Funções das plaquetas e a importância no diagnóstico de cancro

Funções das plaquetas e a importância no diagnóstico de cancro
Funções das plaquetas e a importância no diagnóstico de cancro

As plaquetas são conhecidas pelo papel que desempenham na coagulação sanguínea, na formação de crostas e pelas contribuições relacionadas com ataques cardíacos e derrames. Mas as minúsculas células sanguíneas também desempenham outras funções fisiológicas, como a vigilância de infeções virais ou bacterianas, o recrutamento de células imunes para o local de uma suspeita de incursão e até mesmo a destruição direta de patógenos.

Um estudo desenvolvido por cientistas da Ludwig Cancer Research descobriu uma nova função das plaquetas que é de extrema importância. O estudo conduzido por Bethan Psaila e já publicado na revista Science mostra que as plaquetas também podem ajudar a suprimir a inflamação sistémica, e a forma como o fazem pode ser aproveitada para melhorar significativamente a deteção precoce e minimamente invasiva do cancro e a sensibilidade do rastreio pré-natal.

“Embora as plaquetas não tenham núcleo próprio, descobrimos que elas agem como esponjas, absorvendo os fragmentos de ADN libertados por células mortas e moribundas”, disse Bethan Psaila. “Os nossos corpos empregam múltiplos mecanismos para remover esses fragmentos de ADN da corrente sanguínea, pois eles podem provocar distúrbios inflamatórios e autoimunes com a sua acumulação.”

“As nossas descobertas sugerem que as plaquetas desempenham um papel importante na limitação da abundância de fragmentos de ADN no plasma. Curiosamente, também descobrimos que elas libertam esses pedaços de ADN quando são ativadas, sugerindo que as plaquetas podem distribuir sua carga de ADN de uma maneira que previne inflamações não específicas, mas ainda assim desencadeia respostas inflamatórias direcionadas onde são necessárias, como, por exemplo, em local de lesão”, acrescentou a investigadora.

O ADN livre de células (cf) também pode incluir traços de ADN derivado de células tumorais (ct ADN) circulante. Um conjunto cada vez mais sofisticado de tecnologias existe para isolar e analisar o ctADN para a deteção não invasiva de cancros e monitorar as respostas à terapia. Mas os níveis de ctADN são muito baixos, especialmente nos estágios iniciais da doença, quando os cancros são mais bem detetados. A sua raridade reduz a sensibilidade do rastreio do cancro por meio dessas “biópsias líquidas”.

Os cientistas referem que o cfADN recolhido para esses diagnósticos é atualmente isolado do plasma sanguíneo após o libertado de todas as células sanguíneas, incluindo plaquetas. Os resultados do estudo sugerem que uma proporção substancial de cfADN, incluindo o derivado de células tumorais, está contida nas plaquetas, e, portanto, uma importante fonte de informação está a ser ignorada.

“Demonstramos que as plaquetas absorvem fragmentos de ADN que carregam as assinaturas mutacionais das células de cancro”, disse Lauren Murphy. “Isso aplica-se não apenas a pacientes com cancro avançado, mas, notavelmente, também as pessoas com pólipos pré-cancerígenos no cólon, sugerindo que as plaquetas podem oferecer um reservatório adicional, até então inexplorado, de cfADN, que pode melhorar significativamente a sensibilidade das biópsias líquidas.”

Ora, a descoberta de que as plaquetas circulantes carregam as assinaturas genéticas do cancro tem implicações significativas para a prevenção do cancro.

A investigação

As plaquetas têm uma peculiaridade morfológica notável: são atravessadas, como esponjas, por uma rede de canais revestidos por membrana, chamada sistema canalicular aberto. Esses canais permitem que libertem certas biomoléculas essenciais para a coagulação e o reparo tecidual após a ativação, além de captarem outras, como RNA e ADN virais, à medida que circulam.

Considerando esta última capacidade, a investigadora Bethan Psaila levantou a hipótese das plaquetas também poderem estar a captar o ADN livre de células genómico.

Em parceria com o investigador Chris Gregory, da Universidade de Edimburgo, Bethan Psaila, Lauren Murphy e Benjamin Schuster-Böckler, da Ludwig Oxford, mostraram que as plaquetas absorvem o cfADN humano em culturas de laboratório e amostras clínicas. Para provar que não estavam apenas observando ADN residual de megacariócitos – células nucleadas de que são derivadas a plaquetas -, os investigadores examinaram o ADN das plaquetas de gestantes que, sabiam, estavam grávidas. Eles relatam que conseguiram prever o sexo do bebé em cada amostra de sangue analisada, detetando fragmentos do cromossomo Y nas plaquetas, que só poderiam ter vindo do cfADN fetal que haviam recolhido.

“Dada a abundância, facilidade de isolamento e perfusão em todo o tecido, as plaquetas estão idealmente posicionadas para servir como biossensores para perturbações genéticas nos tecidos”, concluiu Bethan Psaila.