Vi(ver) sem visão central: fatores de risco e consequências da DMRI

A redução da claridade da visão central é uma consequência de patologias cuja origem permanece desconhecida. Raúl de Sousa, optometrista, esclarece, neste seu artigo, alguns aspetos da doença, como fatores de risco e consequências.

Raúl Sousa, Optometrista e Presidente da APLO
Raúl Sousa, Optometrista e Presidente da APLO. Foto: DR

A Degeneração Macular Relacionada com a Idade (DMRI) é a principal causa de cegueira, entre as pessoas com mais de 60 anos, nos países Ocidentais. Embora se saiba que esta é uma patologia que afeta sobretudo as mulheres e que os fatores de risco incluem a idade avançada, a pigmentação mais clara, o tabagismo, a doença cardiovascular e, possivelmente, uma componente genética, desconhece-se a razão pela qual os pacientes contraem esta doença.

A DMRI, tal como o nome indica, afeta a mácula, provocando, no fundo, uma redução da claridade da visão central. Quando se fala de cegueira, no que concerne a esta patologia, deve-se ter em atenção o facto de que, apesar de a mácula ser a zona mais sensível da visão e aquela que permite percecionar os pormenores e as cores, corresponde a uma área pequena do olho – a área central da retina. Ou seja, a Degeneração Macular Relacionada com a Idade afeta a capacidade para desempenhar determinadas atividades como ler, conduzir, ver televisão e reconhecer rostos, ver durante a noite e observar linhas retas, que requerem uma boa visão central, podendo, no entanto, não afetar a visão lateral ou periférica. Nesse caso, não provoca cegueira total, mas ainda assim representa uma severa limitação à aoptotividade e autonomia.

Esta doença pode manifestar-se de duas formas. A mais comum (correspondendo a uma percentagem de casos entre os 85 e os 90%) denomina-se Degeneração Macular Relacionada com a Idade Seca. É simultaneamente a que se considera menos grave, uma vez que pode ter diferentes evoluções em cada olho e, numa fase inicial, não apresentar sintomas, e que a perda de visão central acentuada ocorre apenas em aproximadamente 10% dos casos.

A segunda denomina-se Degeneração Macular Relacionada com a Idade Húmida. Embora represente apenas 10% dos casos de DMRI, é a mais grave das duas, na medida em que se verifica a perda de visão central acentuada, em 90% dos pacientes. Neste caso, a doença surge devido a um crescimento anormal de vasos sanguíneos debaixo da mácula, acompanhado de hemorragias ou exsudação de fluido.

Como tal, de forma a prevenir e controlar o aparecimento desta patologia, está recomendando a todas as pessoas com mais de 60 anos, a realização de exames optométricos todos os anos, como a rede de Amsler, que permitam observar o fundo do olho – o método que nos permite avaliar a presença de metamorfopsia, alterações de perceção de formas, características da DMRI.

No quotidiano, é importante adotar comportamentos como não fumar; usar óculos de sol com proteção UVA e UVB, aquando da exposição solar, e ter uma alimentação saudável e equilibrada, que permita manter os níveis de colesterol baixos.

Já a um nível mais natural e sistematológico, vários estudos consideram que alguns nutrientes como as vitaminas C e E, o betacaroteno, o zinco, os antioxidantes luteína e zeaxantina e os caratenóides presentes no olho como desempenhando um papel fundamental na prevenção da Degeneração Macular Relacionada com a Idade.

Para já, ainda não existe cura para esta doença. Não há forma de recuperarmos a visão dos pacientes por ela afetados. Existe, no entanto, uma série de tratamentos que podem ter efeitos positivos ao nível do retardamento da sua progressão, embora sem garantia plena de resultados, como o tratamento com LASER, a injeção de medicação antiangiogénica dentro do olho, para travar a evolução dos vasos sanguíneos, ou a cirurgia, aplicáveis especialmente nos casos de DMRI Húmida. Há ainda quem defenda a eficácia de alguns suplementos nutricionais na terapêutica, embora esta hipótese não tenha sido suficientemente estudada.

Consideramos, por isso, urgente que a sensibilização da população, principalmente os idosos, para a importância do diagnóstico atempado da doença, na medida em que, quanto mais cedo for detetada, maior probabilidade existe de ser tratada.

Por outro lado, é absolutamente necessário o investimento na pesquisa sobre a DMRI, para que se avance no sentido da cura e da obtenção das respostas que nos faltam, num futuro próximo.

Autor: Raúl de Sousa, optometrista e Presidente da Associação de Profissionais Licenciados de Optometria