Nova técnica de deteção de contaminantes no peixe

Ao comer atum ou camarão pode estar a ingerir doses tóxicas de Retardadores de Chama Bromados. Para detetar estes compostos cientistas espanhóis desenvolvem uma nova técnica de deteção mais sensível e seletiva.

Universidade Jaime I
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Investigadores do Instituto Universitário de Pesticidas e Água (IUPA) da Universidade Jaime I (UJI), Espanha, desenvolveram uma técnica inovadora para a deteção e quantificação de contaminantes em amostras de alimentos, principalmente de origem marinha.

Com a nova técnica é possível conhecer a existência de compostos tóxicos nocivos para a saúde, tais como retardadores de chama bromados em alimentos como atum ou camarão, e otimizar o controle da presença destes compostos tóxicos, dado que é de vital importância para a segurança alimentar.

Os Retardadores de Chama Bromados (BFR, sigla em Inglês) são amplamente utilizados numa variedade de produtos, como é o caso de televisores, smartphones, móveis e produtos em plástico, com o objetivo de reduzir a inflamabilidade.

Estes compostos (BRF), que são tóxicos e nocivos para a saúde, estão presentes nos alimentos, principalmente nos peixes do mar, uma vez que são introduzidos nos oceanos através de resíduos, ou por descargas de fábricas que os produzem.

“Esses poluentes atingem o meio ambiente marinho e são ingeridos por peixes e mariscos e dado que são substâncias lipofílicas, estas não podem ser excretadas, permanecendo nas gorduras. Assim, quando consumimos atum, por exemplo, estes compostos entram no nosso organismo”, explicou o investigador Carlos Sales da UJI.

O investigador esclareceu que os compostos tóxicos “foram detetados mesmo no leite materno em baixas concentrações. Se as concentrações são baixas, eles não vão resultar num problema imediato de saúde, mas, em níveis elevados, são tóxicos e podem causar problemas de saúde, incluindo a carcinogénese, a desregulação endócrina e problemas neurológicos”.

Para os investigadores, “dada a toxidade dos compostos é necessário fazer a monitorização nos alimentos para garantir a segurança alimentar, ou seja, garantir que os níveis destes contaminantes não excedam o limite da concentração que se encontra permitida”. A União Europeia tem vindo a atuar no sentido de limitar ou proibir o uso de muitos destes compostos.

Para fazer face ao problema, a equipa de investigadores do IUPA, liderada por Felix Hernandez, desenvolveu uma técnica inovadora que otimiza a verificação da existência destes compostos tóxicos nos alimentos e amostras ambientais.

A nova técnica consiste na utilização de uma nova fonte de ionização química à pressão atmosférica (APCI) para a determinação dos contaminantes de forma mais eficaz do que as técnicas anteriores, indicam os investigadores. “A nova técnica é mais sensível, com limites de deteção entre 10 e 50 vezes mais baixos e melhor seletividade, sendo um método mais preciso e com uma menor margem de erro”.

“A determinação de BFRs e de outros poluentes orgânicos persistentes tem vindo tradicionalmente a ser feita utilizando a fonte de ionização de eletrões para fragmentar as moléculas e gerar iões carregados que podem ser detetados, porque os contaminantes são neutros e para serem detetáveis têm de ser carregados”, explicou Carlos Sales.

Para o investigador, “esta técnica dá origem, em alguns casos, a iões idênticos para diferentes compostos, pelo que a sua seletividade é limitada. Verifica-se também que com a técnica de impacto de eletrões quase nunca se consegue ver toda a molécula, o que pode resultar em números diferentes de átomos de bromo, para o mesmo fragmento de compostos”.

Com a nova fonte de ionização química foi usada a APCI, e em vez de moléculas diretamente ionizantes, foi usado um gás (azoto) que ao ser carregado colide com as moléculas que se quer identificar, e assim ionizando-as.

Neste caso a molécula é carregado pelo choque, em vez de ser por descarga elétrica direta, o que não a faz quebrar – uma situação que os investigadores designam por ‘ionização suave’.

“É uma técnica mais sensível e seletiva, porque se nós temos toda a molécula, podemos detetar com maior confiança se há contaminantes na amostra, e em que proporção”, disse Carlos Sales.

O processo envolve o campo de espectrometria de massa-cromatografia gasosa e, como explicou o investigador, “os compostos da amostra de alimento são extraídas com solventes, o extrato é purificado e é injetado num cromatógrafo gasoso”.

“Os compostos são separados na coluna cromatográfica e, em seguida, dependendo da concentração em que estão presentes, dão um sinal no detetor. Para alcançar estes níveis de análise, de partes por mil milhões, é utilizado como detetor um espectrómetro de massa”. Com esta técnica passa a ser possível monitorar se há lotes de alimentos com uma elevada concentração de poluentes, e se for o caso, possam ser retirados do consumo, e desta forma por em prática o cumprimento das normas da União Europeia.

“A União Europeia restringe a utilização destes compostos tóxicos, mas depois tem de se verificar que não estão a ser utilizados, porque se forem restringidos e ainda assim forem utilizados, o nível de toxicidade pode ser suficiente para ter implicações para os seres humanos”.

Para a nova técnica de deteção de contaminantes, contribuiu a investigação que tem vindo a ser liderada por Tania Portolés, investigadora da UJI, sobre a fonte de ionização química à pressão atmosférica (APCI). De referir que esta fonte foi aplicada por investigadores nas áreas dos pesticidas, dioxinas e outros poluentes para melhorar a sensibilidade e a deteção.

Para os investigadores a nova técnica pode reduzir o custo dos testes dos contaminantes porque, sendo mais sensível e seletiva, irá usar metade dos meios necessários em comparação com as técnicas utilizadas anteriormente.