Os “brasileiros de torna-viagem”

Entre 1855 e 1914 mais de um milhão de portugueses atravessou o Atlântico para o Brasil, grande parte oriundos do Minho. Estes vieram mais tarde contribuir para nova dinâmica em Portugal. Daniel Bastos aborda, neste seu artigo, estes “brasileiros de torna-viagem”.

Daniel Bastos, Historiador e Escritor
Daniel Bastos, Historiador e Escritor. Foto: DR

Na senda das vagas contemporâneas de emigrantes portugueses para vários países do mundo, evidencia-se o ciclo transoceânico que se prolongou de meados do século XIX até ao primeiro quartel do século XX, e que teve como principal destino o Brasil.

Pressionados pela carestia de vida e baixos salários agrícolas, mais de um milhão de portugueses entre 1855 e 1914 atravessaram o oceano Atlântico, essencialmente seduzidos pelo crescimento económico da antiga colónia portuguesa. Procedente do mundo rural e eminentemente masculino, o fluxo migratório foi particularmente incisivo no Minho, um dos principais torrões de origem da emigração portuguesa para o Brasil.

Enobrecidos pelo trabalho, maioritariamente centrado na atividade comercial, e após uma vintena de anos geradores de um processo de interação social que os colocou em contacto com novas realidades, hábitos, costumes e posses, o regresso de “brasileiros de torna-viagem” a Portugal, trouxe consigo um espírito burguês empreendedor e filantrópico marcado pela fortuna, pelo gosto de viajar, e pelo fascínio cosmopolita da cultura e língua francesa.

Ainda que sintomática das debilidades estruturais do país, a emigração portuguesa para o Brasil entre o séc. XIX e XX, facultou através do retorno dos “brasileiros de torna-viagem”, os meios e recursos necessários para a transformação contemporânea do território nacional, com particular incidência no Noroeste de Portugal.

Como menciona Miguel Monteiro, no artigo “O Museu da Emigração e os “Brasileiros” do Rio: o público e o privado na construção de modernidade em Portugal”, recuando à segunda metade do séc. XIX, encontramos nos “brasileiros” aqueles que alcançando fortuna no Brasil, “construíram residências, compraram quintas, criaram as primeiras indústrias, contribuíram para a construção de obras filantrópicas e participaram na vida pública e municipal, dinamizando a vida económica, social e cultural”.

Numa época, em que a nova geração de emigrantes que deixa Portugal não tem como principal propósito o regresso vindouro, mas antes a procura de melhor qualidade de vida e emprego na sua área, a feição benemérita e empreendedora dos “brasileiros de torna-viagem”, que permitiu mitigar os parcos recursos financeiros do país no aclarar do séc. XX, é um exemplo inspirador que não pode deixar de ser recordado e enaltecido.

Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor.