Livro de desculpas

O tema está escolhido: “Desculpas”. Uma narrativa onde todos nos reconhecemos como personagens. O autor, Joaquim Jorge, dá-nos, neste seu vislumbre, o empenho de cada um, no jogo da mediocridade do convencimento inútil.

Joaquim Jorge, Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores
Joaquim Jorge, Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores. Foto: DR

Estou a pensar, em escrever um livro de desculpas. São tantas as situações com que me deparo no dia-a-dia, que tenho material para escrever algo sobre as desculpas. Os portugueses são pródigos e peritos em arranjar desculpas para tudo e mais alguma coisa.

Quando alguém não pode ou não quer fazer algo, o que deve fazer é informar sem andar com extraordinárias deambulações da sua vida. Já aconteceu alguém me dizer que não podia ir ao Clube dos Pensadores por ter bilhetes para um concerto na Casa da Música, todavia apercebi-me que esse concerto se realizou, mas na semana seguir.

Quando realizo um evento, estou preocupado com a sua organização e que tudo decorra nos “conformes”. Tenho lá pachorra para ouvir as desculpas por que não vem ou aparece. As pessoas têm que perceber que muitas vezes devem estar caladas. Não estou com disposição nem disponibilidade mental para ouvir dizer que foi de férias, está a chegar de férias, o avião atrasou, a sogra está mal disposta, ou começa com um relambório, que topo logo que me está a mentir. O melhor é informar que vem ou não vem – assunto arrumado.

Os portugueses mentem amiúde e alguns compulsivamente. Infelizmente, temos dificuldade de dizer a verdade. Por outro lado, acham que a vida deles é o centro do Mundo, esquecem-se de olhar para o lado, para verificarem que a vida deles é, exatamente igual à dos seus semelhantes, podendo ter aqui e ali umas nuance e muitas vezes bem pior.

Eu tenho essa experiência, in loco, no Clube dos Pensadores. Amigos e conhecidos dão mil e uma desculpas de forma esfarrapada e sem nexo.

Mas, a malta nova vai pelo mesmo diapasão, jogo à bola com o meu filho e amigos dele, as desculpas para não se ir treinar são imensas e algumas nota-se que são por capricho ou pela qual não estão para aí virados.

Os portugueses têm a mania, porventura se alguém lhes pede algo ou precisa dos seus préstimos ficam muito importantes, transformam-se em sultões. Claro que há exceções, se me pedirem um favor, procuro resolvê-lo e depois faço ou não faço. Não ando a plissar e depois nada feito.

Tudo que seja cumprir, dá trabalho e deixamos de fazer outras coisas.

A mim ensinaram-me que as desculpas não se pedem, evitam-se. Uma das características dos portugueses é não chegarem a horas a algo marcado com antecedência. Constantemente com desculpas, ou é o trânsito, ou estavam a fazer algo, ou cá para mim, são mal-educados.

Chegar a horas a algo, marcado, é uma questão de princípio e educação.

Autor: Joaquim Jorge, Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores