Arquipélago dos Açores, John Melo partiu em 1973, aos 7 anos de idade, com os pais para Boston, a capital e a maior cidade norte-americana de Massachusetts. Região que constituía, um dos mais importantes destinos para muitos emigrantes portugueses, em particular açorianos, que nessa época, marcada na pátria de origem pela estreiteza de horizontes, falta de liberdade e carências, partiram para a América do Norte à procura de melhores condições de vida.
No decurso da adolescência, o jovem de raízes açorianas mudou-se para a Califórnia, estado norte-americano onde vive a maior comunidade de emigrantes portugueses e lusodescendentes nos Estados Unidos, e no qual frequentou o ensino secundário. O trabalho, esforço e resiliência, valores coligidos no seio familiar, assim como o alvorecer da efervescência de Silicon Valley, a “Meca da tecnologia”, localizada na Califórnia, mormente na região da Baía de São Francisco, impeliram o jovem luso-americano a optar por aulas técnicas com foco na área de engenharia tecnológica, orientadas para o desenvolvimento, produção e utilização de tecnologias inovadoras.
A veia empreendedora e a paixão incessante pelo saber-fazer, isto é, a aplicação de conhecimento assente na experiência prática, levaram desde a entrada na maioridade John Melo a acumular experiências profissionais em campos técnicos, de marketing vendas, finanças, análise de mercados, e criação e venda de empresas. Contexto que muito contribuiu para que nos anos 90, fosse convidado pela Amoco, classificada em meados do séc. XX a maior empresa de petróleo dos Estados Unidos, para diretor executivo na área automóvel.
Com a aquisição, em 1998, da Amoco pela BP (British Petroleum), uma das maiores petrolíferas do mundo, o empreendedor luso-americano foi convidado pela empresa petrolífera britânica a assumir, em Londres, as funções de gerente da marca. Vindo posteriormente a tornar-se presidente da BP Combustíveis Estados Unidos, onde liderou negócios de marketing, logística e comércio de petróleo.

Uma década após uma experiência socioprofissional marcante na companhia de petróleo BP, um dos grandes nomes do setor, John Melo foi convidado a assumir as funções de CEO, ou seja, de Diretor Executivo da Amyris. Uma empresa de biotecnologia sintética, fundada em 2003, com sede em Emeryville, na Califórnia, que serve os mercados de produtos químicos especiais e desempenho, aromas e fragâncias, ingredientes cosméticos, produtos farmacêuticos e nutracêuticos.
Sob a liderança de John Melo, que foi CEO da Amyris até 2023, a empresa tornou-se líder mundial em aplicações de biotecnologia industrial, trabalhando para reduzir o custo de curar a malária e produção de baixo carbono, mediante uma segunda geração de biocombustíveis. Por exemplo, em 2016, a empresa recebeu um investimento do Fundo de Inovação Estratégica da Fundação Bill e Melinda Gates para apoiar o desenvolvimento de medicamentos antimaláricos baseados na artemisinina semissintética.
Foi igualmente sob a liderança de John Melo, que em 2016 a Amyris estabeleceu uma parceria com a Universidade Católica Portuguesa (UCP) para a criação de um Hub Europeu de Biotecnologia no Porto. Além deste protocolo, foi assinado em 2018, o contrato que viabilizou o projeto de investigação Alchemy – uma parceria estratégica entre a UCP, através da ESB, a empresa Amyris Bio Products Portugal, subsidiária da Amyris e o Governo de Portugal, através da Agência para o Investimento e Comércio Externo Portugal (AICEP). Um projeto de colaboração entre a empresa e a universidade, que permitiu a contratação de uma equipa de mais de 80 investigadores, e investimentos de milhões de euros em Investigação e Desenvolvimento (I&D), que alavancaram em Portugal competências de excelência em biotecnologia.
Uma das figuras mais conhecidas da comunidade portuguesa na Califórnia, a trajetória de vida de John Melo, que é um dos membros-fundadores do Conselho da Diáspora Portuguesa. E que, em 2015, foi agraciado pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito Empresarial – Classe do Mérito Industrial, assevera a visão de Peter Drucker, considerado o pai da gestão moderna: “A inovação é o instrumento específico do empreendedorismo, o acto que confere aos recursos uma nova capacidade de criar riqueza”.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor