A vacina BCG protege mais de 100 milhões de crianças todos os anos contra as formas graves de tuberculose (TB), como a tuberculose miliar e a meningite tuberculosa que pode ocorrer em bebés e crianças pequenas. Mas a vacina não impede que os adultos desenvolvam a forma mais comum de tuberculose, que ataca os pulmões. Isso leva a que a tuberculose continua a persistir como a doença infeciosa mais mortal do mundo, que estimativas da Organização Mundial da Saúda mata cerca de 1,25 milhão de pessoas por ano.
Os estudos indicam que a vacina BCG existente contra a tuberculose provoca uma forte reação do sistema imunológico. No entanto, as medidas padrão de imunidade não preveem proteção na idade adulta. Investigadores nos EUA, da Universidade Tufts, da Universidade de Utah, da Escola de Saúde Pública Harvard TH Chan e da Universidade Texas A&M adotaram uma nova abordagem ao estudarem como a bactéria da tuberculose escapa de um sistema imunológico preparado para a destruir.
Os investigadores no seu estudo genético em ratos de laboratório, já publicado na “npj Vaccines”, revelam que a bactéria da tuberculose pode essencialmente fingir-se de morta para sobreviver à resposta imunológica. Tal com reflete o termo tuberculose “de curso lento, debilitante e muitas vezes fatal da doença”.
“Há uma necessidade urgente de uma prevenção mais eficaz, porque o tratamento por si só não vai conter a disseminação da tuberculose”, afirmou a investigadora Amanda Martinot, da Universidade Tufts e coautora sénior do estudo, citada em comunicado pela Universidade. “Quando os medicamentos para tratar a tuberculose se tornaram disponíveis, há mais de 60 anos, os casos caíram drasticamente em todo o mundo. Mas a tuberculose ressurgiu junto com a epidemia de VIH e está cada vez mais resistente aos antibióticos tradicionais. Com apenas alguns medicamentos mais novos disponíveis para tratar a tuberculose resistente, a cura agora é muito mais difícil.”
Como indicam os investigadores, enquanto outras doenças respiratórias, como a gripe e a COVID-19, são causadas por vírus que sofrem mutações frequentes e precisam constantemente de novas vacinas, a tuberculose é causada por uma bactéria geneticamente muito estável, a Mycobacterium tuberculosis. Portanto, em teoria, a tuberculose deveria ser facilmente prevenível com vacina.
A equipa de investigação usou no estudo uma ferramenta chamada sequenciamento de inserção de transposon, ou TnSeq, para identificar, em quatro grupos de ratos de laboratório, os genes essenciais para a sobrevivência da bactéria. O primeiro grupo de ratos foi vacinado com a vacina BCG, desenvolvida há mais de 100 anos a partir do tipo de tuberculose em vacas. O segundo grupo recebeu uma vacina experimental baseada na tuberculose em humanos, tendo gerado uma resposta imunológica mais forte do que a única vacina aprovada num estudo pré-clínico. O terceiro grupo de ratos foi exposto à tuberculose e depois tratado com antibióticos. E o último grupo, o grupo de controlo, não recebeu vacina ou não estava por tuberculose.
Os investigadores esperavam encontrar genes-chave dos quais a tuberculose precisa para sobreviver em hospedeiros vacinados, e descobriram alguns que poderiam valer a pena explorar para futuras vacinas. Mas a maior surpresa foi a dos genes que a bactéria não precisava após a vacinação ou infeção anterior.
“Ficamos muito surpresos ao descobrir que certos genes que normalmente são importantes para impulsionar o rápido crescimento bacteriano e causar infeção grave por tuberculose não são tão necessários quando a bactéria infecta alguém que já tem uma resposta imunológica, seja porque foi vacinado ou previamente infetado”, disse a investigadora.
Em vez disso, os investigadores descobriram que as bactérias da tuberculose parecem mudar de estratégia, contando com genes diferentes que as ajudam a lidar com o stress e a parar de crescer num ambiente hostil.
“Suspeitamos que as bactérias se retraem, ficando quietas até que a resposta imunológica enfraqueça, seja pela diminuição da proteção da vacina, pelo VIH ou por outras condições”, disse Allison Carey, da Universidade de Utah e coautora sénior do estudo.
O novo conhecimento poderá ajudar os cientistas a criar tratamentos que podem ser administrados em conjunto com vacinas para ajudar o sistema imunológico a erradicar a tuberculose quando se tenta esconder.
A equipa de investigadores também descobriu que diferentes vacinas, ou a forma como são administradas, podem alterar os genes que a tuberculose precisa para se manter viva. Isso mostra que diferentes vacinas podem exercer diferentes tipos de pressão sobre a bactéria, o que pode levar a novas combinações e mais eficazes de vacina e reforço.
“Esta bactéria é incrivelmente eficiente em sobreviver ao sistema imunológico”, afirmou Amanda Martinot. “A bactéria infecta humanos desde o Egito Antigo. Estudos adicionais são necessários para que possamos finalmente superar a tuberculose e controlar a atual emergência global.”














