Estudo recente sobre COVID longa abre caminho para potencial tratamento

Estudo recente sobre COVID longa abre caminho para potencial tratamento
Estudo recente sobre COVID longa abre caminho para potencial tratamento

A COVID longa afeta muitos milhões de pessoas no mundo, e para encontrar algumas respostas que possam explicar a doença, um estudo realizado por investigadores do Beth Israel Deaconess Medical Center e liderado pelo cientista Dan H. Barouch, analisou amostras de sangue de mais de 140 participantes e acompanhou as respostas imunológicas e inflamatórias ao longo do tempo em pacientes que desenvolveram a COVID longa, em comparação com pacientes que recuperaram totalmente da COVID-19.

Os investigadores encontraram diferenças importantes nos pacientes que desenvolveram COVID longa e evidências de inflamação crónica persistente muito tempo depois da fase aguda da COVID-19. As descobertas da equipa de investigadores, já publicadas na Nature Immunology, abrem caminho para novas estratégias de tratamento para pessoas com COVID longa.

Atualmente, não existe tratamento específico para a COVID longa, que afeta milhões de pessoas nos Estados Unidos, e a maioria dos ensaios clínicos realizados até o momento para essa condição concentrou-se em testar agentes antivirais para eliminar possíveis resíduos do vírus”, disse Dan H. Barouch, diretor do Centro de Virologia e investigação de Vacinas Beth Israel Deaconess Medical Center. “Em contraste, as nossas descobertas mostram que a COVID longa em humanos é caracterizada pela ativação persistente de vias inflamatórias crónicas, o que define potenciais novos alvos terapêuticos.

Dados recentes do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA indicam que a COVID longa afeta cerca de 15 milhões de pessoas. As pessoas com COVID longa podem apresentar uma ampla gama de sintomas, incluindo fadiga, confusão mental, falta de ar, intolerância ao exercício e declínio cognitivo, que podem persistir durante meses ou até anos. Os cientistas e os médicos ainda não compreendem completamente por que algumas pessoas desenvolvem COVID longa enquanto outras não a desenvolvem.

A equipa de investigadores adotou uma abordagem abrangente, integrando dados sobre respostas imunes, marcadores virais, expressão génica (transcriptómica) e proteínas plasmáticas (proteómica) para desenvolver um perfil detalhado do sistema imunológico durante a COVID longa. Esta técnica “multiómica” permitiu aos investigadores comparar as respostas imunes e inflamatórias em pacientes com COVID longa às de pessoas nunca infetadas pelo SARS-CoV-2, às infetadas na fase aguda e a indivíduos que se recuperaram completamente.

Os investigadores estudaram duas coortes de pacientes, um grupo de 2020-2021 e um segundo grupo de 2023-2024. As amostras de sangue foram analisadas de três a seis meses após a infeção inicial por COVID-19 e novamente mais de seis meses após a infeção inicial. As análises revelaram diferenças claras em vias de sinalização específicas – séries de reações químicas que regulam todas as funções e atividades do corpo – que parecem ser as características da COVID longa.

Assim, os pacientes com COVID longa apresentaram sinais de inflamação crónica, depleção do sistema imunológico e alterações no metabolismo celular não observadas em pacientes que se recuperaram completamente da COVID-19.

Os investigadores verificaram que as pessoas com os sistemas imunológicos com maior inflamação no início da infeção também foram os mais propensos a enfrentar sintomas persistentes posteriormente. Isto pode indicar um sinal de que a luta inicial do corpo contra o vírus pode, em alguns casos, preparar o terreno para a COVID longa.

A integração de dados multiómicos proporcionou-nos uma visão unificada do panorama imunológico da COVID longa, permitindo-nos identificar vias-chave que podem ser alvos terapêuticos”, disse a investigadora Malika Aid, primeira autora do estudo. “Essa ponte entre dados e ação clínica é essencial para o avanço do cuidado ao paciente.”

Os investigadores também identificaram proteínas imunes e inflamatórias específicas, bem como assinaturas moleculares, que poderão servir como potenciais alvos para terapias destinadas a reduzir a inflamação crónica e restaurar a função imunológica saudável.

Agora, a equipa de investigadores iniciou um ensaio clínico de fase 2a com um medicamento já aprovado para a dermatite atópica, o inibidor de JAK1 abrocitinibe, de forma a avaliar a eficácia terapêutica de um dos principais mecanismos identificados no estudo.