Por cuidados paliativos de excelência, universais, acessíveis e em parceria com as comunidades

Envelhecimento populacional condiciona aumento da prevalência de doenças crónicas, incapacitantes e progressivas, com elevadas necessidades. A médica especialista Conceição Pires aborda, neste seu artigo, as Comunidades Compassivas.

Conceição Pires, Coordenadora do Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa da SPMI
Conceição Pires, Coordenadora do Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa da SPMI. Foto: DR

Dia 14 outubro, celebra-se mais um Dia Mundial dos Cuidados Paliativos (World Hospice and Palliative Care Day, WHPCD), uma iniciativa que visa promover e divulgar o acesso a Cuidados Paliativos no mundo, que tem lugar, nos últimos 17 anos, no segundo sábado do mês de outubro.

Este ano, o mote internacional é “Comunidades compassivas: Juntos pelos Cuidados Paliativos”.

O movimento das Comunidades Compassivas tem origem na iniciativa Cidades Saudáveis, da OMS (Organização Mundial de Saúde), no âmbito da criação de políticas de intervenção com o objetivo de conseguir ganhos em saúde. Nasceu da Carta de Ottawa, na sequência da Primeira Conferencia Internacional sobre Promoção de Saúde realizada em novembro de 1986 em Ottawa, Canadá.

O grande objetivo destas comunidades no mundo consiste em melhorar a qualidade de vida das pessoas com doença avançada, mediante o empoderamento social e a satisfação das necessidades de cuidados.

O envelhecimento populacional condiciona aumento da prevalência de doenças crónicas, incapacitantes e progressivas, com elevadas necessidades, constituindo-se num desafio sanitário e um importante problema de Saúde Pública.

Promover a responsabilidade dos cidadãos no cuidado dos seus doentes e a criação de redes de apoio, capacitando as comunidades na resposta às necessidades dos seus membros com doença avançada e em fim de vida e dos seus cuidadores, surge como uma necessidade e uma resposta humanizada e útil a este problema.

As Comunidades Compassivas nasceram com o objetivo de envolver a sociedade a participar ativamente no processo final da vida, tanto a nível cultural como social; promovem e implementam ações de apoio social, criando redes comunitárias que permitem cuidar deste grupo de pessoas, especialmente daquelas com doenças avançadas e com necessidades sociais e familiares.

Nas palavras do WHPCD “As Comunidades compassivas cuidam das pessoas, ajudando-as a viver na sua casa, estabelecendo pontes com os serviços sanitários e gerindo os problemas associados ao fim de vida. O objetivo é implicar governos e decisores políticos em iniciativas em prol dos Cuidados Paliativos, apoiando a solidariedade nos membros da comunidade ao longo da vida e no final de vida. Acreditamos que a articulação dos Cuidados Paliativos com as Comunidades Compassivas aumenta a capacidade de responder às necessidades dos mais vulneráveis nas comunidades”

É assim uma estratégia útil para capacitar as comunidades nos cuidados e servir como complemento eficaz em Cuidados Paliativos, mediante a criação de uma cultura baseada na compaixão complementando ao mesmo tempo a abordagem holística que os Cuidados Paliativos procuram, a nível comunitário, aproximando os profissionais de saúde dos doentes e seus familiares e/ou cuidadores com situações de vulnerabilidade acrescida como é o caso de doenças crónicas, em situação de dependência e com necessidades paliativas.

Entre nós os primeiros projetos de cidades/comunidades compassivas surgiram em Borba, Amadora e Porto; mais recentemente associaram-se mais 3, Faro/Loulé/São Brás de Alportel, Gaia e Leiria. As cidades/comunidades compassivas procuram desenvolver redes comunitárias, com o apoio de entidades públicas e privadas locais, para além de voluntários a título individual, com vista a melhorar a qualidade de vida e o suporte aos doentes em fim de vida, respetivas famílias e cuidadores.

Nas suas palavras, “As Comunidades Compassivas são grupos que reconhecem que todos os ciclos naturais de doença e saúde, nascimento e morte, amor e perda, ocorrem todos os dias dentro das suas instituições e atividades regulares.

Uma comunidade que reconhece que cuidar uns dos outros em momentos de crise e perda não é simplesmente uma tarefa exclusiva de serviços sociais e de saúde, mas é uma responsabilidade de Todos.

Estas comunidades encorajam publicamente, facilitam, apoiam e celebram o cuidado mútuo durante os momentos e experiências mais desafiantes da vida, especialmente aqueles relacionados a doenças que ameaçam a vida e a limitam, doença crónica, fragilidade, envelhecimento e demência, sofrimento e luto.

Embora o serviço público se esforce para manter e fortalecer serviços de qualidade para os mais frágeis e vulneráveis, nem todas as pessoas têm acesso a eles. Situações graves de doença, morte e perda podem acontecer a qualquer momento, durante o curso normal das nossas vidas.

Uma comunidade compassiva reconhece e aborda diretamente esta realidade social.”

Mais uma vez a APCP associa-se à efeméride através da iniciativa “Partilhamos Cuidados, Partilhamos Vida!”, focada na partilha de histórias inspiradoras, sejam elas pessoais ou comunitárias, reflexões ou testemunhos relacionados com os cuidados paliativos.

O NEMPal (Núcleo de Estudos de Cuidados Paliativos) da SPMI associa-se mais uma vez esta iniciativa, divulgando estes projetos e seus objetivos.

Por Cuidados Paliativos de excelência, universais, acessíveis e equitativos, com incentivo e parceria com as comunidades

Autora: Conceição Pires, Coordenadora do Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa da SPMI